Eu te amo, MERDA!!!!!
Mandei o diretor do manicômio tomar no cú sem metáforas ou eufemismos, melhor, foi "no meio do olho do cú", com acento no assento dele. Engoli as rimas, enrolei as firmas e limpei a merda toda com lágrimas. Mas não eram lágrimas tristes, eram lágrimas de raiva, daquelas que saem e quanto mais saem mais raiva dá e mais elas saem e queimam a face e o ranho escorre pela manga da camisa que usei de lenço sem me dar conta. Diz a pobre da técnica de enfermagem enfiada em um canto que eu parecia endemoniada, ela rezou para ver se eu voltava a medir meus 1,69 metros. Bati à porta com força, rezei um rosário de palavrões na cara do imbecil do diretor do hospital que acha que as vidas são estatísticas e números, e que meu cu é uma lata de lixo onde ele joga todos os papéis higiênicos usados para limpar as merdas expelidas pelos outros diversos cérebros iluminados que bafejam peidos a todo instante que passa um impulso elétrico por seu único par neurônios.
Saio batendo a porta.
As tábuas velhas do velho hospital tremem, devo estar com cara de possuída mesmo, as pessoas me olham como se eu fosse uma alienígena (Quem sabe? Talvez eu seja mesmo...).
Vou me demitir desta merda, botar a boca no trombone, denunciar todos os desmandos, colocar bosta no ventilador, enfiar uma porra de uma indenização trabalhista na boceta da freira só para ver ela revirar os olhinhos no gozo nunca sentido de um bom orgasmo, destes que se tem quando se é penetrada de uma vez só, sem dó nem piedade.
Saio, a secretária deixou o carro há duzentos metros, e chove forte. Meu sobretudo preto encharca e as calças jeans grudam nas botinas gelando a alma. Mas o sangue ainda ferve tanto que nem sinto. Enfio a mão no bolso na procura de um cigarro, não tem, parei de fumar quando descobriram que tenho uma coronária torta.
Entro no carro, a merda do carro está sem gasolina, na reserva não posso ir direto para casa. Passo no posto para encher o tanque porque a essa hora da noite não é bom ficar na estrada com chuva. Meia dúzia de peruas bem arrumadas de unhas feitas penduradas nos pescoços dos "playboys" ouvindo música sertaneja a toda altura me faz ansiar ardentemente por um fuzil ou talvez um lança chamas, me divirto com a imagem deles incendiando-se ao som de "rebolatixon xon xon", entro no posto, para pagar, uma fila do caralho, e o crocitar irritante de um projeto de perua na minha frente irrita-me de sobremaneira. "...estou pensando em colocar mais 180 mls de silicone, pois acho que assim não está bem e já vou fazer uma lipo no culote que aumentou 3 centímetros...". Eu penso, "eu sou uma merda mesmo, esse tipo de vaca que me sustenta..." Fico lembrando dos olhos triste da filha que não pode deixar o pai na unidade de terapia intensiva pois não tinha convênio e os leitos do SUS da UTI estavam todos ocupados. Sinto-me revoltada como nunca na vida. Olho para a vaca, na minha frente, olho bem, ela olha para mim com um olhar de macaca amestrada, daquelas de realejos, em sua saia de fru-fru branco "Oi doutora! A senhora não morre, estava pensando em aumentar meu peito..." "Acho que fazes bem, deverias logo por mais uns 200, afinal há de que se valorizar o que tem mais valor...", ela sorri, não entende a ironia, óbvio. Na verdade queria ter dito, "poderias colocar também dentro do crânio para não aborreceres os outros com o barulho do caroço de azeitona flutuando no vácuo inter-hemistérico dentro deste lugar que tens para pendurar os cabelos", mas isso ela também não entenderia.
