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VERSÕES LYRICAS III

Daplmis

(TraducçSo da Ecloga v de Virgilio)

Interlocutores: MENALCA E MOPSO

MENALCA

Já que n'este logar nos encontramos
Eu versado no canto, e tu na flauta,
Mopso, porque rasão nos sentamos
Entre estas avelleiras, cujas folhas
Quasi com as dos álamos se enredam ?
Morso
Tu és mais velho que eu, e a ti, Menalca,
Me cumpre obedecer. Ou descancemos
A sombra d'estas arvores, que tremem
Co'as frouxas virações, ou antes vamos
Para a gruta, que alli se nos offerece.
Olha como verdejam dentro n'ella
D'uvas agrestes pequeninos cachos!

MENALCA

Nos nossos montes disputaste a gloria
Pretende Amyntas só.

MOPSO

Não se presume
Capaz de até vencer no canto a Phebo ?

MENALCA

Eia, Mopso, começa. Ou saibas versos
Aos amores de Philis, alva, e loura,
Ou em louvor de Alcão, ou á contenda
De Côdro, do bom rei, começa. Entanto
Tityro cuidará dos nossos gados,
Que na varia planície andam pascendo.

MOPSO

Antes exp'rimentar uns versos quero,
Uns versos, que são meus, que inda outro dia
D'uma faia entalhei no verde tronco:
Ora os ía escrevendo, ora entoando.
Ouve, e dize depois ao fofo Amyntas
Que ouse, que venha disputar-me o premio.

MENALCA

Quanto o molle salgueiro ás oliveiras,
Quanto o rasteiro arbusto d'alfazema
Cede á belleza do rosal corado,
Tanto, a meu parecer, te cede Amyntas.

MOPSO

Basta, mancebo. Já na gruta estamos.
«Desgrenhadas as nymphas pranteavam
De morte lastimosa extincto Daphnis:
Vós fostes de seus ais, de seus lamentos
Testemunhas, oh arvores, oh rios,
Quando a pallida mãe tendo nos braços
O misero cadaver de seu filho,
Crueis aos céos chamou, crueis aos fados.
N'aquelles dias ninguem houve, oh Daphnis,
Ninguem, que fartos bois levasse ao rio,
E quadrupede algum n'aquelles dias
Não gastou agua, nem boliu na relva.
Té n'Africa os leões te deploraram,
Dizem-n'o os montes, dizem-n'o as flores.
Daphnis instituiu, mandou que o jugo
Ao carro submettesse armenios tigres;
Em honra a Baccho introduziu corêas,
E a revestir de pampanos os thyrsos
Ensinou aos pastores. Como as vides
Trepando são das arvores adornos,
E adornos são da vide os prenhes cachos;
Como servem de pompa, e de ufania
Ás manadas o touro, ao campo as mêsses,
Daphnis, eras dos teus o amor, a gloria:
Depois que os fados negros te levaram,
Pallés, e Apollo d'entre nós fugiram.
Estas nossas campinas, que abundavam
De barbadas espigas proveitosas,
Só brotam joio infesto, inuteis hervas.
Surge o cardo mordaz, a çarça aguda
Onde a molle violeta roxeava,
E o purpureo narciso. Oh vós pastores,
Mil folhas pela terra ide espargindo,
As frontes assombrae co'a rama agreste,
Daphnis quer que a memoria assim lhe honrem.
Um tumulo erigí gravae-lhe em cima
Estes saudosos versos : «Eu fui Daphnis,
«Das selvas conhecido até os astros,
«D'um bello gado guardador mais bello.

MENALCA

E divino poeta, é o teu canto
Suave para mim, como é suave
O dormir sobre a relva aos fatigados,
Ou qual ao encalmado, ao sequioso
Matar a sede em límpido regato,
Que vae por entre seixos murmurando:
A teu mestre és egual, não só na flauta
Mas no verso, e na voz. Feliz mancebo !
Tu lhe has de succeder no dom, na fama.
Nós com tudo, pastor, como podermos
Algum verso tambem soar faremos:
N'elle ás estrellas ergueremos Daphnis,
O teu Daphnis aos céos irá com elle,
Que Daphnis se dignou tambem de amar-nos.

MOPSO

Que prazer me darás maior que ouvir-te!
Daphnis é digno assumpto d'esses versos,
E ouvi a Stimicon louval-os muito.

