As Selvagens (excerto)
(…) Era sem dúvida a melhor parte, quando todos riam e dançavam loucamente como se a noite fosse eterna e indestrutível. Outros, batiam cartadas que pareciam não ter fim e consequentemente os nós dos dedos massacravam impiedosamente a mesa redonda, larga e cambaleante, vestida de verde e preenchida com canecas de barro. Alguns cálices visivelmente usados e dois ou três cinzeiros cobertos por cigarros sugados e mortos baloiçavam com estardalhaço a cada pancada. Ali, o senhor Elvas era imbatível. Ali, ninguém ousava chacoteá-lo nem fazê-lo lembrar da grandeza de sua cobardia. Enquanto rodavam os outros lugares, o velho marinheiro permanecia sentado no seu lugar, soltando um à vontade de quem lidera uma espécie de batalha ou causa nobre, uma firmeza digna de um ditador insensível e silencioso.
Talvez por ter ficado com a vigília das crianças, um nervosismo ofegante contorcia-me a espinha e não conseguia ficar imóvel um segundo que fosse, ora mastigava a pastilha desenfreadamente ora arrancava pétalas secas das flores que ainda restavam e se poderiam aproveitar. Os miúdos, como sempre, pareciam realmente entretidos na balbúrdia de brincadeiras. O pequeno Joel e mais três gaiatos, meio curvados, suavam como homens adultos, pois faziam rodar os piões em simultâneo e gritavam por eles, cercando-os, como se tivessem qualquer coisa em jogo dependente da vitória do seu pião. As meninas pareciam cansadas e permaneciam muito bem comportadas em redor de uma mesa da janta, apenas três jogavam ao elástico. As outras contentavam-se com conversa e enrolar de cabelos, excepto Cecília, que trocava uma bola já bem rompida com os rapazes mais velhos.
Pareceu-me tudo controlado, Já não aguentava a ansiedade e resolvi afastar-me lentamente, sempre apreensiva, até chegar junto da pilha de rochas que estoqueava as ondas furiosas. (…)
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