CORPO AO MAR


Pastos de fogo são as distâncias
que me desambientam a alma por nenhures.

Prados que não queimam diante a chama
que o poema ateia, entrelinhas em cinza sofrida.

Criança velha é a minha hora de minutos adultos à deriva.

Segundos que chegam primeiros
ao cume que a voz eriça nesta liça de marés por navegar.

Corpo ao mar, superfície
de olhos pedidos à tela por pintar.

Olhares perdidos no paladar de um beijo por saborear.

À terra, espero-me um rio a jusante da secura do passado.

Ontem em que não me tive por lá,
hoje em que me procuro por aqui e acolá,
amanhã em que sei lá por onde me vejo por aí.

Templos onde cada pedra é um céu por voar.

Azuis tempos de persiana corrida onde a janela eram outros.

Cortinas negras
em que terceiros me amortalhavam
como se eu fosse um peixe no aquário do pensar deles.

Eles que eram edifícios de frentes escondidas,
fachadas cobiçosas de onde o meu sol se ausentava.

Recordações são agora
maus agoiros num livro de pressas,
bolas de cristal baço em leitura velhaca.

Aprendi por mim próprio
caminhar comigo ao meu encontro,
soube ser-me o ricochete que me faltava.

Tribuna de silêncio, ser poeta, ser eu.

Mortes mil num ai,
perpétuas musas num suspiro,
luas infindas a cada letra soqueada no peito,
palavras nuas de milhões dizeres calados o grito.

 

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Monday, May 9, 2011 - 18:49

Poesia :

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Henrique

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Muito lindo seu

Muito lindo seu texto,

Deixe-me dizer-lhe que o artísta vagueia em seus tormentos e medos, agoiros e desesperos; não deixando que o passado interfira mas sim se elumine para um futuro melhor. Afinal o poema aponta o carreiro de toda uma vida. Muito lindo na sua profundidade.

Amigo, parabéns pelo seu lindo trabalho, como uma façanha nas badaladas do coração. Gostei de tudo mas em especial a estrofe:

"Azuis tempos de persiana corrida onde a janela eram outros."

Como uma linha aberta a muitos caminhares aonde,

Todos os passos caminhados apontam sobre o clamor, dívino, da caridade.

Gostei de te ler.

Abraço.

 

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