"Spleen" e charutos - O poeta moribundo

Poetas! amanhã ao meu cadáver
Minha tripa cortai mais sonorosa!...
Façam dela uma corda e cantem nela
Os amores da vida esperançosa!

Cantem esse verão que me alentava...
O aroma dos currais, o bezerrinho
As aves que na sombra suspiravam
E os sapos que cantavam no caminho!

Coração, por que tremes? Se esta lira
Nas minhas mãos sem força desafina,
Enquanto ao cemitério não te levam,
Casa no marimbau a alma divina!

Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.

Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... E devo então dormir com ela?
Se ela ao menos dormisse mascarada!

Que ruínas! que amor petrificado!
Tão antediluviano e gigantesco!
Ora, façam idéia que ternuras
Terá essa lagarta posta ao fresco!

Antes mil vezes que dormir com ela,
Que dessa fúria o gozo, amor eterno
Se ali não há também amor de velha
Dêem-me as caldeiras do terceiro Inferno!

No inferno estão suavíssimas belezas,
Cleópatras, Helenas, Eleonoras...
Lá se namora em boa companhia,
Não pode haver inferno com Senhoras!

Se é verdade que os homens gozadores,
Amigos de no vinho ter consolos,
Foram com Satanás fazer colônia,
Antes lá que do Céu sofrer os tolos!

Ora! e forcem um'alma qual a minha,
Que no altar sacrifica ao Deus-Preguiça,
A cantar ladainha eternamente
E por mil anos ajudar a missa!

Submited by

Tuesday, April 14, 2009 - 01:02

Poesia Consagrada :

No votes yet

AlvaresdeAzevedo

AlvaresdeAzevedo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 21 weeks ago
Joined: 04/14/2009
Posts:
Points: 303

Add comment

Login to post comments

other contents of AlvaresdeAzevedo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Fotos/Profile Alvares de Azevedo 0 1.979 11/24/2010 - 00:37 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Noite na Taverna (Capítulo IV — Gennaro) 0 2.096 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Noite na Taverna (Capítulo V — Claudius Hermann) 0 2.556 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Noite na Taverna (Capítulo VI — Johann) 0 1.937 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Noite na Taverna (Capítulo VII — Último Beijo de Amor) 0 1.534 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Macário - Introdução 0 1.475 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Macário - Primeiro episódio 0 1.232 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Macário - Segundo episódio 0 1.284 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Sombra de D. Juan 0 1.343 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Na várzea 0 1.252 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General O editor 0 1.482 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Oh! Não maldigam! 0 1.740 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Dinheiro 0 1.438 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Adeus, meus sonhos! 0 1.463 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Minha desgraça 0 1.560 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Página rota 0 1.280 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Noite na Taverna (Capítulo I — Uma noite do século) 0 1.567 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Noite na Taverna (Capítulo II — Solfieri) 0 2.050 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Tale Noite na Taverna (Capítulo III — Bertram) 0 3.109 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Panteísmo 0 1.151 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Desânimo 0 1.225 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General O lenço dela 0 1.304 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Relógios e beijos 0 1.570 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Namoro a cavalo 0 1.683 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Pálida imagem 0 1.334 11/19/2010 - 16:52 Portuguese