O crítico sensato.

Ele entrou no bar, e viu, já ébrio, o jovem poeta, tonto, ainda sobre o efeito da meia-garrafa de ego que havia bebido. O crítico então prestou atenção em suas mãos trêmulas e compulsivas, escrevendo quase que sofrendo, as confusas emoções que vinham de sua alma. O crítico, curioso com o frenezi do jovem poeta, pegou um texto que havia caído no chão, e, com a pretensão de ajudar-lhe, juntou o mesmo do chão, e devolveu-lhe. Não sem antes dar uma rápida lida (apenas para afagar a curiosidade).
Nos poucos versos que leu viu: figuras de linguagem, disgreções criativas, pensamentos originais, transcendência, estética, musicalidade e conteúdo. Porém, tudo em anárquica dança. Alguns escritos entrópicos cheios de energia e desorganização, com idéias, porém debatendo-se entre si a meio as observações pessoais tidas como originais e próprias. Reconhecia postulados já dissecados por antigos pensadores, colocados como pessoais pelo poeta diletante inculto que, ignorantemente, as achava próprias por desconhecer as letras dos grandes pensadores.
O crítico pensou: "Eis um criativo, pena que ébrio de seu ego". Devolveu a página ao jovem compulsivo poeta ignorante, subiu as escadas até seu quarto, e trouxe uma garrafa.
Sentou-se ao lado do jovem poeta:
-Permita-me dividir este nectar com o amigo?
Creio que te agradará, é antigo, amadurecido ao sabor do tempo, mas mesmo por isso eterno e revolucionário. Prove deste Baudelaire. Me digas o que achas?
O jovem poeta meio perplexo, estava já habituado com a embriaguez e ressaca do próprio ego, cedeu, até um pouco por pena e educação.
-Pois não senhor, afinal o que me custa?
Levou o cálice cheio de poesia ultrapassada do século retrazado à boca. Sentiu descer-lhe pela garganta o néctar do mais puro simbolismo.
O jovem poeta não disse nada, parou de escrever por um minuto enquanto seu olhos brilhavam com a nova experiência literária inebriante.
Então o crítico pensou: "Fiz meu trabalho, por hora... devo ter em algum local outra garrafa de Rimbauld ou Camilo Peçanha..."

Submited by

Saturday, August 15, 2009 - 01:02
No votes yet

analyra

analyra's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 11 years 44 weeks ago
Joined: 06/14/2009
Posts:
Points: 4569

Comments

Obscuramente's picture

Re: O crítico sensato.

*Braço no ar*

Bebedo: Presente!

Add comment

Login to post comments

other contents of analyra

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Dedicated Adoro tua voz ao amanhecer 13 4.443 03/12/2018 - 12:50 Portuguese
Poesia/Meditation Destino 7 3.216 04/16/2012 - 20:46 Portuguese
Poesia/Aphorism É amor!!!! 7 3.834 03/28/2011 - 17:18 Portuguese
Videos/Profile 441 0 5.445 11/24/2010 - 21:56 Portuguese
Fotos/Profile 3748 0 6.104 11/23/2010 - 23:41 Portuguese
Fotos/Profile 1908 0 5.160 11/23/2010 - 23:41 Portuguese
Fotos/Cities 1882 0 4.692 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1880 0 5.827 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1881 0 5.796 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1762 0 5.887 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1763 0 5.524 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1759 0 5.622 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1760 0 6.577 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1761 0 5.054 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1661 0 6.198 11/23/2010 - 23:40 Portuguese
Fotos/Profile 1291 0 7.063 11/23/2010 - 23:38 Portuguese
Prosas/Thoughts A poesia contemporânea. 0 4.224 11/18/2010 - 22:48 Portuguese
Prosas/Comédia Perfis e perfis... 1 3.687 08/31/2010 - 13:59 Portuguese
Poesia/Dedicated Declaração de amor 4 3.775 08/16/2010 - 21:44 Portuguese
Poesia/Joy Liberdade 6 4.431 08/01/2010 - 03:22 Portuguese
Poesia/Meditation A vida 5 4.346 07/30/2010 - 23:59 Portuguese
Prosas/Thoughts Eu tive um sonho ruim... 0 4.256 07/29/2010 - 15:56 Portuguese
Poesia/Meditation EROTISMO? 3 3.753 07/29/2010 - 05:34 Portuguese
Poesia/Love Esse mar 2 7.624 07/26/2010 - 03:42 Portuguese
Poesia/General Versos ao léu, realidade de papel. 5 3.243 07/25/2010 - 12:49 Portuguese