Correndo para o abismo
Correndo pela cidade sem ter a mínima ideia de como parar ou voltar atrás. Foi assim que
começou a minha viagem surpreendente. Não sabia porque corria, mas ia cada vez mais rápido
e com menos tracção. Motos por todo o lado, lixo espalhado pelo chão, e até um tanque de
guerra pairava sobre um quintal, que antes tivera uma bela horta. Chocava com as pessoas que
passavam por mim: o merceeiro da esquina que usava um avental cheio de flores, a peixeira
ambulante, o vendedor de enganos, o profeta das ruas. Mas a velocidade aumentava cada vez
mais. Eu não mandava nos meus membros, nem na minha mente. Estava posto ali para correr sem
saber porquê. Sem ter tempo para parar e beber um café cremoso ou para respirar calmamente
a brisa junto ao miradouro. Corria, corria como nunca correra até então. A boca parecia
secar com sede, mas logo uma chuva copiosa se abateu sobre mim. Da pureza da chuva descobri
o aroma da água (amarga). Passaram muitos quilómetros, muitas avenidas, curvas e esquinas, muitas
pessoas com diferentes sentimentos. Mas ninguém corria como eu. Não era dia de maratona, não
era ladrão a fugir da polícia. Que era então? O futuro foi-se estreitando, o passado foi
pesando, acumulando-se nas falésias dos passos. Tudo terminou num ápice: Um subida íngreme,
duas pernas cansadas, um coração desolado... e uma coragem perdida. O fim da viagem para um
soldado inquieto. Mataste-me com o teu desprezo.
rainbowsky
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 3122 reads
Add comment
other contents of rainbowsky
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Fantasy | Fractura Angular | 3 | 1.021 | 03/03/2010 - 22:28 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | A curva melancólica | 7 | 831 | 03/03/2010 - 18:49 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Lápis-Lazúli | 6 | 781 | 03/03/2010 - 03:18 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Patético IX | 7 | 960 | 03/02/2010 - 22:07 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | A chuva no retrato | 8 | 916 | 03/02/2010 - 19:54 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | A razão | 9 | 598 | 03/01/2010 - 21:39 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Dimensões | 6 | 764 | 03/01/2010 - 19:02 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Morada | 3 | 670 | 03/01/2010 - 16:02 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Lapidar emoções | 5 | 790 | 02/28/2010 - 03:11 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Querendo... | 4 | 818 | 02/28/2010 - 02:38 | Portuguese | |
Poesia/General | A escada | 6 | 1.347 | 02/27/2010 - 21:18 | Portuguese | |
Poesia/Love | Todos os espaços | 5 | 724 | 02/27/2010 - 03:02 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O carpinteiro | 4 | 822 | 02/27/2010 - 02:22 | Portuguese | |
Poesia/Love | Amor | 6 | 789 | 02/26/2010 - 20:46 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Mundo de gigante | 8 | 961 | 02/25/2010 - 22:18 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Alfinetes do sono | 4 | 729 | 02/25/2010 - 13:08 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Soldado do coração | 2 | 921 | 02/24/2010 - 12:54 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | A noz oculta | 3 | 1.368 | 02/23/2010 - 17:46 | Portuguese |
Comments
Correndo sem olhar correndo
Correndo sem olhar
correndo sem destino
e caindo...
batendo aqui e ali nas esquinas da vida.
Fugindo das lembranças do passado
Encalhado no presente, que aos teus pés se abre.
A dor do amor desprezado.
Tinha tantas saudades tuas!
De te ler..
Beijos
Rainbowsky
Excelente prosa poética.
Beijo
Nanda