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Uma academia aos passo-fundenses de letras

Segundo ON

Fã de Machado de Assis e Fernando Pessoa, orgulhoso pertencente da geração do mimeógrafo, militante de uma reforma ortográfica fônica, poeta desde os 13 anos, ferrenho crítico da sociedade, presidente da Academia Passo-Fundense de Letras. Paulo Monteiro reuniu as experiências de seu intenso passado e colocou em prática um projeto ousado, que deu certo: a modernização e abertura da Academia para a comunidade, transformando um local até então temido e intocado em um espaço de encontro para aqueles que apostam na cultura e no conhecimento. Enxergando a literatura como um bem de todos e para todos, o intelectual passo-fundense conta ao Segundo sua história e trajetória ao lado da Academia, além de sua opinião sobre a recente reforma ortográfica brasileira e os rumos do município como pólo cultural. Confira.
Segundo – Como surgiu sua relação com a literatura?
Paulo Monteiro – Comecei a escrever muito cedo, aos 13 anos publiquei meu primeiro poema no jornal mimeografado Fagundes em foco, da Escola Fagundes dos Reis, e então não parei mais. Nos meus primeiros poemas sobre Passo Fundo, utilizava como rima rua e charrua, e minha professora explicava que os charruas eram índios da fronteira, já extintos. A partir dali, começou também minha curiosidade pela história e passe a ler livros de história, sendo o primeiro deles Passo Fundo das Missões, de Jorge Edeth Cafruni. Então essa ligação entre poesia e história começou muito cedo, na escola. Por isso digo que a importância da escola é muito grande para a divulgação da literatura, além da importância da interdisciplinaridade, que vejo que a educação perdeu muito, e é preciso buscar novamente.
Segundo – E quando esse gosto tornou-se profissão?
PM – Em 1971 organizamos o Grupo Literário Nova Geração. Nossa primeira publicação foi uma coletânea de poemas mimeografada. Faço parte da chamada geração do mimeógrafo, uma geração que, nos anos 1970, devido ao custo das gráficas, publicava obras em pequenas tiragens de jornais e revistas impressas em mimeógrafos. Essa geração também é a de Paulo Leminski, para falar em nomes mais consagrados. Depois, não parei mais. Publiquei, nos anos 1980, em um jornal, de início mimeografado, que tinha tiragem de 500 exemplares, o que era uma loucura, pois era necessário datilografar dez matrizes para imprimir esse número, distribuído nacionalmente pelo correio.
Segundo – Como se deu a incursão na Academia Passo-Fundense de Letras e qual o seu trabalho como presidente da entidade?
PM – Depois de ser convidado inúmeras vezes resolvi participar da Academia, e levei para lá a experiência com esse trabalho, que foi o que, no ano passado, com o apoio da diretoria que assumiu comigo, colocamos em prática. Primeiramente, voltamos a realizar sessões solenes, porque, infelizmente, nossa sociedade perdeu certos rituais – a começar pela utilização das chamadas palavras mágicas, como obrigado, com licença, por favor –, assim as reuniões perderam sua antiga essência. Por esse motivo retornamos à prática dos cerimoniais na Academia. E ainda, nós, literalmente, abrimos a Academia. Exposições de pintura, de tapeçaria, formaturas de escolas, saraus literários, curso de formação de professores. Também abrimos o local para eventos, lançamentos de livros, inclusive reuniões de interesse da comunidade, como sobre a encenação da Batalha do Pulador. Depois de muitos anos, fizemos uma prestação de contas, com abertura do ano acadêmico, encerramento, prestação fiscal, cultural, utilização da internet para divulgação dos trabalhos. Enfim, aplicamos um processo de modernização e, principalmente, a abertura da Academia para a comunidade.
Segundo – Na sua visão, o que falta para que a cidade realmente torne-se um pólo cultural?
PM – Acredito que as autoridades precisam tomar consciência de que Passo Fundo está entrando em uma nova fase de sua história e que a atividade cultural no município deve ser cada vez mais incentivada, inclusive como fonte de renda e acumulação de riqueza. Ignorar sua importância como Capital Nacional da Literatura, como até hoje tem acontecido, é prova de atraso. Temos que deixar de usar a expressão “vontade política”, e passar a usar “responsabilidade política”. Ou o administrador é politicamente responsável ou é irresponsável e, infelizmente, na área da cultura, acredito que há omissão. Exemplo é o prédio da Academia, que está lá há quase duas décadas para ser concluído e até hoje não foi, tornou-se uma situação complicada, interminada.
Segundo – Na poesia e na prosa, que são seus grandes ídolos e influências?
PM – Eu leio de tudo, até bula de remédio. Particularmente, gosto dos clássicos da literatura portuguesa e brasileira. Tenho forte admiração pelos poetas portugueses Bocage, Antero de Quental e Fernando Pessoa. Também por vários autores da geração do mimeógrafo e ainda por aquele que, para mim, é o poeta maior do modernismo, Manuel Bandeira. Em termos de prosa, acredito que existem dois insuperados até hoje, Eça de Queiroz e Machado de Assis. Há ainda Erico Veríssimo, Graciliano Ramos, Mário Palmério, enfim, os grandes clássicos da língua portuguesa.
Segundo – O que recomendaria àqueles que desejam iniciar uma boa relação com a literatura?
PM – Ler jornal. A grande fonte de leitura ainda continua sendo o jornal. É uma forma de os pais estimularem nos filhos ao hábito da leitura. Sobre a questão de o jornal estar extinto pelo avanço das tecnologias, acredito que isso não irá acontecer. O próprio Freud já explicava que existe a questão tátil. Eu, nos últimos tempos, tenho sido um leitor de internet, ma nada se compara à sensação de tocar no papel. O que pode haver é uma mudança. Platão combatia a escrita por achar que o homem tornar-se-ia preguiçoso e perderia a memória, o que não aconteceu, a memória foi até melhor preservada. Quando a Revolução Industrial introduziu a maquinaria, as pessoas criticavam muito, mas a humanidade não desapareceu por isso, adaptou-se. Quando surgiu a cibernética, dizia-se que a informática iria provocar uma crise mundial, o que não aconteceu. Acho que o senso de modernidade é inevitável.
Segundo – Como presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, qual a sua opinião sobre a reforma ortográfica?
PM – Acredito que essa reforma ortográfica foi muito tímida. A língua, antes de ser escrita, é falada. Acho que as pessoas deveriam escrever como se fala. Por que não a unificação fônica da língua, no lugar da unificação gráfica? Na própria questão do aprendizado, a tendência das crianças é escrever como falam, seguir o som, então seria uma simplificação. Se muitas vezes o “s”, o “sc”, o “ss” e o “c” produzem o mesmo som, por que tanta variação? Nossa gramática foi copiada do francês, em que a linguagem oral é diferente da linguagem escrita. Na minha visão, a forma correta de escrever é ser compreendido. Então nessa questão de reforma ortográfica, sou a favor de que fosse valorizada a língua falada. Língua viva é língua falada. O latim e o sânscrito são línguas mortas porque não são mais faladas. Falamos em uma língua viva e escrevemos em uma língua morta, e esta reforma está sendo feita em uma língua morta.
(Entrevista publicada na primeira página do Segundo, caderno cultural, de O NACIONAL, Passo Fundo, sábado e domingo, 17 e 18 de janeiro de 2009 – Ano 84)

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segunda-feira, janeiro 19, 2009 - 20:03

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