O meu olhar, de O Guardador de Rebanhos - II (Fernando Pessoa)
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), In: O Guardador de Rebanhos, parte II.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 6103 reads
other contents of AjAraujo
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicated | Auto de Natal | 2 | 4.324 | 12/16/2009 - 03:43 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Natal: A paz do Menino Deus! | 2 | 5.980 | 12/13/2009 - 12:32 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Uma crônica de Natal | 3 | 4.654 | 11/26/2009 - 04:00 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Natal: uma prece | 1 | 3.483 | 11/24/2009 - 12:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Arcas de Natal | 3 | 6.271 | 11/20/2009 - 04:02 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Queria apenas falar de um Natal... | 3 | 7.153 | 11/15/2009 - 21:54 | Portuguese |
Add comment