MENALCA

«Do Olympo as aureas portas estranhando
Pasma em almo prazer o ingenuo Daphnis:
Vê debaixo dos pés nuvens, e estrellas.
Eis a doce alegria occupa os bosques,
Os valles, as montanhas, os pastores,
O arcadio Pan, as driades donzellas.
Nem o lobo ao rebanho insidias tece,
Nem a rêde traidora engana os cervos.
Daphnis ama o socego. Intonsos montes,
Mil vozes de prazer soltaes vós mesmos !
Proferem brando verso até rochedos,
E o trémulo arvoredo está soando:
Oh Menalca! Elle é deus!... É deus!... Oh Daphnis,
Sê benefico aos teus. Eis quatro altares
Eil-os, dous para ti, dous para Phebo.
Aqui te sagrarei todos os annos
Dous vasos, em que espume o leite novo,
Com outros dous tambem, nos quaes loureje
Da placida oliveira o grato sumo.
Baccho, fervendo em prodigos banquetes,
Com fogoso prazer ha de espertar-nos,
E á sombra no verão, no inverno ao lume
As taças encherei de Arvisio nectar.
A Damêtas, e Egon direi que entôem
Ledas canções, e os satyros saltantes
Ao leve Alphesibêo direi que imite.
Sempre serás por nós d'est'arte honrado,
Ou quando, amavel Daphnis, consagrêmos
Votos solemnes ás formosas nymphas,
Ou quando á roda dos nervosos campos
Co'as victimas andemos, como é uso.
Em quanto o javali na serra, em quanto
O peixe nadador folgar no rio,
Em quanto de tomilho a loura abelha,
E de orvalho as cigarras se abastarem,
Hão de permanecer por estes montes
Teu nome, o teu louvor, tua saudade.
Como a Ceres, e Baccho os lavradores
Todos os annos te farão mil votos,
E obriga-os tu, se acaso os não cumprirem.»

MOPSO

Que premio te darei, que valha os versos,
Os versos immortaes, que me encantaram ?
Tanto austral viração me não recrêa,
Nem d'um mar brando arêas açoutadas,
Nem o sussurro d'um arroio ameno,
Que serpêa entre valles pedregosos.

MENALCA

Eu te hei de preceder nos donativos.
Aqui tens esta flauta.. E' ella, oh Mopso,
Quem fez com que eu cantasse aquelles versos;
«O pastor Corydon, louco de amores,
«Pelo formoso Alexis suspirava» —
E os outros: «Esse gado a quem pertence ?
«Talvez a Melibêo?»

