CAMINHAR SOBRE OS LODOS DO PASSADO


A solidão que procuro em mim,
é uma escalada falsa e fria.

Tal Outono se espalhasse sombrio
no cinzento das palavras ácidas de dizer,
doces por dizer, friamente ditas, eruditas.

É tinta que não pinta, que não se move, morta.

Tal Afrodite deixasse de ser Deusa
e o amor fosse uma árvore de mármore, lágrimas.

É tinto que não embriaga
a sede do sentimento, ar que não voa.

Tal lume sem fogo
soltasse fumos de paixão enjoativa,
noites escaladas qual gume me beijasse.

É barriga sem boca,
fome tóxica num frasco de memórias
fora do seu prazo de validade, vísceras rudes.

O silêncio que procuro em mim,
é vento que esculpe na poesia cumes perfeitos, sem forma.

É peso que não pesa na balança do grito acontecer,
ontem sossego, hoje ruído, amanhã não sei.

É amar de qualquer maneira
o que se ama num destino espumante,
destilado das pétalas das rosas, floresta de ódio.

Voz pouco falante
no decote da noite que me come os olhos.

Tal lua fosse as mandíbulas de um tubarão,
serão sem causa.

É cetim áspero que alimenta a vontade de chorar,
a vontade de morrer, de morar em nenhures.

Tal água não molhasse o rosto.

A verdade que procuro em mim,
é uma tábua de sol que me cega a alma
e me ajuda a caminhar sobre os lodos do passado.

É janela aberta
aos estorvos que perfumam o dia-a-dia
com pólen que me encoraja o ego, que me abre o abismo.

São horas escravas,
geleia demorada no pensamento
aquando o olhar me alarma aromas doces e acres, amar.

 

Submited by

Sunday, May 22, 2011 - 00:00

Poesia :

No votes yet

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 28 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts DA POESIA 1 13.761 05/26/2020 - 23:50 Portuguese
Videos/Others Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 57.757 06/11/2019 - 09:39 Portuguese
Poesia/Sadness TEUS OLHOS SÃO NADA 1 11.396 03/06/2018 - 21:51 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 13.818 02/28/2018 - 17:42 Portuguese
Poesia/Thoughts APALPOS INTERMITENTES 0 11.817 02/10/2015 - 22:50 Portuguese
Poesia/Aphorism AQUILO QUE O JUÍZO É 0 14.170 02/03/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Thoughts ISENTO DE AMAR 0 10.784 02/02/2015 - 21:08 Portuguese
Poesia/Love LUME MAIS DO QUE ACESO 0 13.400 02/01/2015 - 22:51 Portuguese
Poesia/Thoughts PELO TEMPO 0 10.601 01/31/2015 - 21:34 Portuguese
Poesia/Thoughts DO AMOR 0 11.343 01/30/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SENTIMENTO 0 10.435 01/29/2015 - 22:55 Portuguese
Poesia/Thoughts DO PENSAMENTO 0 16.139 01/29/2015 - 19:53 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SONHO 0 11.474 01/29/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Thoughts DO SILÊNCIO 0 10.892 01/29/2015 - 00:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DA CALMA 0 13.097 01/28/2015 - 21:27 Portuguese
Poesia/Thoughts REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 8.167 01/27/2015 - 22:48 Portuguese
Poesia/Thoughts MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 13.486 01/27/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Aphorism NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 11.725 01/26/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/Thoughts SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 11.450 01/25/2015 - 22:36 Portuguese
Poesia/Thoughts MIGALHAS DE SAUDADE 0 11.736 01/22/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Thoughts ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 9.607 01/21/2015 - 18:00 Portuguese
Poesia/Thoughts PALAVRAS À LUPA 0 8.482 01/20/2015 - 19:38 Portuguese
Poesia/Thoughts MADRESSILVA 0 7.922 01/19/2015 - 21:07 Portuguese
Poesia/Thoughts NA SOLIDÃO 0 12.327 01/17/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Thoughts LÁPIS DE SER 0 12.324 01/16/2015 - 20:47 Portuguese