As Estações em Haikais: Inverno *

Fuyu (Inverno)

I.
hatsu-fuyu ya futatsu-go ni hashi torasekeru

Início de inverno —
Minha filha de dois anos
Ensino a usar "hashi"

Gyôdai

II.
toshi kurenu kasa kite waraji hakinagara

O ano chega ao fim —
Capa de chuva nas costas
E sandálias nos pés.

Bashô

III.
sore-zore no hoshi arawaruru samusa kana

Estrelas, surgindo
Aqui e acolá —
Ah, o frio!

Taigi

IV.
hito-goe no yahan o suguru samusa kana

No meio da noite,
A voz das pessoas que passam —
Que frio!

Yaha

V.
kumo korosu ato no sabishiki yosamu kana

A solidão
Após matar uma aranha —
Noite fria.

Shiki

VI.
atataka ni fuyu no hinata no samusa kana

Aconchegantes,
Os raios do sol de inverno —
Mas que frio!

Onitsura

VII.
sara o fumu nezumi no oto no samusa kana

O som de um rato
Andando sobre o prato —
Que frio!

Buson

VIII.
mikazuki wa soru zo samusa wa saekaeru

A lua crescente
Está arqueada —
Que frio cortante!

Issa

IX.
fuyuzare no komura o yukeba inu hoyuru

Desolação de inverno —
Ao passar pela pequena aldeia,
Um cão late.

Shiki

X.
inu o utsu ishi no sate nashi fuyu no tsuki

Nem mesmo uma pedra
Para atirar no cachorro —
Lua de inverno.

Taigi

XI.
kangetsu ya mon naki tera no ten takashi

A lua fria —
Sobre o templo sem portão,
O céu tão alto.

Buson

XII.
tsure mo naku no ni suterareshi fuyu no tsuki

Sem ter companhia,
E abandonada no campo,
A lua de inverno.

Roseki

XIII.
yuki yori mo samushi shiraga ni fuyu no tsuki

Mais fria que a neve,
Sobre os meus cabelos brancos,
A lua de inverno.

Jôsô

XIV.
kogarashi ya hôbare itamu hito no kao

Tormenta hibernal —
O rosto do passante,
Inchado e dolorido.

Bashô

XV.
ike no hoshi mata haraharato shigure kana

As estrelas no lago
Aparecem e desaparecem —
Chuva de inverno.

Sora

XVI.
tabibito to waga na yobaren hatsu shigure

"Viajante",
Poderia ser meu nome —
Primeira chuva de inverno.

Bashô

XVII.
hatsu-shigure saru mo komino o hoshige nari

Primeira chuva de inverno —
O macaco também quer
Uma capinha de palha.

Bashô

XVIII.
kasa mo naki ware o shigururu ka nanto nanto

Sem guarda-chuva
E sob a chuva de inverno —
Bem, bem!

Bashô

XIX.
shigururu ya nezumi no wataru koto no ue

Chuva de inverno —
Passando sobre o "koto"
O ruído de um rato.

Buson

XX.
hatsu-yuki ya ichi no takara no furu-shibin

Primeira neve —
Este velho penico
É meu maior tesouro.

Issa

XXI.
uma o sae nagamuru yuki no ashita kana

Manhã de neve.
Até mesmo os cavalos
Ficamos olhando.

Bashô

XXII.
kimi hi o take yoki mono misen yuki maroge

Acenda o fogo.
Que lhe mostro algo legal —
Uma grande bola de neve.

Bashô

XXIII.
no ni yama ni ugoku mono nashi yuki no asa

Nada se move
No campo ou nas montanhas —
Manhã de neve.

Chiyo-jo

XXIV.
tada oreba oru tote yuki no furi ni keri

Apenas estando aqui,
Estou aqui.
E a neve cai.

Issa

XXV.
massugu na shôben ana ya kado no yuki

Após urinar,
Um buraco perfeito
Na neve do portão!

Issa

XXVI.
karakasa no hitotsu sugikuku yuki no kure

Na tarde de neve
Passa desaparecendo
Um só guarda-chuva.

Yaha

XXVII.
yado kase to katana nagedasu fubuki kana

"Pouso para a noite!"
E joga sua espada ao chão —
Tormenta de neve

Buson

XXVIII.
uma shikaru koe mo kareno no arashi kana

Sobre o campo seco,
A voz que grita ao cavalo
Em meio à tormenta.

Kyokusui

XXIX.
tabi ni yande yume wa kareno o kakemeguru

Doente de viagem,
meus sonhos vagueiam
pelo campo seco.

Bashô

XXX.
kure madaki hoshi no kagayaku kareno kana

Anoitece mais cedo —
As estrelas brilham
Sobre o campo seco.

Buson

XXXI.
tori ichiwa michizure ni shite kareno kana

Apenas um pássaro
Companheiro do caminho
Pelo campo seco.

