POR MINHA CULPA TÃO GRANDE CULPA

Viver-me é um medonho quanto,
um desmaio do chão ao céu espanto.

Ausência é o que não fiz.

Sentir-me é um quesito mesquinho de tempo,
mea culpa de Satanás amnistiado.

Ruído é o que não disse.

O caminho do ser medra aos pés noivados
de pão e vinho à boca das covas.
Rés vezes de pedra soletrada
em luar de proa sem barco,
parco estar este não sei onde ser.

Saudade é a distância que não pisei.

Padece a fantasia no covil dos cornos
que se abaixam açoite na cicatriz
de folhas em branco.

Solidão é os risos que não dei.

Adormece a noite cantada de acontecer,
o dia folga na maré da alma onde o corpo
fica esquecido além por ir.

Atlântidas por descobrir são Midas no meu dormir.

Sono é o que não amei.

Idas sem volta, diabos à solta
na frieza dos lábios, desertos sábios
ensinam a palavra infinito.

Acendo ascender à morte.

Ventos pavios, violinos navios a navegar o norte.

Sabedoria é o que não sei.

Sobram sombras no berço da voz
quando o silêncio é um rio parado
na viuvez das margens.

Amores são viagens pela imortalidade.

Tropelia é o que não decidi.

O sol é um sapato que trago calçado para sonhar.

Acordar é uma pedrinha que me descalça dos sonhos.

Eu é quem não conheço.
 

Submited by

Tuesday, January 18, 2011 - 22:31

Prosas :

No votes yet

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 45 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Comments

vitor's picture

Viver-me é um medonho

O que não fiz.
mea culpa
este não sei onde ser
os risos que não dei
o que não amei
é o que não sei
é o que não decidi

Eu é quem não conheço.

Modo fantástico de confessar
as nossas dúvidas...

Abraço.

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts DA POESIA 1 13.958 05/26/2020 - 22:50 Portuguese
Videos/Others Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 58.837 06/11/2019 - 08:39 Portuguese
Poesia/Sadness TEUS OLHOS SÃO NADA 1 11.596 03/06/2018 - 20:51 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 14.034 02/28/2018 - 16:42 Portuguese
Poesia/Thoughts APALPOS INTERMITENTES 0 12.060 02/10/2015 - 21:50 Portuguese
Poesia/Aphorism AQUILO QUE O JUÍZO É 0 14.295 02/03/2015 - 19:08 Portuguese
Poesia/Thoughts ISENTO DE AMAR 0 11.004 02/02/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Love LUME MAIS DO QUE ACESO 0 13.552 02/01/2015 - 21:51 Portuguese
Poesia/Thoughts PELO TEMPO 0 10.901 01/31/2015 - 20:34 Portuguese
Poesia/Thoughts DO AMOR 0 11.510 01/30/2015 - 20:48 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SENTIMENTO 0 10.659 01/29/2015 - 21:55 Portuguese
Poesia/Thoughts DO PENSAMENTO 0 16.374 01/29/2015 - 18:53 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SONHO 0 11.656 01/29/2015 - 00:04 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SILÊNCIO 0 11.097 01/28/2015 - 23:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DA CALMA 0 13.329 01/28/2015 - 20:27 Portuguese
Poesia/Thoughts REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 8.404 01/27/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Thoughts MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 13.704 01/27/2015 - 15:59 Portuguese
Poesia/Aphorism NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 11.808 01/26/2015 - 19:44 Portuguese
Poesia/Thoughts SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 11.666 01/25/2015 - 21:36 Portuguese
Poesia/Thoughts MIGALHAS DE SAUDADE 0 11.931 01/22/2015 - 21:32 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 9.741 01/21/2015 - 17:00 Portuguese
Poesia/Thoughts PALAVRAS À LUPA 0 8.721 01/20/2015 - 18:38 Portuguese
Poesia/Thoughts MADRESSILVA 0 8.003 01/19/2015 - 20:07 Portuguese
Poesia/Thoughts NA SOLIDÃO 0 12.572 01/17/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Thoughts LÁPIS DE SER 0 12.531 01/16/2015 - 19:47 Portuguese