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CANÇONETAS II

2

Aos annos da Senhora D. Maria do Carmo...

Roxeava no horisonte
Sereno, amoroso dia;
Rosas, e jasmins a Aurora
No puro céo desparzia.

De ameno matiz brilhante
A natureza esmaltada,
Não surgiu tão magestosa
No ponto em que foi creada.

Como que não satisfeito
O artifice divinal.
Primoroso, ultimo toque
Déra ao quadro universal.

Gorgeava em tom mais doce
O plumoso, aereo bando;
De ventos, flores, e rios
Era o murmurio mais brando.

Suas plantas se vestiam
De recendentes verdores,
Em tudo o mez das searas
Imitava o mez das flores.

Ganhava o mundo desperto
Força nova, novo ardor,
E em beneficio do mundo
Tinha madrugado Amor.

Suspenso o costume antigo
De velar na escuridade,
De cerrar cançados olhos,
Quando aponta a claridade;

Dormira o gentil menino,
Quando não usa dormir,
E chusma de affaveis sonhos
Lhe fôra em torno sorrir.

Da mãe no molle regaço
O deus volatil pousou,
Depois que o plano sublime
De estranha empreza ideou.

Qual era o desenho excelso,
Qual a grande, illustre empreza ?
Era dar mais luz, mais graça,
Mais prazer á natureza.

Era entornar sobre a terra
Os seus dons, e os da ventura,
Era eternisar um dia
Consagrado á formosura.

Peitar o sol, demoral-o
Sobre o Tejo cristallino,
A Jove extorquir o imperio,
Romper as leis do Destino.

Mal vê que renasce o dia,
Sáe dos lares de Amathunta;
Fugindo á mãe carinhosa,
Os tenros socios ajunta.

Facil não foi congregal-os,
Por mil partes desparzidos,
Aqui sorrisos soltando,
Além soltando gemidos.

Alguns descobre enredados
Nos laços vis da avareza,
A' prepotente fortuna
Sacrificando a belleza.

Alguns entre as labaredas
De ardente bruteza impura,
Ao negro vicio teimoso
Dando os premios da ternura.

Vê seus bens falsificados
Em um, em outro logar,
E ao longe co'as mãos nos olhos
A Verdade a suspirar.

Exhala um ai despeitoso
O menino encantador,
E recorda os tempos d'ouro,
Em que era virtude amor.

Depois de estar pensativo
Curto espaço o meigo deus,
D'esta arte ao extasi arranca
Os falsos ministros seus:

«Vinde, insanos delegados,
Que abusaes do meu poder,
Vinde n'uns olhos, que adoro,
Estudar, vosso dever.

«E tu, deusa profanada
De torpe, audaz vituperio,
(Diz para a triste Verdade)
Vem recobrar teu imperio.

«Tu por mim serás vingada
Dos não devidos insultos,
Em dous corações ligados
Verás os teus, e os meus cultos.»

Tremendo á voz poderosa
Salta o bando dos Amores,
E a denegrida deidade
Renova os seus resplendores

Brama o vicio abandonado,
E á turba debalde acenas,
Vil, cavilloso Interesse,
Que o cego mundo envenenas.

Pára em roda ao lindo chefe
O arrependido tropel,
E jura ás leis aggravadas
Nunca mais ser infiel.

Amor lhes dá n'um sorriso
Mostras de estar aplacado,
Na frente dos sócios vôa,
Vôa a Verdade a seu lado.

A terra não vem c'roar-se
De teus dons, benigna Flora,
Colhe as flôres, que semêa
No ethereo jardim a Aurora.

Eis d'ellas o côro alado
Num ponto grinaldas tece,
Tambem se enfeita a Verdade,
Que já de adornos carece.

Mutuamente engrinaldados,
Baixam pelos tenues ares,
E da Candida Marilia
Pousam ledos ante os lares.

Vinha assomando entre as graças,
Quando a manhã renascia,
E estranhava a Natureza
Duas auroras num dia.

«N'aquella (aos brandos sequazes
Diz Amor) aprendereis
A manter-me os puros gostos,
A zelar-me as dôces leis.

«Olha, Verdade lustrosa,
Dos céos adoravel filha,
Como o teu fulgor suave
N'aquelles encantos brilha.

«Em teu nome. em gloria tua
De Hymeneo cingi no altar
Corações incomparaveis,
Venturoso, amavel par.

«A quem me deu mil suspiros,
De mil glorias fiz senhor;
Ao mais extremoso amante
Dei o maior bem de amor.

«Hoje, que em nascer Marilia
Se alteou a esphera humana,
Hoje colherei triumphos
Até da commum tyranna.

«Hoje da terrivel Parca
O poder será coarctado:
Contra mim não tem valia
Leis de Jove, ou leis do Fado.

«A quem conferi thesouros,
Que não ha na humanidade,
Tambem cabe em. meus portentos
Conferir a eternidade.

«Vive, encanto do universo,
Vive sup'rior á Sorte;
Triumpha, reina commigo
Sobre o tempo, e sobre a morte.

«Quando os Fados subjugarem
O mundo em perpetuo somno,
E o cahos tenebroso, informe
Recobrar seu negro throno:

«Inda de graças c'roado,
De entre a desordem sombria,
Risonho, candido, illeso
Surgirá teu fausto dia.

«Entre os estragos da morte
Irás luzindo immortal,
Suprirá tua existencia
A existencia universal.

«Tenha dos céos o destino
Quem tem dos céos a belleza.»
Disse Amor, sorriu-se a nympha,
E sorriu-se a Natureza.

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domingo, setembro 20, 2009 - 23:43

Poesia Consagrada :

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Bocage

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