À sorrelfa

Enciumado objeto do
Olhar estranho vindo da janela
Expectante na presteza da mira.

Nem me fales de quando eras átomo.

Fumaremos poesia em sois desgastados
Num flerte relampejante
De molécula afogada ao nada.

Vieras a mim
Sorrateiramente flutuante,
À sorrelfa

O quê deve ser dito agora?
Se tu calculaste vergonhas e invisibilidades?

Dedos mecânicos ferramentais de ossos
Encaixados no corpo
Como no desapertar sextavado enroscado e desenroscado
Duma peça que respira e baila à música da volúpia.

Sem dó ou pena
Tu deslizas
O perfume escorrega ao chão
O piso esplandece-se
Aquiesce-se nu
Num aguardo palpitante.

Um encaixe
Um gemido tímido quase mudo
Ouves crescer
Enxergas o viril ascendente
Contorce-se serpente rastejante no desejo
Ondulantemente
Encontras com céus
Mergulhas em infernos
Dances livre sobre um suspiro
A valsa dum tom plangente.

O calor invade uma pele chiante
Ao avesso à órbita
Calas um amanhecer
Ressuscitas um entardecer
Digas olá a noite que não sabe amar.

Nem me fales mais
Não quero ouvir
Nem feches os olhos neste toque ao langor
De língua desenhando lábios
Suavemente maciamente
Em saliva óleo balsâmico deslizante na carne

Cegas o medo da mordida
Mordes com dentes arraigantes
E
Um suspiro voa na brisa sobre abdômen
Assoprada intempérie da boca.

Submited by

Wednesday, August 5, 2009 - 14:22

Poesia :

No votes yet

Alcantra

Alcantra's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 3 weeks ago
Joined: 04/14/2009
Posts:
Points: 1563

Comments

Tiger's picture

Re: À sorrelfa

"Um suspiro voa na brisa sobre abdômen
Assoprada intempérie da boca."

Aplausos... :pint:

KeilaPatricia's picture

Re: À sorrelfa

Gostei...

:-)

MarneDulinski's picture

Re: À sorrelfa

Alcântara!

Lindo à Sorrelfa, até me enganou!
Penso ser um sonho erótico, será...
MarneDulinski

Add comment

Login to post comments

other contents of Alcantra

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Ministério da Poesia/General Duas paredes 0 1.235 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sede dos corpos 0 1.264 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General O lixo da boca 0 1.339 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Virgem metal 0 2.891 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Carne de pedra 0 1.556 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Fim avarandado 0 1.640 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Dentro do espelho 0 1.385 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Um destroçado sorriso 0 1.741 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Anestésico da alma 0 2.090 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Fita laranja 0 1.599 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Caro insano tonto monstro 0 882 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Assaz lágrima ao soluço 0 1.227 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sítio da memória 0 1.294 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Aeronave de Tróia 0 1.557 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Barro frio 0 1.576 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Lutolento 0 2.101 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Não 0 1.115 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Da vida não se fala... 0 944 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Jesuficado 0 1.765 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General O carisma do louco 0 1.509 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General O sonho é a visão do cego 0 2.045 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Manhã infeliz 0 1.512 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General O veneno da flor 0 1.075 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Olhos 0 1.369 11/19/2010 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Silêncio esdrúxulo 0 1.385 11/19/2010 - 18:08 Portuguese