Pago a gasolina, compro um Marlboro vermelho, e uma Skol, entro no carro, ainda estou pisando firme e com cara de louca, pois acho que todos estão me olhando com uma cara estranha. Fumo o cigarro de um trago só, me dá uma tontura, vou dirigindo mesmo assim. Chego em casa, a merda da cachorra pula toda feliz em mim e me enlameia toda de barro. Ligo as luzes em busca de alguém para desabafar a merda toda. É fim de semana sem as crianças, sem a secretária, não há ninguém em casa. Entro já me pelando, deixo o sobretudo no chão da lavanderia e o resto das roupas encharcadas, corro pelada pela casa com um frio da porra, passo a mão em uma garrafa de vinho embaixo da pia da cozinha, pego os cigarros, o isqueiro, um cálice, abro a geladeira para pegar alguma coisa para comer, fim de semana sem crianças, esqueci de ir ao mercado, sobra-me um pacote de bolacha água e sal. Ainda pelada corro para meu quarto, ligo o aquecedor, me enfio embaixo das cobertas com meu "notebook", um pouco de poesia para aliviar a alma, umas rimas melosas exaltando o amor, a dor, o fedor, o pavor, a merda da vida, o cu do bispo, o que seja lá o que for. Abro a caixa de e-mails, nenhum e-mail, depois daquele lindo poema erótico de amor que eu mandei a ele. Choro, choro por tudo, por nada, por mim, pelo mundo, choro as lágrimas tristes represadas nos olhos daquela pobre mulher que chorava agora provavelmente a morte do pai, choro pelos amores que não são vividos, choro pela loucura da minha mãe, choro pela ausência dos meus filhos, choro pela imbecilidade do meu ex marido, choro por todas as escolhas equivocadas que fiz na vida, choro pela imensidão desta casa que não me traz felicidade, choro por ainda estar viva e esta merda de vida não me dar trégua e ainda sorri para mim e diz: "Do que reclamas pequena burguesa? Podes ir para Europa a hora que queres..." Pego o telefone, nenhuma mensagem, nenhuma chamada, engulo um cálice de vinho sem saborear, fumo um marlboro em um trago só, pego o telefone, mando uma mensagem:
Eu te amo, MERDA!!!!
E morro...
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 1672 reads
Add comment
other contents of analyra
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicated | Adoro tua voz ao amanhecer | 13 | 4.203 | 03/12/2018 - 12:50 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Destino | 7 | 3.069 | 04/16/2012 - 20:46 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | É amor!!!! | 7 | 3.650 | 03/28/2011 - 17:18 | Portuguese | |
Videos/Profile | 441 | 0 | 5.311 | 11/24/2010 - 21:56 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 3748 | 0 | 5.832 | 11/23/2010 - 23:41 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1908 | 0 | 4.880 | 11/23/2010 - 23:41 | Portuguese | |
Fotos/Cities | 1882 | 0 | 4.577 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1880 | 0 | 5.672 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1881 | 0 | 5.648 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1762 | 0 | 5.752 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1763 | 0 | 5.353 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1759 | 0 | 5.339 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1760 | 0 | 6.328 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1761 | 0 | 4.740 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1661 | 0 | 5.935 | 11/23/2010 - 23:40 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1291 | 0 | 6.844 | 11/23/2010 - 23:38 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | A poesia contemporânea. | 0 | 4.129 | 11/18/2010 - 22:48 | Portuguese | |
Prosas/Comédia | Perfis e perfis... | 1 | 3.372 | 08/31/2010 - 13:59 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Declaração de amor | 4 | 3.483 | 08/16/2010 - 21:44 | Portuguese | |
Poesia/Joy | Liberdade | 6 | 4.153 | 08/01/2010 - 03:22 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | A vida | 5 | 4.131 | 07/30/2010 - 23:59 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Eu tive um sonho ruim... | 0 | 3.915 | 07/29/2010 - 15:56 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | EROTISMO? | 3 | 3.541 | 07/29/2010 - 05:34 | Portuguese | |
Poesia/Love | Esse mar | 2 | 7.445 | 07/26/2010 - 03:42 | Portuguese | |
Poesia/General | Versos ao léu, realidade de papel. | 5 | 2.903 | 07/25/2010 - 12:49 | Portuguese |
Comments
Re: Eu te amo, MERDA!!!!!
um pouco de poesia para aliviar a alma...
A minha admiração pela tua escrita não é de hoje mas esta foi uma leitura maravilhosa fabulosa e tantas outras osas,.
Ana, tantas imagens que vi, e a taxa sempre arreganhar,rs, por outro lado a profundidade que imprimes...ficaria aqui o dia todo a elogiar, não me lembro nestes tempos mais recentes de ter tido tanto prazer numa leitura como esta "Eu te amo, MERDA!!!!"
Beijo
Re: Eu te amo, MERDA!!!!!
Eu admiro demais o jeito que escreves também, bem como a temática.
GRANDE ABRAÇO.
Re: Eu te amo, MERDA!!!!!
Minha querida trovoada, tu és um must mesmo "furibunda" tens um piadão daqueles!!!!
tenho que citar esat paret q me fez rebolar a rir:
"Na verdade queria ter dito, "poderias colocar também dentro do crânio para não aborreceres os outros com o barulho do caroço de azeitona flutuando no vácuo inter-hemistérico dentro deste lugar que tens para pendurar os cabelos", mas isso ela também não entenderia."
De facto há dias de ... Merda!!!
Beijinho grande em ti e um pontapé solidario no rabo do parvo do director!!
Inês
Re: Eu te amo, MERDA!!!!!
Compreensivos e bem mais calmos eram os dias que passavas sem fumar.
Este texto és tu, forte, sonante e de personalidade vincada. Simultaneamente de lágrima despedaçada pela solidão do minuto.
Muito bom o desabafo