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O Sentido Histórico do Final d’Os Sertões
Paulo Monteiro
Convidado pelo professor Gilmar de Azevedo para participar do seminário “Euclides da Cunha: Literatura, História e Ciência”, promovido pelas Faculdades Anglo-Americano de Passo Fundo, terminei minha intervenção, revelando o que significa narração antológica final de como terminou a “campanha de Canudos”. Eis o texto euclidiano:
“Fechemos este livro.
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”.
O “velho”, que resistiu na “Tróia de taipa”, representava todas as vítimas dos movimentos sociais antes de Canudos. Lembrei, particularmente, os muckers, de Sapucaia, no Rio Grande do Sul, massacrados sob o canhoneio de armas trazidas da guerra contra o Paraguai.
Os “dois homens feitos” eram os representantes dos canundenses, espingardeados, abatidos sob tiros de canhões, que viram seus companheiros presos, serem sangrados e degolados aos milhares. E mais: viram suas mães, irmãs, esposas e filhas estupradas e conduzidas como escravas sexuais. Contemplaram seus filhos afastados do Sertão pelos vencedores.
Aquele menino, talvez o último jagunço que morreu combatendo, é a imagem de outras vítimas posteriores: dos Monges do Pinheirinho, em Encantado, no Rio Grande do Sul, em 1902; dos jagunços do Contestado, no Oeste de Santa Catarina e Paraná, entre 1912 e 1916. Entre 1937 e 1938, em Soledade, também no Rio Grande do Sul, foram massacrados, mocinhas foram estupradas sob o delírio dos vencedores que contemplaram as cenas de desvirginamento e, em 1937, no Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, no Crato, a 11 de maio, 400 “fanáticos” foram massacrados pelo Exército Brasileiro.
Depois disso, em centenas de ocorrências menos conhecidas, “fanáticos” foram arrasados e continuam vitimados, personificando aquele último combatente menino de Canudos.
Muitíssimo mais do que cientista e homem de idéias, Euclides da Cunha é um dos maiores poetas da Língua Portuguesa. Os Sertões é Os Lusíadas em prosa; “Bíblia da nacionalidade”, é a grande obra do “jagunço manso”, “– misto de celta, de tapuia e grego...”
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