"Guardo a sede por um anjo" (Prosa Poética - Excerto)

" Queima-me… Rasga-me os lábios com a cor apaixonada e em laivos de insanidade pinta-te como loucura nos meus sonhos. A manhã é já nossa, uma outra frescura que nos banha e grita o quão loucos somos, rindo das noites que cortavam o corpo com a lágrima. Agora, somos selvagens e dançaremos como demónios em céus de rubros poentes, onde nasce a cortesia de ser ácido em mares de gentis prazeres e voa a ousadia de cantarolar paixão, a solene magia que vangloria as sentinelas que descobrem orgulho no infinito ou as ninfas e sátiros que conhecem a luxúria do fogo no coração.
Cortejados pelo singelo devaneio que nasce na alma quando as sombras são próximas e as dores surgem devagarinho, somos insanidade crescente onde a ternura torna a tudo feroz e, de repente, temos fogo nos corpos já nus… o frio indo embora por já nem à alma nos conseguir tocar.
Como suspiro estendido numa cama sem pudor, onde nada o desejo e tudo se chama tentação, vemo-nos felizes… sonhos descobertos como espelhos acariciados pelo que de belo é fulgor quando se desperta a rica cor, a melodia do teu sabor, um perfume que a inocência despe. E que me digas que já não há água nos teus olhos porque a minha sede busca somente os teus lábios, esse estonteado toque que troca solidão por prazer e reflecte paz ao adormecer… querendo a ti, elevando a mim, entrando em ti, respirando a mim, dentro e fora de ti…
A tua voz é a felicidade de um amor antes sonhado, onde vive o leve bálsamo de se ser paraíso e tudo tem o seu recanto colorido sem choro nem uivos à noite caída. E isto porque já não existem aquelas toscas feridas e eu já não sei como o abismo sentir enquanto a morte canta a sua luxuosa ode. Assim, neste dia, apenas sorrio, depois rio e venho-me no teu mar sabendo que o desejo é tão forte quanto a insanidade de, já em paz, louvar… o teu nome. "