Canção de Embalar-me
Quase o Outono...
Todos os Sóis se põem dentro de mim.
Quase o Outono...
Os dias, as horas, a vida:
avançam, como cães famintos,
para dentro de mim.
Rebobino-me.
Vejo-me da Janela:
Sou
como sempre fui
toda a família
que resta de mim.
Um dia aprendi a jogar:
dei cartas
e perdi-me da vida que me estava destinada...
De mim
de mim
de mim
De mim: Porque sou animal.
Aceito-me. Sou um ponto final.
Sou animal: (e sou menos anjo)sou mais animal .
E por isso desejo.
Desejo.
E é o que quero para mim:
O desejo.
É o que quero que o outro sinta por mim:
o que não tenho:
O Desejo.
O Desejo.
O caralho do desejo.
O Desejo de quem está esfomeado,
fome de mim, sede do que vejo.
O Desejo.
O Filha da Puta do Desejo.
O Desejo...
O Desejo!
Ser único. Mas não sou,
nunca fui...
A caminho da genialidade
escolhi mal a estrada...
Sou hoje mais lúcido. Sou hoje mais normal.
Da varanda o mundo olha-me e sorri-me.
E eu desejo...
E imagino-me se fosse a chuva do mundo.
Depois alguém me pergunta: "E o meu livro?"
E nem sabe que hoje não, nesta hora não...
e o revolver fica assim... um pouco mais perto do sonho...
Adormeço-me nesta noite:
Sonho com os amigos que não tive (e não tenho)...
E por isso falo mais com o Papel.
Absolvo-me, embalo-me,
...drogo-me no veneno
desta Canção de embalar-me.
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Comments
Re: Canção de Embalar-me
Drogo-me nesta canção que me embala
Mto bom
Abraço
Re: Canção de Embalar-me
Sempre que nos propomos fazer contas à vida, dá nisto...
Felizmente, lê-se muito bem.
Felizmente, (se se tratar de uma crise pós-férias, deve durar umas 2 semanas - eu estou a recuperar).
Felizmente, és tu (ainda que te sintas normal).
Um bom poema, que sinto como reacção à pressão que, na volta de uns dias de descanso, é incompreensível.
Um abraço
deste amigo que também um dia (e outro) perguntou:
"E o meu livro?"
E não te esqueças que o Sol põe-se mais cedo, no Outono, para permitir que as folhagens se tinjam de cobre e docemente caiam, presenteando o poeta.
Re: Canção de Embalar-me
"Adormeço-me nesta noite:
Sonho com os amigos que não tive (e não tenho)...
E por isso falo mais com o Papel.
Absolvo-me, embalo-me,
...drogo-me no veneno
desta Canção de embalar-me."
Ricardo meu caro, tudo passa, pelo menos só te faltam amigos, tens amor, se te serve de consolo há tempos embalo-me o olho o mundo da janela sem sorrir, acabo por acostumar a dormir, sozinha, sento na varanda sinto o vento e vejo em um último momento as últimas estrelas dos meu olhos se apagarem, assim envelheço na vida, só embalando-me e torcendo que junto com a senilidade da idade venha a amnésia que me esqueça esta dor de viver só, sem amor e sem ser entendida, apena sendida, equivocada...e sem mais estrelas em meus olhos, apenas o negrume da insensatez povoando meu campo de visão.
Ixe, esse teu poema me calou fundo,
muito lindo, as vezes o amor produz coisas belas, mas a dor produz coisas estranhamente maravilhosas.
Re: Canção de Embalar-me
Depois alguém me pergunta: "E o meu livro?"
E nem sabe que hoje não, nesta hora não...
e o revolver fica assim... um pouco mais perto do sonho...
Tens toda razão meu amigo, amizades permanecem, livros? Lidos e esquecidos, ou no mín adormecidos...
E quem tem alma de poeta não é apenas em um livro que dedica sua poesia... mas constantemente a cada momento da vida...
Um grande beijo e que teu coração fique em paz