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A Poesia Lírica de Jane Pimentel

Paulo Monteiro

O lançamento do livro Velas ao Vento (Méritos, Passo Fundo, 2005), reunindo poemas da passo-fundense Jane Pimentel, ao lado do lançamento de Poesias, do poeta Elisomero Moura, se constituíram em fatos significativos para os admiradores da verdadeira poesia.
A experiência adquirida pela poetisa nos longos anos dedicados à arte da declamação, com certeza, contribuiu para que ela passasse a se dedicar ao fazer poético. Daí, porém, a produzir boa poesia há uma distância muito longa. Por certo, não será difícil encontrar exemplos de reconhecidos como excelentes declamadores ou declamadoras que se aventuraram a escrever poemas e acabaram sendo apenas poetastros.
Jane Pimentel escolheu um caminho perigoso. Aliás, seu primeiro livro de poemas se intitula Das Estradas e Encruzilhadas da Paixão (Orvalho Andaluz Editora, Porto Alegre, 1997). O andar, em terra e mar, é o núcleo, ou melhor, o leitmotiv que move o labor poético da autora.
A autora, já em seu volume de estréia, segue uma tradição quase centenária, colocada em circulação entre nós pelos poetas modernistas: escrever poemas longos fracionados em poemas de menor extensão. Das Estradas e Encruzilhadas da Paixão é, na verdade, um desses casos. Do ponto de vista contuidístico, porém, sua tradição é mais longa. Podemos encontrá-la na Grécia, e ainda antes, em Israel.
Há vinte e sete séculos, a cultura helênica desenvolveu os conceitos de érôs e pórnê. Do primeiro, em língua portuguesa, originaram-se alguns termos bastante claros, dentre os quais o de ereção, aplicado ao membro sexual masculino; do segundo, raiz de palavras como pornografia, o sentido original estava ligado ao exercício da prostituição, ao comércio sexual puro e simples. Sentidos estes que ficam muito claros num livro recente de Reinholdo Aloysio Ullmann (Amor e Sexo na Grécia Antiga, EDIPUCRS, Porto Alegre, 2005) e cuja leitura é indispensável.
O entendimento desses conceitos é fundamental para definir erotismo – e por extensão literatura erótica – de pornografia – e seu correspondente artístico – a literatura pornográfica.
Segundo o Dicionário da Mitologia Grega, de Ruth Guimarães (Editôra Cultrix, São Paulo, 1972), “EROS – Deus do Amor, é uma força fundamental do mundo. É considerado um deus nascido ao mesmo tempo que a Terra, saído diretamente do Caos primitivo, ou ainda nascido do ovo primordial, engendrado pela Noite. Ele assegura não só a continuação da vida, mas a coesão interna dos elementos. Tradições mais recentes são-no como filho de Afrodite, mas não se sabe quem é o pai. Representam-no como um menino alado, nu, levando o arco e o carcaz cheio de flechas, com as quais fere de amor os corações, seja dos homens, seja dos deuses. Conta-se que amou Psiquê”. Noutras palavras, é o famoso Cupido.
O érôs é tão antigo quanto o mundo. Está na raiz da própria origem da vida humana. É um princípio vital. E, em assim sendo, é imprescindível para aquilo que conhecemos como poesia lírica. Sem érôs, que é o próprio amor, não existe poesia lírica. Impossível cantar o amor sem eroticidadade.
A poética de Jane Pimentel transpira erotismo. Seja na terra, com Das Estradas e Encruzilhadas da Paixão, seja no mar, com Velas ao Vento, andar é viver e viver é exercitar o érôs, o desejo sexual, o amor. Viver é querer. Poetar é materializar, em palavras, o querer.
Seu primeiro livro abre com ESTRADA, poema ilustrativo do que afirmei logo acima.
Longilínea
Ela consome campos, montanhas
Matas
Rios e cidades

Como serpente vai
Desdobrando
Enroscando
Subindo
Descendo
Mordendo os flancos vermelhos dos barrancos
Os verdes acostamentos

No meu corpo
A linha branca divide
O poder de ir e
Vir

Lânguida, sensual em certas curvas
Voraz e predadora nas retas
Solitária, mansa nos desvios e encruzilhadas

Sou prisioneira
Dos seus encantos
Deixo-me levar
Na libido da chegada e
Da partida

Mulher fêmea
Somos iguais no gozo
Libertas para acolher quem
Maciamente viajará em nossas entranhas.
Em Velas ao Vento (p. 55) há este poema, que justifica a sua concepção de érôs:
Ando livre
Solta
Ao vento
Navego ao sabor das vagas
Prossigo.

Uma enseada azul
Uma brisa morna
Doce
O amor já não detém
Ancorado ao cais de
Antigas seduções.
A idéia de amor como veículo está clara nestes últimos versos, que só se completa através da pessoa/caminho.
A poetisa passo-fundense, a exemplo da baiana Denise Teixeira Viana e de outras poetisas contemporâneas, não cai no érôs pelo érôs, ou melhor em pornánai (vender), a pornografia, a vulgarização do lirismo. E é exatamente essa diferença que faz a diferença literária necessária à existência da verdadeira obra de arte lírica.
Não cabe aqui discutir os sentidos das palavras gregas érôs (“amor entre os cônjuges”), ágape (“amor divino”) e philis (“amor entre amigos, sem nenhuma conotação sexual”), como definem teólogos cristãos. Certo é que o Cântico de Salomão, escrito há cerca de três mil anos, imortalizou a beleza das pastoras judias, sendo, a um só tempo, documento de profunda simbologia religiosa e uma das mais representativas composições do lirismo universal. O poema salomônico oferece mais do que uma leitura, o que é comum à maioria dos mais representativos poemas líricos, mostrando que o erotismo encerra uma profundidade muito maior do que se possa pensar ou imaginar.
A obra poética de Jane Pimentel comprova uma verdade: só existe verdadeira obra de arte como expressão do amor, mesmo em poetas como o clássico Antônio de Castro Alves, abominando a escravidão por amor aos seres humanos.

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terça-feira, março 3, 2009 - 02:43

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