Rafeiro de Marca

Levei o cão comigo a uma esplanada à beira-mar. O vento mutilava com desagrado a vista dos tons azulados e esverdeados do montanhoso mar. Em época sísmica temi que essa montanha de água veria a terra como uma auto-estrada. Sentei-me, cheia de frio e de vento, mas era a esplanada que eu queria, pronto! O Elias salta para o meu colo, a vibrar como um telemóvel. Segundo a segundo olhava-me tristemente, as pálpebras baixadas até à menina do olho, sem me ver (culpa da água do vento e do frio).

Elias: tenho frio! Já sabes que só gosto de vir para esplanadas no Verão. Não sei porque me torturas a vida...

Benedita: apeteceu-me vir aqui. Deu-me essa obsessão. Tu é que quiseste vir, não me podes ver sair de casa que a tua cauda logo desaparece e deitas-te na almofada que mais odeias.

Elias: mas sofro com este clima...nem consigo abrir os olhos e babo-me todo.

Perto das ondas espumosas, um jovem atirava um pedaço de árvore para a água e o seu cão corria como um ladrão de Bancos em direcção às ondas e trazia às mãos do dono o pedaço de madeira.

Benedita: estás a ver? Olha aquele ali da tua espécie, hein? Corajoso! Aquilo é que é um cão, não um panilas medroso como tu. Ele fura as ondas, fica encharcado e nem pia. És um sortudo, estás protegido com o colete almofadado aos quadrados e de marca, que a tia Zélia te ofereceu nos anos.

Elias: faltam o gorro e as luvas.

Empregado: boa tarde menina. Que vai ser?

Benedita: uma Coca-cola bem fresquinha e com três pedras de gelo, por favor.

Elias: eu queria ir para casa, por favor! Ao menos no Verão ainda se vêem umas cadelas. Hoje está pelas costuras de mesas vazias.

Insolente, o bicho! E mal agradecido (malagradecido). Encontrei-o abandonado, magro e mais sebento que a banha de porco que uso para fritar. Veterinário sempre que espirra ou rejeita um biscoito de queijo e presunto, rua todos os dias, nem que chovam alfinetes, comida fresca, lugar cativo no sofá, banho de quinze em quinze dias, desparatização e mimos e mais mimos! Nem tem a dignidade de se sacrificar por mim umas horas que sejam. Não. Basta! Não pretendo um cão mimado menino da dona.

Retiro do chão um pedaço de pinheiro, caminho pela areia, ele sempre atrás, claro!

Benedita: busca cão!

Corre para as ondas como o Carlos Lopes, desaparece no algodão destas e reaparece com o pedaço de pinheiro na boca entregando-mo nas mãos. O colete de "marca" da tia Zélia ficou de uma só cor, perderam-se os quadrados no mar. Marca? Marca tem o meu rafeiro!

Benedita: vá miúdo, vamos para casa acender a lareira.

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Lunes, Febrero 8, 2010 - 21:20

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Mais um bom conto dos teus!!!!

:-)

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