O rosto do Vidro
Não ouço nenhum som,
Somente o silêncio
E tudo acontece silenciosamente dentro de minha mente
Mesmo sendo a imagem mais estrondosa
Como o mar revolto tentando romper as falésias,
Como cenas de uma guerra acontecendo no meu peito,
As bombas caem e explodem sem explosão
Os gritos são gritos agudos graves mudos
Tristezas são lágrimas que minha imaginação ouve
Como sendo leves gotículas caídas das folhas
Que acabam de receber a rajada chuva
O que sobrou duma chuva de granizo
Chuva ácida chuva
Chuva de bala chuva
Chuva de prata chuva
Chuva artificial chuva
Chuva ciclonal chuva
Chuva de meteoro chuva
Curva
Turva
Estúpida
E torno-me a arrancar a língua de meu devaneio,
Roço os topos das montanhas num sonho imperfeito.
Meu corpo cai no pasto em frente à disparada
Cavalgada estourada de cavalos
Mudo mudo tão mudo
Tão surdo surdo tão surdo
Nesse momento com os olhos fechados já não vejo
Somente escuto
O meu coração
Tum, tumtum tum tumtum tum tumtum
Tum tumtum tum tumtum tum tumtum
Tum tumtum tum tumtum
E,,,,
Os cascos são, não, não são, é,
Um solo de bateria dum concerto de Rock
Esmaga-me e atira-me para todos os lugares do mundo
Quebra-me o crânio e arranca-me os olhos
Deixa-me pensar e ver todas as coisas do mundo!
Aquele muro descascado
Aquele mesmo lodo negro escorrido...
O cimento apodrece e se esfarinha
Como cocaína a entrar pelas narinas
Para adormecer a garganta da voz do universo
Vou volto sou fui
Retorno para ser o que serei
Estou estive estarei
Permaneço para estar
Ando caminho
Movimento para ser o mecanismo da gigantesca máquina do tempo
Aquele telhado deixou de existir e de proteger as cabeças dos que querem existir, dos que querem dormir e acordar, dos que querem viver e sonhar, só que sonhos às vezes são pesadelos. Pobre casa sem telhas, pobres cabeças com telhas caídas, não podem pensar sem um telhado, assim estão vulneráveis querendo e comprando ambicionando e corrompendo suas almas.
O que tenho eu com as falésias e o mar?
Se nem tenho mar
O que tenho eu com o som de minha mente?
Se nem tenho mente
Se nem tenho som
O que tenho eu com guerras do peito?
Se nem tenho bombas
Se nem tenho gritos
Nem tenho tristeza
Nem chove nenhuma chuva
Que língua que devaneio
Que montanhas que cavalos
Que disparada, que coração?
Nunca fui nunca voltei não sou sempre vou
O que sou é o que sou
Para não retornar nunca mais
Quadros fotos e imagens
Margens rios e pedras
Todos são iguais e diferentes
Numa diferença no Olhar
Mas igualdade no Imaginar.
O frio é frio para a carne
O quente é quente para a carne que só quer se esquentar.
Eu quero sentir tudo o que devo sentir
Nem que isto me leve à morte
Encriso-me neste dia encrisado
Enlaço-me neste dia laçado
Desmorono-me neste dia desmoronado
Desenterrando, eu, vastas tolices
Num estupor aturdido confuso
Desenterrando, eu, vastas veias
Dentro da carne carneoduto
Estou urinando nos vidros quebrados
Do meu rosto
Repugno-me perante minha imagem partida
Propagada em traças pela luz labiríntica.
A morte vem em horas doces quando é bem-vinda...
Pernas sedosas estendidas sobre a orla do mundo
A dama Vida acorda na hora que a Morte vai dormir
Estalo de dedos nos passos da noite
As luzes da cidade ficaram turvas
A fumaça preta despejou o senhor pensamento para fora do bar
Raízes do céu brotadas nas mãos do firmamento
Em busca de um horizonte
Desesperado para adentrar nos olhos da noite...
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Comentarios
Re: O rosto do Vidro
Um texto inquietante, de busca e repugnação, de revolta e desilusão...um exasperar pela noite adentro
gostei bastante
abraço
Re: O rosto do Vidro
Vazio que me toma, vazio que te toma. nada resta a não ser as palavras e estas também tem deixado seu significado em terra. poesia inerte, talvez apenas assim seja o reflexo de nós mesmos em espelho negro do nosso interior. a lágrima já não nos cabe importãncia, as vezes somo impostores de nós mesmos apenas enganando a morte e tentando viver.
Cecilia Iacona
Re: O rosto do Vidro
Parabéns,
Gostei muito deste poema.
Um abraço,
REF
Re: O rosto do Vidro
UM LONGO TEXTO, COM TRISTES E LONGAS IMAGINAÇÕES POÉTICAS, VOU RELER, PARA MELHOR ENTENDER, FALTA-ME MUITA TARIMBA POÉTICA!
Meus parabéns,
Marne