Minha ex tentou me matar

Durante um longo tempo parei para refletir sobre o acontecido. Não percebi as artimanhas que eram tramadas diante da minha vista. Os subterfugios usados por ela confundiam minha mente um tanto insana e inebriada pela paixão que exalava do meu ser. Foi um golpe duro de assimilar.

Perambulei por um longo período na esperança de que aquilo não fosse exatamente o que agora eu contemplava diante das minhas vistas. Ledo engano o meu. Era exatamente o golpe mortal. Sem misericórdia e sem compaixão. Estava ali, estático, paralisado de pavor. Como pode acontecer tamanha crueldade?

Era a visão de um deserto escaldante, castigado pelo sol a pino e a luta desesperada de um inseto para não ser consumido pelo calor abrasador do meio-dia. Era o desespero do condenado diante do carrasco e a guilhotina. Nada parecia salvar-me daquela situação. Preso, algemado em grossas correntes olhava desesperado para o machado que o carrasco erguia lentamente.

Debatia-me diante do pavor mortal que me acometia. Medo, pavor, desespero e uma insegurança cruel invadia o meu coração. Não havia saída. Pelo menos era o que eu pensava. E eu lutei. Bravamente. Suei gotas de sangue na ânsia de me livrar de destino tão medonho.

Engraçado. Por um momento eu pude ver os olhos dela. E eles me revelaram tudo. Como num flash eu pude entender. Não era ela que me aprisionava. Não, de forma nenhuma. Ela era apenas um vulto na imensidão que crescia nas sombras e me provocava pavor. Um hiato na escrita da minha vida. A musa que eu amava loucamente. A estátua que eu adorava. E isso era a minha prisão. O mundo dela era outro. Muito diferente do meu.

O machado erguido acima da cabeça do carrasco e ofuscado pelo brilho do sol, derrepente parou no ar. Afinal, o que era aquilo? Ela estava ali estática. Uma faixa enorme estampava seu semblante angelical: vai, meu amor, você é livre! Entendi tudo. Nossa, porque não percebi isso antes. Ela nunca havia me amado. Era o sentimento que eu nutria por ela que me fazia crer nisso.

Que alívio! Não vou morrer mais. Não de paixão por ela. Nem vou sofrer. Não de apego ou medo de a perder. Porque, uma coisa que nunca foi sua, como pode você perder?

O carrasco desce lentamente a sua lâmina e passa as mãos na minha cabeça: Nossa, como você é bobo! E foi ai que percebi o crime. Ela tentou me matar. De medo, de solidão, de tristeza, de abandono. Nada disso funciona. Não agora. Jamais.

Sinto a leveza dos meus passos porque as correntes não me prendem mais. Minha cabeça está leve e fresca como se tivesse sido molhada pelo orvalho da manhã linda que floresce. A liberdade de expressar o meu sentimento já não é mais censurado e aqui estou. Em uma nova vida que se inicia hoje.

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Friday, March 19, 2010 - 02:11

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Odairjsilva

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Maravilha acordar de um pesadelo, olhar em frente e seguir um novo caminho! Abraços

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