Pedante Constante

Uauuuuuu, que colosso! Já viste que arquitectura, Bé?? Era apenas uma paragem de táxis, pensei. Saiu do carro embevecido e foi ter com um taxista sonolento que mastigava lentamente uma sandes de beterraba. Oiça, quem foi o arquitecto desta maravilha? O homem baixou o rádio que transmitia som local, "eu sei lá…vá perguntar à Câmara. Se quiser levo-o lá, são 5,01Euros."
Foi ter comigo e pediu-me 2,51 Euros e que me despachasse a entrar no táxi. Nem tive tempo de limpar o cadáver do insecto que tinha morto no carro dele com o dedo. Entramos apressados, sentei-me em cima de um saco de plástico e devo ter partido alguns ovos e juro que ouvi um sofrido “piu”. O homem conduzia ora com as mãos no volante, ora com as mãos na sande e cantarolava ao som do rádio. "É o meu sobrinho que está a cantar…tenho muito orgulho nele!" Devia ser o único a ter orgulho mais quem o fez e pariu. Chegamos à Câmara e o Diogo Luís cegou tudo e todos com a ânsia. Inserimo-nos numa sala bolorenta, da cor dos dentes de quem toma dez cafés e fuma cinco maços por dia. Uma senhora cabeluda, com hastes pelo rosto redondo, sobressaltou com a nossa entrada e pelo olhar inexpressivo do Diogo Luís. "Bom dia, como posso chegar à pessoa responsável pela paragem de táxis?" A senhora elevou-se de uma cadeira ruidosa, assoou o nariz e mordeu uma sande e meia de beterraba, "quem são os senhores?" Ajeitou uma haste partida ao mesmo tempo que fungava uma gripe. Sou um gajo interessado e culto pela cultura do meu país…quero que me diga quem arquitectou aquela obra aqui no meio de nenhures. A Dona Silvina Cueiros (estava escrito o nome numa placa em cima da secretária) vacilou a grandiosidade do Diogo Luís, "ai menino, num sei…vá ali ao primeiro andar, eu só atendo telefones." O Diogo Luís riu-se com ironia, "Não sabe?? Por favor, então põem gente aqui a trabalhar que não sabe nada? Como é possível? Você devia sim de estar a limpar casas-de-banho ou em casa a cozinhar em banho-maria para o seu Manel…gente do povo…chiça!" A D. Silvina retirou as hastes e antecipou um espirro, "olhe, vá apanhar na primeira sílaba do meu apelido, sim?" Voltou a sentar-se, a cadeira gemeu e continuou caminho seguindo os rastos da tinta que o tubérculo sangrava. O Diogo Luís não entendeu o insulto. Eu sim.

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Martes, Marzo 9, 2010 - 18:41

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Benedita

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Re: Pedante Constante

Sempre atenta! Ler as tuas fantásticas histórias pela manhã é: divinal!

Começo a ler, estou a rir;
Continuo a leitura a rir;
De repente ando perdida por tanto rir;
Termino a leitura após muito rir;

Gargalhadas pela manhã, sabem bem. :-D

Carla

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Re: Pedante Constante

Não sei se ultrapassa a ficção, mas que é bem real o contexto é!!!

:-)

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Re: Pedante Constante

Se cairmos na frase feita, tal como "A realidade é mais estranha que a ficção" tudo nos pode parecer real.
:roll:
beijos

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