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VERSÕES LYRICAS VI

Euphrasia a Melcour

(Traducçâo)

Nunca mais vos verei, olhos que adoro !
Olhos, onde colhi doce ternura !
Olhos, que para mim valieis tudo !
Suave nutrição de meus desejos !
Nunca mais vos verei !. . Que horror !... Que idéa !
Ah! Castigaes-me por amar-vos tanto ?
Objecto encantador, fatal objecto,
Guiados da paixão lá te demandam
Meus ais, e cá me ficam dentro n'alma
Solitario pavor, funesto agouro
De que já para mim não ha ventura.
Faltava-te, infeliz, seres deixada,
Faltava-te este mal depois de tantos!...
Receando que languida esperança
Affague, lisonjêe o meu tormento,
Me diz o coração (voz dura, e triste:
«Cessa de amar, oh credula, que esperas !)
Que fructo hão de render-te os vãos lamentos ?
Debalde com mil votos, mil suspiros
Pelo teu surdo ingrato estás chamando;
Em rapido baixel talhando as ondas
Na patria já surgiu; descança, e folga
As lêdas margens do agradavel Sena.
De ti não quer amor, não quer extremos
O fero vencedor, misera escrava;
No regaço da paz, em teu desdouro,
Dorme sobre trophéos, que já desdenha;
Nem se choras, ou não, sequer lhe importa...
Que!... Traidor, e esquecido!... Ah! não, teu genio .
E voluvel, meu bem, não é tyranno.
Na memoria contemplo os teus desvelos;
Que encantadores, incansaveis eram !
Amei-os, gloria minha, amei-os muito.
Para desvanecer tão grata idéa !
Estas fieis, ternissimas lembranças
Deviam converter-se em dôr, e em pranto ?
Que noticia, meu Deus! que horrivel carta !
Lia-a, fiquei sem voz, sem côr, sem alma.
Como que o coração, desfeito em ancias,
De mim se despegava, a ti corria !
Eis soccorros fataes, eis prompto auxilio
A vida a meu pezar me restituem:
Ufana em me sentir morrer d'amores,
Já triumphava da cruel, da triste
Precisão de carpir na tua ausencia...
E de tão fino amor é este o premio ?
Não importa: eu jurei ser sempre tua,
Sempre hei de sêl-o: imita-me a constancia,
Vê com rosto indiff'rente as mais bellezas.
Ah ! poderás soffrer em outros braços
Paixão, que no fervor não chegue á minha ?
Mil vezes me louvaste de formosa;
Outras ha mais gentis, mas não tão firmes;
O amor, que reina em mim, não reina em outras;
E se amor se exceptua, o mais é nada.
Recorda o juramento, que fizeste
De vires consolar a amante afficta.
Não, não sejas perjuro. . . Ah ! Se eu podesse
Rotos os ferros d'este claustro odioso
Arremessar-me á foz do patrio Tejo,
Ninguem me detivera: em outras praias
Iria apaziguar minha amargura,
Idolatrar Melcour em toda a parte,
Renascer nos seus braços: que é, que importa
Esse bem casual, que chamam patria ?
Patria é onde o prazer nos acompanha. . .
Sei o que digo, oh céos ? Sei o que penso ?
Ah ! não quero nutrir esta esperança,
Inda que adoça o fel de meus desgostos;
Tudo quanto os distráe detesto, expulso.
Mas dize, arrebataste-me os sentidos,
Venceste-me, cruel, para entregar me
Á desesperação, á dôr, e á morte ?
Porque com mil excessos me encantaste,
Sabendo que esta ausencia era forçosa?
Porque no meu retiro escuro e feio
Me não deixaste em fim ? Que atroz delicto
Oommetti ? De que offensa estás queixoso ?
Que te fiz eu ? . . . Perdoa-me, querido,
Perdôa; do meu mal tu não tens culpa:
É teu fado agradar, prender vontades,
Carpir, morrer de amor é o meu fado;
D'elle formar não ouso a menor queixa,
E eis (oh céos!) o maior dos meus tormentos.
Não tenho que temer já agora a Sorte:
Que mais me ha de tramar, que novos damnos,
Se o ultimo, o peor foi separar-nos?

Escreve-me por dó: sejam-te embora
Molestas minhas supplicas; eu quero
Miuda relação de quantas ditas
O céo te conceder: quero gosal-as:
Mais que tudo te imploro o vêr-te um dia.
Se não tentas, meu bem, ser meu verdugo,
Deixa-me conceber esta esperança:
Assim mesmo enganosa, ella me é dôce.
Adeus! A carta, que a gemer te envio,
Vae de saudosas lagrimas banhada...
Não a posso acabar!... Quanto é ditosa !
As tuas mãos irá; teus olhos brandos
N'ella se hão de empregar; e eu, miseravel...
Ah! Que insanias profiro! O peito abafa.
De pranto, e de soluços carregado !...
A morte pelas veias me circula !...
Porém se és meu, se a lagrimas te obrigo,
Das almas fortes opporei o escudo
A quantos golpes vibre a mão dos Fados.
Sobre este coração fervei, tormentos;
Mas vinde, mas voae á triste Euphrasia
Suspiros do seu bem, thesouros d'ella.

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domingo, novembro 1, 2009 - 18:30

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Bocage

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