Uma Véspera de Reis - Cena VII

Cena VII

Emília, Alberto, Reis e Bermudes

Bermudes (Sem reparar em Emília, bem como Reis) - Você está num casão, compadre. Quanto paga por isto?

Reis - Trinta mil réis.

Bermudes - Tem purrões? (Senta-se junto à mesa.)

Reis - Não, mas aqui a Vizinha da esquerda tem, e é quanto basta. (Outro tom.) Compadre, você vai para o sótão... para o quarto do Antonico, seu afilhado...Aquilo por lá é fresco... há de gostar...

Bermudes - E onde está ele?

Reis - O sótão? É lá em cima... É só subir...

Bermudes - Não; o Antonico.

Reis - Pois não lhe mandei dizer que foi para a Corte? Lá está na escola... escola... Ora diabo! esquece-me sempre o nome da tal escola... (Repara em Emília.) Ó Milu! estavas aí? Antes de me tomares a benção, dize cá: como é o nome da escola em que está teu irmão, lá no Rio de Janeiro?

Emília - Politécnica.

Reis - É isso... é isso... Poli...

Bermudes - ...técnica. O nome é danado.

Reis (Dá a benção a Emília, abraça-a e beija-a na testa.) - Deus te faça santa! (A Bermudes.) Aqui está minha filha, compadre; você não a conhece; quando veio da última vez à cidade, ela estava na Providência. Milu, tome a benção ao compadre de papai...

Bermudes - Qual a benção! Venha de lá um abraço ao velho amigo de papai e mamãe. (Ergue-se.) A iaiá não faz idéia como éramos camaradas quando papai morava em Camamu. (Abraça-a.) Éramos a corda e o caldeirão... já lá vão uns bons vinte anos.

Emília - Papai fala-me muitas vezes em vossemecê.

Bermudes - Pois não havia de falar? Entendíamo-nos perfeitamente! Camaradas em tudo: chapas combinadas para as eleições, gostos iguais, etc.; etc.! Que bons tempos! O que diz, compadre?

Reis - Mas ainda você não me disse nada da pequena.

Bermudes - Pois que lhe hei de dizer? (Graceja.) É muito feia... muito desajeitada...(Abraça-a de novo.) Eh, eh! Mentira, iaiá! É um anjinho de Nossa Senhora. (A Reis.) Está satisfeito?

Emília (Enquanto Bermudes a abraça, a Reis.) - Isso é debique de seu compadre, não é, papai?

Reis - O que eu sei é que és uma rapariga de muito juízo...

Emília (Á parte, olhando com intenção, para o esconderijo de Alberto.) - Se ele soubesse...

Bermudes - Mas onde está encantada esta comadre?...

Reis - Vais chamar mamãe, Milu, dize-lhe quem está cá...

Emília - É já, papai. ( Vai saindo.)

Reis - Olha: leva isto lá fora. (Entrega-lhe chapéus e guarda sóis seus e de Bermudes; Emília sai, olhando para o esconderijo de Alberto.)

Bermudes (Vendo-a sair.)- Ora quem havia de dizer? Está uma moça, hein? Isto é que me faz velho... (Senta-se.)

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Wednesday, April 15, 2009 - 23:40

Poesia Consagrada :

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