Carta ao senhor Fernando
QUARTA-FEIRA, 11 DE MAIO DE 2011
Caro senhor Fernando do Brasileira.
Desde há algum que estou restrito das ruas, dos cafés, dos bares e das belas praças.
Tudo porque deixei de frequentar as bibliotecas, de seguida as livrarias eram impossíveis, sobrevivo a passear por alfarrabistas antes da hora de fechar.
Em outros tempos era assíduo senhor das bibliotecas, e elas minhas boas amigas, até que começaram a ver que eu não deixava os livros voltarem ás suas casas, foi então que começou uma perseguição à minha pessoa, os directores destas instituições publicas começaram a trocar impressões entre si sobre a minha pessoa, começaram a perceber que faltavam demasiados livros, toda essa falta indicava sempre a mesma pessoa, eu.
Começaram a organizar-se e a passear pelas livrarias, fizeram uso dessa massa humana que são os bibliotecários e os seus seguidores, depois contactaram as editoras, foi num ai, quando dei por mim estavam pessoas estranhas de óculos a seguirem-me no meio de estantes empoeiradas, cheguei a encontrar chips entre a contra-capa para tentarem localizar o tesouro dos meus livros emprestados...
Não posso ter culpa de não devolver os livros, quando vou a uma biblioteca escolho o órfão lá localizado e adopto-o, trato cada página como minha, cada letra acariciada e suspirada numa palavra bem dita, todo lido em voz alta. Que culpa posso ter se não os devolvo?
Sabe-se lá o que podem essas pestes que por ai andam fazer aos pobres órfãos, um livro de uma biblioteca. coitado, não merece esses destinos, ficar abandonado no meio de um velho edifício à espera meses e meses de que alguém lá vá, olhe para ele, o consulte e devolva à prateleira sem criar algum carinho que seja pelas suas páginas amareladas.
Como disse lá vou sobrevivendo nos alfarrabistas que me compreendem, e ás vezes até me enviam os livros para casa, mas este acto heróico destruiu-me a vida, acabaram-se as turtulias, há meia dúzia de chefes das elites que repudiam estes meus actos impossibilitando o contacto humano ou as tardes que passávamos nos cafés bebendo a discutir ou simplesmente passando o tempo olhando os transeuntes.
Peço desculpa pela minha ausência forçada, mas tem razão de ser, é algo que certamente uma pessoa como você irá compreender.
Espero que os livreiros se esqueçam, quando tal acontecer terei o maior prazer em dar uma volta pelo chiado e voltar a encontrar-me consigo e talvez dar um passeio na Bertrand.
Cumprimentos
José Francisco Marques
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