FIZ NAS PALAVRAS O CAMINHO


Fiz nas palavras o caminho
para silenciar a distância, ouvir-me.

Amargas e doces, adultas.

Usei a dor como vento para afastar as nuvens.

Fui arco-íris, trovão e bonança.

Deixei que o frio me acordasse
das insónias da saudade.

Mergulhei no mundo, fui flora e fauna.

Ocultei os olhos em lágrimas intocadas
para que a ilusão não me enganasse.

Fui folha de Outono quando não acreditei em mim.

Praia deserta sobre sóis imóveis
quando o amor foi menos que a brisa do meu sofrer.

Não fui nada quando as sombras do Verão
eram o meu grito.

Caí sobre o tempo como chuva de Inverno.

Sem abrigo para o desejo das minhas mãos
quando quiseram tocar a imortalidade.

Sem cais para o meu corpo
quando os sonhos eram glaciares.

Soube satisfazer a minha boca
quando a Primavera chegava em lábios lindos.

Beijei flores, semeei mil amores.

Mas foi o silêncio
que calei na distância o meu poema.

Foram as palavras o meu ser,
o meu acontecer em verso eterno, o meu ninho.

Parti de nenhures sem me conhecer,
cheguei homem a algures que ainda não conheço.

 

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Tuesday, June 21, 2011 - 14:04

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