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A noite e a minha procura por ti (Prosa Poética - Excerto)
" Soube antes escrever o que o céu desenha, os traços escorrendo pela tinta como fragmentos de um pincel desnivelado, as formas divagando sobre a natureza que os teus olhos transmitem mesmo a vários quilómetros da minha realidade. Embebida em leves nuances de paixão e alegria, apenas conseguia revelar os vales que antecediam a montanha onde a tua alma vagueia, respirando os tons de névoa que, como segredos, corriam.
Éramos escuridão e toda a luz reaparecia com a palavra entoada, o medo sacudindo as asas e deitando para o abismo que fugia, a poeira que é o gelo e o sofrer. Existiam sorrisos que, por mais doces que fossem, revestiam as paredes da nossa casa com a esperança semeada e a inquietação angustiada.
- Seríamos felizes? – dizias, as faces coradas, a cabeça baixa, as mãos resguardadas uma na outra procurando não a sua companhia mas um outro calor que colhesse as lágrimas e as tornasse amigas do esquecimento.
A beleza era mais do que a voz… os gestos, os suspiros traduzindo a ânsia, o desejo revelando a natureza, o peso parecendo ser a pluma que a face acariciava.
A música irrompia pelas nuvens que bailavam ao ténue movimento de uma calma ainda infantil, a perda já distante de todos os cinzentos que a fragilidade usa quando nasce pelo valoroso toque da paixão. Éramos únicos e os nossos olhos consumiam os sóis de outras partes do Universo, vivendo o momento de um encontro cujos gemidos caíam através do toque de uma esbelta Primavera onde a diferença era um verde prado sem outras vozes que os amantes desaparecidos tinham evocado. "
Excerto de uma prosa poética pertencente a um meu livro ainda não publicado mas registado na SPA, "Fugas para uma alma atribulada", constituído por 60 textos do mesmo teor.
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