Senna

XXXII.
sato no ko no inu hiite yuku kareno kana

Levando o cachorro
O menino da vila
Pelo campo seco.

Shiki

XXXIII.
tabibito no mikan kui yuku kareno kana

O viajante
Chupa uma laranja
Pelo campo seco.

Shiki

XXXIV.
kôri nigaku enso ga nodo o uruoseri

o gelo é amargo
Para o rato que no esgoto
Aplaca a sua sede.

Bashô

XXXV.
nobotoke no hana no saki kara tsurara kana

O Buda da roça —
Da ponta do nariz
Um filete de gelo.

Issa

XXXVI.
fuyugomori kokoro no oku no yoshino yama

Reclusão de inverno —
As montanhas de Yoshino
No fundo do coração.

Buson

XXXVII.
oya mo kô mirareshi yama ya fuyugomori

Meu pai também
Viu estas montanhas —
Reclusão de inverno.

Issa

XXXVIII.
tomoshibi mo ugokade marushi fuyugomori

A chama da vela
Imóvel, arredondada —
Reclusão de inverno.

Yaha

XXXIX.
nora-neko no fun shite iru ya fuyu no niwa

Jardim no inverno —
Um gato sem dono,
Defecando.

Shiki

XXXX.
zubunure no daimyô o miru kotatsu kana

Eu e meu aquecedor —
Lá fora o Senhor do Feudo
Passando ensopado.

Issa

XXXXI.
onakama ni neko mo za-toru ya toshi-wasure

O gato também
Vem aqui sentar conosco —
Festa de fim de ano.

Issa

XXXXII.
umi kurete kamo no koe honoka ni shiroshi

Anoitece no mar —
Os gritos dos patos selvagens,
Vagamente brancos.

Bashô

XXXXIII.
kiete mo sen ariake tsuki no hama chidori

Logo se esvaecem
Como a lua na alvorada —
Maçaricos da praia.

Chora

XXXXIV.
kadobata ya neko o jarashite tobu konoha

As folhas caindo
Na roça em frente ao portão
Divertem o gato.

Issa

XXXXV.
shizukasa ya ochiba o ariku tori no oto

Quietude —
O barulho do pássaro
Pisando folhas secas.

Ryûshi

XXXXVI.
hakikeru ga tsui ni wa hakazu ochiba kana

Varrer o chão
E então parar de varrê-lo —
Estas folhas secas.

Taigi

XXXXVII.
taku hodo wa kaze ga motekuru ochiba kana

Dá para uma fogueira —
O tanto de folhas secas
Trazidas pelo vento.

Ryôkan

XXXXVIII.
hyaku nen no keshiki o niwa no ochiba kana

Cem anos de idade —
A paisagem das folhas
Caídas no jardim.

Bashô

XXXXIX.
furudera no fuji asamashiki ochiba kana

Tão miseráveis,
As glicínias sem folhas
Do velho templo.

Buson

L.
nishi fukaba higashi ni tamaru ochiba kana

Soprando o vento do oeste,
Ajuntam-se a leste
As folhas caídas.

Buson

LI.
hito chirari ko no ha mo chirari horari kana

Algumas pessoas.
Folhas caem também
Aqui e ali.

Issa

LII.
daiko-biki daikon de michi o oshiekeri

O plantador de nabos,
Apontando com um nabo,
Ensina o caminho.

Issa

LIII.
negi shiroku araitatetaru samusa kana

As cebolinhas
Lavadas e tão brancas —
Que frio!

Bashô

* Seleções de Haikais clássicos japoneses, extraídos do site:

http://www.kakinet.com/cms/index.php

Nota do poeta: O site Caqui autoriza a divulgação dos haicais (originais e traduzidos) desde que citado o endereço do próprio site.

Como encontramos o nome do tradutor estamos também citando o seu belo trabalho: Edson Kenji Iura publicou na coluna "Um Mestre Japonês" da página "Haicai Brasileiro" do Jornal Nippo-Brasil (São Paulo), entre 1999-2003.

Os haicais originais foram extraídos de diversas fontes:
1. Blyth, R.H. Haiku. Tóquio, Hokuseido.
2. Blyth, R.H. A history of haiku. Tóquio, Hokuseido.
3. Franchetti, P. Haikai, antologia e história. Campinas, Unicamp.
4. Maruyama, K. Issa haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
5. Matsuo, Y. Haiku jiten kanshô. Tóquio, Ôfûsha.
6. Mizuhara, S. e outros (ed). Nihon dai-saijiki. Tóquio, Kodansha.
6. Nakamura, S. Bashô haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
7. Ogata, T. Buson haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
8. Yamamoto, K. Bashô sanbyaku-ku. Tóquio, Kawade.

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Tuesday, July 20, 2010 - 18:27

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Aconchegantes, Os raios do

Aconchegantes,
Os raios do sol de inverno —
Mas que frio!

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