PERFÍDIA

 

Perfídia

 

 

Numa maré grande de cobiça,

Uma vontade imensa se atiça,

Na sua mente onde ardia uma ordem,

Que lhe punha as ideias em desordem,

Para ter o que o seu amigo já tinha,

Mas algo em si se adivinha,

Uma infâmia famélica de vingança,

Que lhe amamentava a sua esperança,

Que a sua força não se cansa.

Queria o brio e a fama do seu amigo,

Que guardava há muito tempo consigo,

Cuja inveja lhe consumia a sua mente,

Para se colocar no lugar da frente.

Convida o seu amigo para saborear,

Um dia bem passado no mar,

Com a malfadada ideia de o matar,

E na altura certa para o fazer,

Uma voz oculta ouviu dizer,

Fala ao teu amigo da razão,

Da tua cruel e perfídia intenção.

A voz da consciência o obrigou,

E assim ao seu amigo falou:

Trouxe – te comigo para te matar,

Por inveja que ando a guardar,

Por gozares da importância que não tenho

Não mereço que olhes para o meu cenho,

Pega nesta arma e faz a tua vingança,

Acaba de vez com a minha esperança,

Cheia de amargura e de fracasso,

Não mereço que dê mais um passo.

O seu amigo com o coração magoado,

Abraça – o  e diz – lhe:  estás perdoado,

Vem comigo, vais conseguir aprender,

Como se deve aprender a viver,

Com a nossa força de vontade,

Sem ter a mais pequena veleidade,

De termos aquilo que não podemos,

E sem ódio ou inveja vivemos.

Pois uma desmedida ambição,

Pode levar – nos à traição,

Do nosso próprio eu que possuímos,

E de nós próprios fugimos.

 

 

Tavira, 16 de Julho de 2009 - Estêvão

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Friday, December 21, 2012 - 10:36

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José Custódio Estêvão

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