Bocados De Um Dia, Bocados De Vida

I

as palavras incham as aparências
e devastam o poder da televisão sobre nós.

não quero ser estampagens de revistas
com a vontade de alimentar os demais,
são rostos bravos o leito destas dicas e
jamais venderei o meu sangue como outros tais.

II

eu acreditava no passado
que no presente já não existe,
os prisioneiros de um coração morto
alimentam os seus dias com o que eu disse.
libertem-se,
libertem-se
ou não vêm mais vida
debaixo dos céus que nos limita?

o sangue é jovem e o tempo é cedo,
passaram milhares de anos
e o mundo não foi destruido.
envolve-te comigo, dá-me a mão
e cala o medo. o medo.
vivemos um tempo tardio para o medo,
o tempo é cedo.

III

chega de dinheiro, chega de caras pintadas,
estou farto que esta gente pela beleza
seja dominada.

III e meio

querem-nos levar para outro lugar,
onde todos podemos chegar.
quem nos mentiu ao dizer
que esta pele e este ser era especial?

Quase IV

o incesto é o desmancha prazeres
da virgindade há muito perdida.

III e Meio Novamente

vão-nos levar para outro lugar
e só sabemos que fica por baixo
deste escuro céu estrelado.

IV

chegámos ao grande ecrã
e eramos personagens.
estava calor e o anfiteatro
vivia quase vazio de pessoas.

começámos por caminhar escadas a baixo
e todo o silêncio começava a soar mais alto.
a apresentação foi feita
pela voz mais calada que já ouvimos:
"quem continua de pé,
rapidamente permaneça sentado.
vamos passar à amostragem de vidas
que nunca foram vividas, foram mentiras".

o som do movimento entrou-nos
na imaginação como uma semente
e fê-la crescer.
se crescer demais a cabeça rebenta,
não há tanto espaço para crescimentos
como nas nuvens onde o sol se esbate.

praias com problemas de isolamento,
a inserção social já chegou às coisas sem vida.

V

maço de cigarros
vives mais rápido do que eu.
acender um a um e fazer-te o funeral,
choras em cinzas bocados de ti
com um jeito sublime de te sacudir.
fazes parte de mim,
não te esquecerei.
o meu consumo nunca será esquecido.
e tu, consomes a vida ou
deixas que a vida te consuma?

caras de papel prontas a rasgarem
as facas afiadas que as cortam.

vidro-caraça, parte-te e espeta-me
bocados de mim, esboços em ti reflectidos,
um pouco demasiadamente baços.
estou incompleto, faltam-me esses bocados:
eu em fragmentos, em restos despedaçados:
eu em fragmentos em todos os lados.

VI

o hotel para lá do monte
dá vida à luz do sol por estar transpirado,
por estar molhado de sentir tantas vidas
mortas dentro dele. a morte nele.

toda a gente te ama, nova rapariga
toda a gente te ama, rapariga nova
és estranha na aldeia,
és a novidade em pessoa.

Hugo Sousa

Submited by

Sábado, Marzo 15, 2008 - 14:04

Poesia :

Sin votos aún

HugoSousa

Imagen de HugoSousa
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 13 años 24 semanas
Integró: 03/09/2008
Posts:
Points: 243

Comentarios

Imagen de Henrique

Re: Bocados De Um Dia, Bocados De Vida

Um belo pedaço de fantasias este poema!!!

:-)

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of HugoSousa

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Fotos/Perfil Eu há uns bons aninhos. 0 1.040 11/24/2010 - 00:34 Portuguese
Fotos/Perfil Outro eterno amor. 0 1.028 11/24/2010 - 00:34 Portuguese
Fotos/Perfil 119 0 1.224 11/24/2010 - 00:34 Portuguese
Fotos/Perfil 118 0 1.192 11/24/2010 - 00:34 Portuguese
Fotos/Perfil 117 0 1.279 11/24/2010 - 00:34 Portuguese
Prosas/Otros Árvore de Sanguessugas - III / Companhia de Sensações - I 0 769 11/18/2010 - 23:39 Portuguese
Prosas/Otros Árvores de Sanguessugas - I 0 822 11/18/2010 - 23:39 Portuguese
Poesia/General Não Sei, O Medo 0 917 11/17/2010 - 19:29 Portuguese
Poesia/General Vou Continuar 0 1.004 11/17/2010 - 19:29 Portuguese
Poesia/General Por Vezes Sim 1 635 02/25/2010 - 23:31 Portuguese
Poesia/General Minha Mulher Morta (Tendência dos Três M's) 1 766 02/25/2010 - 23:30 Portuguese
Prosas/Otros Hoje Não 1 890 02/24/2010 - 14:27 Portuguese
Prosas/Otros Dói-lhe Os Dentes - Parte I 1 1.051 02/24/2010 - 14:26 Portuguese
Prosas/Otros Dói-lhe Os Dentes - Parte II 1 874 02/24/2010 - 14:26 Portuguese
Prosas/Otros Gostamos De Cerejas, Arranca-me Os Olhos 1 962 02/24/2010 - 14:22 Portuguese
Prosas/Otros Mataram-me-te 1 1.164 02/24/2010 - 14:21 Portuguese
Prosas/Otros Companhia de Sensações - II 1 709 02/24/2010 - 14:15 Portuguese
Prosas/Otros Árvore de Sanguessugas - IV 1 945 02/24/2010 - 14:14 Portuguese
Poesia/General Sonhos Altos 1 729 02/24/2010 - 02:54 Portuguese
Poesia/General Nem No Cochão Existem Dias 1 652 02/24/2010 - 02:53 Portuguese
Poesia/General Sopro 1 625 02/24/2010 - 02:53 Portuguese
Poesia/General Anti 1 1.140 02/24/2010 - 02:49 Portuguese
Poesia/General Resto 1 730 02/24/2010 - 02:48 Portuguese
Poesia/General Morreu O Titulo 1 724 02/24/2010 - 02:47 Portuguese
Poesia/General Na Desistência Está A Virtude Quando Nada Vale A Pena 1 716 02/24/2010 - 02:46 Portuguese