Indiferença

Indiferença

I

Busquei a perfeição do toque
Da grafite no branco do papel
Branca como espuma flutuante
Densa como o navegar de mastros.

Passos, passos, passos
Navio de linho enegrecido
Ancorado no arcabouço do Oceano
Tu queres uma morada no flamengo ou em brasiliana.

Vagos passos
Vagos homens
Vagos mastros,
Que navegam.

Desabrochar
Necessidade
Amor
Maresia
Mormaço
Fantasia
Morte.

Ah, a morte mata o homem
Que quer matar a morte que vive
Vive longe, muito longe
Lá pras pancadas do mar.

II

A matéria vive
A matéria não morre de fome
O homem sobrevive
Em sua couraça.

As ruas me dão medo
As casas me remetem medo
Tenho medo deste teatro
Em que todos usam máscaras.

Máscaras de politicagem
Máscaras de ladroagem
Máscaras de esposas perfeitas
Máscaras de choferes
Máscaras de assassinos
Mas máscaras.

E quando perdem a máscara
Os homens ficam loucos.

III

Medo, medo, medo
A arte esta morta
E as cores para não ficarem tristes
Foram pedir esmolas na Bezerra de Menezes.

Asco, asco, asco
Cansaço.

IV

Tenho vontade de tomar um copo com cianureto
Mas todo mundo sabe que bebida é coisa séria
Beber em Copacabana é diferente,
É diferente de beber na Beira mar
É diferente de beber numa favela
É diferente
Mas o gosto é o mesmo.

A última vez que tomei cianureto
Era em dia claro de inverno
Amores, tédio, medo, solidão
Foi isto que me fez beber.

Antes escrevia poemas para homens
Hoje. Ah.
Hoje escrevo para os mortos.

Para Anderson Gomes Ávila Mendes

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Lunes, Mayo 3, 2010 - 06:35

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Comentarios

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Re: Indiferença

Bom poema!!!

:-)

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Re: Indiferença

Bonita homenagem , acredito ser bom lembrar dos mortos com carinho e desejar-lhes que estejam em Paz.
Abraço
Susan

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