Lição de vida-6ºPARTE

Margarida, 19 anos
(Irmã de Ricardo)

Conheço a Inês desde sempre, ou melhor, julguei conhecê-la desde sempre.
Lembro-me de a conhecer ainda com 9 anos. Na altura eu já tinha 10 e comecei a fumar com a irmã dela quando tinha 13. Ela nem podia com o cheiro do tabaco, segundo nos dizia.
O meu irmão e ela sempre se deram bem. Mas foram precisos alguns anos para que se envolvessem. Eram ambos envergonhados.
Quando Ricardo começou a namorar com Inês, tínhamos quase 18, e ela consequentemente quase 17.
Eu e a Joana suspeitávamos que ela se drogava.
Porque Inês passou por várias “fases”, por assim dizer.
Lembro-me que ela tinha 14, haviam rumores de que ela andaria a snifar heroína e a fumar cocaína.
Joana ficou muitíssimo abalada quando ouviu estes rumores.
Nunca a tinha visto tão triste em toda a vida.
Agora, basta falar na InÊs que o olhar dela se torna vazio. A droga tornou-se um assunto quase que tabu entre nós. A Joana não o diz, mas de certeza que ela não gosta de falar neste assunto.
Diz sempre “Os drogados são escumalha. Deveriam morrer todos!” e neste grupo ela engloba a irmã.
Ela que tinha um amor imenso pela Inês. Ela metia as mãos no fogo por ela. Acreditava em tudo que saia da boca dela e no dia em que lhe perguntou se ela se injectava com heroína, nesta época ela já com 16 e ela lhe respondeu que não, Joana lutou contra tudo e todos. Fez frente a toda a gente porque acreditava na irmã.
Deixou de falar com grande parte dos seus amigos.
Na altura em que lhe disseram que ela se injectava e Joana confrontou-a com tal ao que ela negou a pés juntos, ela virou as costas a todos.
Chamou-os de invejosos e alcoviteiros. Disse mesmo que nunca mais queria falar com eles.
E isso aconteceu.
Deixou de falar com eles fiando que a sua irmã estava a dizer-lhe a verdade.
Um dia, e aí magoou-me até a mim. O Ricardo e a Inês namoravam á algum tempo quando a Joana deu com ela desmaiada na casa de banho com uma seringa cravada no braço.
Nós estávamos no Algarve quando isto aconteceu, mas no mesmo dia voltamos para cá.
Encontramos a mãe da Joana sozinha, na sala de espera.
O Ricardo foi logo falar com a enfermeira. Sempre tive a sensação que o meu irmão sabia que ela se drogava, mas ainda hoje ele jura-me que não sabia. Acho estranho, muito estranho.
Eles namoravam á pouco, mas sempre foram muito amigos. Continuo a achar que o Ricardo sabia que ela se injectava.
O certo é que a Joana não estava no hospital naquele dia.
Estava em casa, a embalar as suas coisas.
Quando fui falar com ela, ela disse-me que não queria mais viver com ela. Muito menos naquela casa e no mesmo dia alugou uma casa e mudou-se.