Viúvo das palavras que nunca ouvirás

Ainda choram as noites!

Caminho, em passo fúnebre, sob o perpétuo
Halogéneo dos candeeiros, de imberbes olhares
Pedalando na utopia da lua e a vetustez da alma
Repousada nos murmúrios que a brisa bafeja.

Encolho-me, não que a solidão das horas
Tardias me houvesse trazido o frio,
Apenas o desconsolo de não sentir o teu
Arrepio a embrenhar-se nas costuras
Do meu abraço.

Desconheço se o meu reflexo, nas águas
Que desmaiam pelo vazio das ruelas,
É apenas o retrato da tua ausência
Ou o anunciar da morte de todas as noites.

Sinto a pulsação acelerar, aquela
Que bombeia as pernas pela calçada,
Quando o véu já índigo do firmamento
Mal disfarça as faces pobres e vadias.

Arfo e suo para que esbulhe toda a cal onde
A tua sombra não é assídua, todos os sorrisos
Que esqueceste na indisposição do asfalto e onde
O mundo também expressa a falta que lhe fazes.

E assim, partilhando a dor da tua inexistência,
Talvez o destemor e a robustez me velem
Pela luminescência das horas, e dêem vida
A um gesto ou a um olhar que me deixe
Viúvo das palavras que nunca ouvirás.

Submited by

Sunday, February 7, 2010 - 22:23

Poesia :

No votes yet

jopeman

jopeman's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 7 weeks ago
Joined: 01/04/2009
Posts:
Points: 3172

Comments

GilBerthoLopes's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

Meu caro João,
Vejo muita intensidade neste seu poema. É com a mesma intensidade que o admirei. Parabéns!

"Desconheço se o meu reflexo, nas águas
Que desmaiam pelo vazio das ruelas,
É apenas o retrato da tua ausência
Ou o anunciar da morte de todas as noites" Lindo isso!

ÔNIX's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

Encolho-me, não que a solidão das horas
Tardias me houvesse trazido o frio,
Apenas o desconsolo de não sentir o teu
Arrepio a embrenhar-se nas costuras
Do meu abraço.

Qualquer estrofe do teu poemas tem um sentimento muito profundo, tal como tens revelado na tua poesia, que será sempre um prazer ler.

Mais um dos que tocam as almas mais sensíveis, não fossemos nós o centro dessa sendibilidade

Um beijinho João

Gostei muito

Matilde D'Ônix

mariamateus's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

Olá João :-)

Não comento!!!

Brindo! :pint: :pint:

Paz,e luz!....

Beijo carinhoso!

Tua amiga!....

mm

Henrique's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

Nem comento!!!

Este é um rasgo poético que me leva até aos confins das emoções!!!

Parabéns Jop!!!

Este é o máximo da loucura que nos assina poetas!!!

:-)

Betofelix's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

Seu poema sempre oculta um sentido muito próprio e verdadeiro.

O persongem poeta são como muitos, vagueando sem se encontrar. Tenho muito disso.

Apreciei bastante, como sempre.

Lapis-Lazuli's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

Ès enorme...grande poema, grande poeta!
Abraço!

Librisscriptaest's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

As noites em empatia dorida com a mágoa e a inquietação do poeta perdido de amor...
Adorei João, sempre de uma sensibilidade digna de registo!
Beijinho tão grande em ti!
Inês

MarneDulinski's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

LINDO POEMA, GOSTEI MUITO!

Encolho-me, não que a solidão das horas
Tardias me houvesse trazido o frio,
Apenas o desconsolo de não sentir o teu
Arrepio a embrenhar-se nas costuras
Do meu abraço.

Meus parabéns, por todo Poema, mas destaco esta linda estrofe!
Marne

NunoCarvalho's picture

Re: Viúvo das palavras que nunca ouvirás

João,

Mais um bom poema teu.

Um conteúdo muito rico e forte, como é normal na tua boa poesia.

Abraço

Add comment

Login to post comments

other contents of jopeman

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Thoughts Violentas Alegrias 5 2.170 10/20/2011 - 20:16 Portuguese
Poesia/Thoughts Gostei sobretudo das árvores que davam pássaros 4 2.013 10/20/2011 - 20:13 Portuguese
Poesia/Love sei que o amor é coisa de homens 1 1.879 10/20/2011 - 20:10 Portuguese
Fotos/Profile 1129 0 3.365 11/23/2010 - 23:37 Portuguese
Fotos/Profile 1127 0 4.344 11/23/2010 - 23:34 Portuguese
Poesia/Thoughts Sou Vadio 4 2.180 08/30/2010 - 08:57 Portuguese
Poesia/General Destino Manifesto 2 2.476 08/22/2010 - 21:17 Portuguese
Poesia/Aphorism Quietude (Desafio Poético) 3 2.125 08/02/2010 - 01:08 Portuguese
Poesia/Dedicated Jopeman - O caminho (ao WAF) 2 2.104 07/06/2010 - 07:10 Portuguese
Poesia/Love A (quase) eterna leveza dos malmequeres 1 2.614 06/24/2010 - 04:05 Portuguese
Poesia/Thoughts A terra é só terra e eu penso nisso vezes demais 5 2.330 06/19/2010 - 21:35 Portuguese
Poesia/Meditation Portas 7 2.158 06/12/2010 - 09:54 Portuguese
Poesia/Meditation Que morram todos os sinais 1 2.233 06/12/2010 - 09:48 Portuguese
Poesia/Meditation Viagem 2 2.563 06/12/2010 - 09:41 Portuguese
Prosas/Contos Intuições 5 2.073 05/17/2010 - 21:01 Portuguese
Poesia/General Só tu sabes! 6 2.096 05/17/2010 - 21:00 Portuguese
Poesia/Joy Corro 8 2.363 05/10/2010 - 14:06 Portuguese
Poesia/Meditation As pedras não voam 11 2.453 05/02/2010 - 02:15 Portuguese
Poesia/General Distâncias 9 2.028 04/07/2010 - 19:29 Portuguese
Poesia/General Há aquelas coisas de que nunca penso se houver uma porta aberta 7 1.768 03/26/2010 - 08:42 Portuguese
Poesia/Love Amor de sol e lua (duo com Analyra) 6 2.660 03/23/2010 - 15:00 Portuguese
Poesia/General Continuo sentado à varanda 7 3.611 03/17/2010 - 20:17 Portuguese
Poesia/Disillusion O filho do vento 13 2.394 03/15/2010 - 14:56 Portuguese
Poesia/Meditation O refúgio de D. Dinis 1 2.714 03/05/2010 - 12:08 Portuguese
Poesia/Love A dança dos amantes 1 2.569 03/05/2010 - 02:05 Portuguese