MOPSO

Pois tu recebe
Este cajado; tem de bronze o conto,
E eguaes os nós. Antigenes mil vezes
M'o pediu (e era então credor d'amar-se)
Mas, por mais que lidou, não pôde obtel-o.
A sepultura, ou a morte de Adonis
por Bion do Smyrna
(Vertido fielmente da traducção litteral em latim)
Chóro Adonis, é morto o bello Adonis,
E' morto Adonis, choram-no os Amores.
Não mais envolta nas purpureas vestes,
Não mais durmas, oh Venus! Eia, acorda,
E lutuosos véos trajando afflicta,
Fere co'a mão de neve o lindo peito,
Dize a todos: — E' morto o bello Adonis,
Eu chóro Adonis, choram-n'o os Amores.
Jaz na montanha Adonis, o formoso,
Mordidas de alvo dente as alvas carnes:
A triste Venus esmorece ao vêl-o
Ir exhalando os ultimos suspiros;
Sáe do golpe fervendo o rubro sangue,
Nevoa da morte lhe entorpece os olhos,
Foge dos labios a punicea rosa,
Vão-se com ella os deleitosos beijos,
Em que de gosto desmaiava a deusa.
Inda no moço amavel, já não vivo,
Dar osculo amoroso é dôce a Venus;
Mas Adonis (oh céos !) não vê, não sente
Que Venus infeliz o abraça, o beija;
Eu chóro Adonis, choram-no os Amores.
Adonis junto á candida cintura
Tem mortífero golpe, e tu, oh Venus,
Tu tens no coração maior ferida.
Os fieis animaes á caça usados
Em roda ao gentil domno uivaram tristes;
Nos montes as Oreades o choram.
A anciosa Venus, soltos os cabellos,
Sem côr, sem atavio, e nua a planta
Pelos bosques vaguêa, e corre, e geme.
Na rapida carreira agudo espinho
Lhe extráe dos tenros pés o sangue puro.
Ella com alta voz atrôa os valles,
Chama o terno amador, o assyrio moço.
Ai! Entretanto o misero destilla
Rubicundo liquor das rôas vêas,
E purpurea apparece a nívea carne.
«Ah Venus! Venus!...» (os Amores gritam)
Dos olhos, e da face os mil encantos
Perdeu Venus, perdendo o bello amante.
Quando Adonis vivia era das Graças
Venus a deusa, Venus o modelo:
Toda a belleza d'ella, o riso todo
Quando Adonis morreu, morreu com elle.
Arvores, montes por Adonis clamam,
De Venus a tristeza os rios choram,
Vão por Adonis suspirando as fontes,
Roxas as flôres pela dôr se tornam.
Delira a consternada Cytheréa
A girar, e a carpir de valle em valle.
Ah Venus! Jaz sem vida o meigo Adonis.
Quem não lamentará da afflicta deusa
O duro estado, os míseros amores ?
Oh dôr! Quando ella viu, ser insanavel
Do seu mimoso Adonis a ferida,
E o sangue em borbotões correr do golpe,
Abrindo os braços, e arquejando — «Espera,
Espera, triste Adonis» (exclamava)
«Dá-me que eu gose este prazer extremo,
Deixa que me console um terno abraço,
Que inda meus labios nos teus labios toquem.
Abre os olhos, Adonis, abre um pouco,
Dá-me um beijo, um só beijo, em quanto a morte
Não te extingue o calor nos molles beiços.
Tua alma acolherei na minha bôca,
E d'ella descerá para meu peito;
Dôce amor beberei no beijo dôce,
E o dôce beijo guardarei saudosa
Como se fosse Adonis, já que ingrato
A Venus desamparas, foges d'ella
Para as medonhas margens de Acheronte,
Para o feio, implacavel rei do inferno.
Eu, infeliz, sou immortal, sou deusa,
Eu seguir-te não posso, eu vivo, e morres !
Recebe, oh tu, Proserpina, recebe
O meu formoso encanto, a gloria minha !
Ah ! Quanto é sup'rior ao meu teu fado !
Tudo o que ha mais gentil, melhor no mundo
Tudo possuirás, e eu desditosa
Curtirei dôr sem fim, saudade eterna !
Temo a deusa tartarea, chóro Adonis.
Morreste, oh suspirado, e teus carinhos
Como um sonho fugaz de mim voaram:
Em triste viuvez eis Venus fica,
E os Amorinhos seus em ocio triste.
Do meu cinto a virtude encantadora
Comtigo pereceu !... Ah temerario,
Como sendo tão lindo, e tão mimoso
Ousaste acommetter sanhudas (eras ?...»
Assim carpía a mãe, e os Cupidinhos.
Ai Venus ! Ai que é morto o bello Adonis !
De Venus- tantas lagrimas correram,
Quanto sangue correu do louro amante;
E em flôres se mudaram sangue, e pranto:
Nasceu d'aquelle a purpurina rosa,
D'este nasceu a anemone brilhante.
Chóro Adonis, é morto o bello Adonis.
Não mais no bosque, oh Venus, o prantêes ;
Em sublime logar já mão piedosa
Digno thoro aprestou ao teu querido.
Sobre teu leito jaz o morto Adonis,
E morto, e descórado é bello ainda:
Parece n'elle a morte um brando somno.
Depõe seu liso corpo em lisas vestes,
Vestes nas quaes envolto elle gosava
De noute ou mimos teus. ou gratos sonhos.
Ama, pois que extincto, Adonis ama,
Tece-lhe as c'rôas, e os festões de flôres,
Que depois que morreu ficaram murchas.
Réga do sumo de amorosos myrthos,
Perfuma de gratissimos aromas,
Perfuma os frios, delicados membros:
Pereçam, Venus, os perfumes todos,
Se Adonis pereceu, que era o perfume,
O suave perfume da tua alma.
Na purpura descança o tenro Adonis:
Em torno d'elle suspiraes, Amores,
As lustrosas madeixas decotadas
Em honra funeral do extincto amante.
Aquelle calca aos pés bicudas settas,
Este o arco desmancha, est'outro parte
Aureo carcaz de farpas abundante:
Um lhe descalça o nitido cothurno,
Outro agua cristalina em ricos vasos
Traz, carpindo, outro lava-lhe a ferida,
Co'as pennas outro em fim lhe agita os ares.
Os Amores lamentam Cytheréa,
E na porta Hymenêo seu facho apaga,
E a c'rôa nupcial desfaz saudoso...
Ah ! Não mais Hymenêo, não mais seus hymnos,
Só lagrimas, só ais borbulham, soam.
Oh misero Hymenêo, misero Adonis !
O filho de Cintra as Graças choram,
«E' morto Adonis» (entre si clamando
Em mais aguda voz, que a tua, oh Venus)
As tres negras irmãs, as mesmas Parcas
Choram em flôr cortado o moço lindo,
E até com mago verso á vida o chamam:
Elle escuta, elle attende, e fica immovel;
Não por estar contente onde se occulta,
Mas Proserpina o quer, e não permitte
Que elle gose outra vez a luz do mundo.
* Cessem pois, Cypria deusa, os teus suspiros:
* Um terno suspirar não move os Fados

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domingo, novembro 1, 2009 - 18:23

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