O monstro
♦
O Monstro
Dentro de cada um de nós, há um monstro. O meu? Tenho-o bem preso, no sótão. Ruge, o estupor. As terras movem-se pelas paredes, atirando os quadros ao chão, mas eu, bem encostado a elas, aproximo-me e chibato-o.
Quando o segurei, quase morri, mas desfaleço, quando a sua respiração ressoa.
Está algemado com anilhas grossas, bem argoladas. Tem duas mãos e duas pernas, se é que dá para acreditar. O bicho!
Não tinha o metal que me agradasse, e por isso, fui por ele, fingido, em pedras rudes nos altos cumes da minha raiva. Como eu cinzelei, e bati, e cerrei os dentes, e me deitei sobre os penedos em gritos. Desci.
Cravei as correntes nas paredes cavernosas, com espigões a quarenta e cinco graus, dirigidos para mim; pelo menos, sempre tem mais alcance quando atiradas.
E os elos? Ai, esses, as feridas em sangue que deixaram no bordá-las com a carne, sempre em sangue. Fiei, cada um dos fios bem temperados, pelo meu querer, muito devagar, e depois, juntei-os a outros, entrelaçando-os de novo, no aparecimento de um fio mais grosso. E nessa lógica, começando da força mais frágil, sempre a ser somada a outras, bordei o elo final com nós de marinheiro. O retoque final, a da soldadura, que alisa a sua forma, tornando-a uniforme e reflexa, foi dado pela minha saliva sulfúrica, quando a lambi nos meus olhos enlouquecidos a vermelho vivo, no mabeco ferido que saboreia o osso, ao lado dos rivais mortos, e que não respeitaram a hierarquia. Depois…depois ri-me, num gargalhar muito rebolado e requintado, com o braço bem levantado ao queixo, e a mão efeminadamente saída para fora, pois já estava na fronteira do género, e era apenas um raio sagaz que ganhava forma pungente na separação das águas; a de quem bate na mesa mostrando os dentes caninos gotejantes, e viola com o olhar.
É escusado. Eu não cedo, só tenho uma ínfima coisa, feita de algo para dar. Sim, última: a minha morte, e essa, têm de a matar.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 805 reads
other contents of Jorgelupus
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
![]() |
Videos/Profile | 1116 | 0 | 1.029 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1115 | 0 | 1.127 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1114 | 0 | 1.018 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1113 | 0 | 1.047 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1112 | 0 | 1.057 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1111 | 0 | 997 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1110 | 0 | 1.124 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1109 | 0 | 1.008 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1108 | 0 | 1.126 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1107 | 0 | 1.034 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1106 | 0 | 1.025 | 11/24/2010 - 23:10 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1103 | 0 | 1.004 | 11/24/2010 - 23:04 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1105 | 0 | 1.073 | 11/24/2010 - 23:01 | Portuguese |
![]() |
Videos/Profile | 1104 | 0 | 1.034 | 11/24/2010 - 22:55 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 3295 | 0 | 1.027 | 11/24/2010 - 00:54 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 3290 | 0 | 944 | 11/24/2010 - 00:54 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 3291 | 0 | 3.033 | 11/24/2010 - 00:54 | Portuguese |
Prosas/Mistério | Arrábida | 0 | 885 | 11/19/2010 - 00:08 | Portuguese | |
Prosas/Tristeza | síndrome | 0 | 843 | 11/19/2010 - 00:05 | Portuguese | |
Prosas/Saudade | mágoa | 0 | 809 | 11/19/2010 - 00:05 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | O monstro | 0 | 805 | 11/19/2010 - 00:03 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Árvore sentida | 0 | 709 | 11/18/2010 - 16:02 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Árvores suspensas | 0 | 812 | 11/18/2010 - 16:01 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Vale das Sombras | 0 | 724 | 11/18/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Prosas/Tristeza | Portugal era um império... | 1 | 852 | 06/12/2010 - 21:30 | Portuguese |
Add comment