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"O mar profundo dos meus olhos" - Conto (Excerto)

Num só momento, senti que a minha vida eram passos desorientados à chuva, um rasto invisível deixado em palavras que me tornaram frágil, uma estátua de cristal que chorava pela morte dos meus pais. Qual é a perfeita descrição para um estúpido acidente de automóvel e o rasgar de insanidade que a infância não quer conhecer? Pobre e latejando pelo que já não podia voltar, a partir desse dia, tinha eu 13 anos, tive o conforto de uma terrível sombra, o terno desencanto de um suspiro agarrado a memórias onde havia febre e a matéria mais insalubre que poderia chamar-me como sua. Nem os meus tios e primos conseguiam me libertar daquele choro que era recordar…
O nascimento e aquele choro que é sair à força de uma casa que tão bem nos protege… Quando se tem a riqueza que uma família concede, é possível sentir que se pertence a algum lugar e que a outra casa já não importa. Os nossos passos são guiados pelo amor que os nossos pais nos dão e temos a confiança que é mostrar uma maior liberdade em falar, cantar e dançar até que o cansaço nos grite que, mesmo quando se é a jovem loucura, é bom descansar. Infelizmente, quando se perde tudo o que nos faz bem, é difícil conseguir sorrir, agarrar o momento com a sobriedade necessária que impele a alma a construir frutuosas melodias que digam que os sonhos são belos, como antes sentimos que foram.
Nesses momentos em que a solidão me chamava, as lágrimas apenas tentavam com que me esquecesse de que já me senti bem, que já tive uma família onde encontrava a fortuna de sentir-me agraciada pelas cores que somente a harmonia consegue pintar, aquela vontade tão grata que é de nada precisar.
Agora, de muito precisava… Sem conseguir reencontrar a calma, tinha o desalento como o pregar de convulsões e trágicas entoações a outros mundos, o afastar de uma realidade que se contorcia por dolorosos momentos em que tudo estava bem, uma gélida máquina que trabalhava sem piedade em seu próprio beneficio apenas para me martirizar e mostrar que eu merecia ser infeliz.
Por vários anos caminhei só, nunca sabendo o que era viver, tentando adormecer a mentira de já não poder me abraçar àqueles que moldaram o seu amor em mim, as suas vozes sendo ténues ecos do que já foi certeza e que agora eram fulgores lamentados. Cada pedaço de mim era uma morte ambulante, uma queda num recanto inglório de onde não havia fuga…
Um dia, escrevia as minhas angústias num jardim, presa ao passado e até a mim, as palavras caminhando cansadas pela noite em que o Tempo me tinha mergulhado, prova infértil de que nada parece ser glorioso, apenas eu e a morte dos meus pais, a minha passagem para um terreno sem paz. A palidez troteava o seu desespero queimando as parcelas de serenidade que a bela infância queria sorrir, a única forma de dizer ao mundo o quanto tinha sido feliz, a minha imortalidade lembrando a sedução de uma solitária existência.
Chorava, o meu peito mergulhado naquele mar que afoga a placidez, um abrigo que não desejava merecer, sem sequer saber que mais palavras poderia colocar na folha de papel cuja metade estava em branco como se estivesse à espera de um rasgo de luz para a embelezar.
A minha alma era vazia e ao longe apenas as nuvens pronunciavam serem ricas como se apenas elas pudessem ser livres… sentia-me condenada a vê-las vaguear sem a condição de humanas e, se choravam, imaginava que não era por mim. Quem choraria por mim se morresse e levasse todas aquelas recordações de infância, pensamentos destituídos de viçosos ecos que ninguém conhecia porque o que escrevia era só meu, as dores e clamores de quem já não sabe que mais iria perder.
Não me conhecia salvação até que apareceste, meu amor, e me cumprimentaste com o teu doce jeito de ser, dando-me a conhecer sorrisos atrás de sorrisos, enfeitiçando-me com as palavras e as melodias que pronunciavas. Eras poeta e sabias como preencher a minha alma…

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quarta-feira, junho 10, 2009 - 18:58

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Solitudinis

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