JOÃO GUIMARÃES ROSA - O MITO

No ano passado se comemorou o centenário de vida de um dos principais escritores do século passado: o brasileiro João Guimarães Rosa – nascido em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo/Minas Gerais, e morto em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro, depois de três dias de ter tomado posse na Academia Brasileira de Letras. Ele bem que sabia disso, pelo simples fato de que se considerava um homem visionário!!

Ainda menino em Cordisburgo aprendera francês e holandês, e alemão no colégio Arnaldo em Belo Horizonte e o aperfeiçoara na Faculdade de Medicina de Minas Gerais. Como médico foi clinicar em Itaguara, interior mineiro, e por dois anos teve contatos com vaqueiros e, fundamentalmente, com os ciganos – que se sentia fascinado pela linguagem destes. Clinicava pelas fazendas afora montado num cavalo, por léguas, e consultava os fazendeiros, às famílias e cobrava pelo preço de única consulta. E, inspirado, esboçava os contos que iriam fazer parte de um livro revolucionário na literatura brasileira: Sagarana, 1946. Antes, porém, recebera um prêmio da Academia Brasileira de Letras no volume de poemas intitulado: Magma, 1936, e somente publicado em 1997 – cujos poemas são enigmaticamente elegantes. Perdemos um excelente médico e ganhamos o escritor.

Assombrara o mundo com o seu romance, depois de dez anos, Grande Sertão: Veredas (em maio, 1956) e as novelas que compõem Corpo de Baile (fevereiro, 1956), este dividido em três livros: Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá no Pinhém e Noites do Sertão.

Na pequena e mística cidade de Morro da Garça – em pleno o coração do sertão mineiro – ainda os moradores comentam a comitiva do dr. João Rosa, que com ele vários vaqueiros chegavam com uma boiada de mais de trezentas reses vinda de Três Marias e conduzida até Araçaí, depois de Cordisburgo. João Guimarães Rosa, acabara de chegar da Alemanha no oficio de embaixador, deixava Manuelzão perplexo, amolado e instigava Zito com perguntas e anotações em cadernetas – coleta de dados – dependuradas com barbante no pescoço do escritor já consagrado com o livro Sagarana. Nesse ínterim, como laboratório lingüístico e estilístico – inovador – para escrever as obras relevantes, escrevera contos míticos como: Entremeio: Com o Vaqueiro Mariano e o Meu Tio Iauaretê.

Em agosto de 1962 publica Primeiras Estórias. O último livro escrito em vida do autor fora Tutaméia (Terceiras Estórias) de Julho de 1967. E, enfim, os livros póstumos organizados pelo ensaísta húngaro Paulo Rónai: Estas Estórias, novembro de 1969 e no ano de 1970 o livro Ave Palavra!

João Guimarães Rosa foi um menino míope conhecedor de línguas; o estudante que procurava livros sobre medicina em alemão; o soldado rebelde da Revolução Brasileira de 1932; o médico interiorano que gostava de ouvir casos; o embaixador na Alemanha, França e Colômbia; o escritor que misturava histórias suas – vivência e inspiração – com a dos outros personagens fictícios e reais vaqueiros que, intrinsecamente, tudo se fundia em amor, fé e sobrevivência. Aliás, como dizia o escritor de Cordisburgo que Literatura é Vida!!

Até hoje doutores em letras, tradutores e lingüistas das principais Universidades européias e do mundo se intrigam a imaginar que um escritor desse vulto magnânimo caminhou aqui no sertão de Minas Gerais.
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