Vénus

Vénus

I

À flor da vaga, o seu cabelo verde,
Que o torvelinho enreda e desenreda...
O cheiro a carne que nos embebeda!
Em que desvios a razão se perde!
Pútrido o ventre, azul e aglutinoso,
Que a onda, crassa, num balanço alaga,
E reflui (um olfato que se embriaga)
Como em um sorvo, murmura de gozo.
O seu esboço, na marinha turva...
De pé flutua, levemente curva;
Ficam-lhe os pés atrás, como voando...
E as ondas lutam, como feras mugem,
A lia em que a desfazem disputando,
E arrastando-a na areia, co'a salsugem.

II

Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina...
_ Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!
Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparência luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.
E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrágios, perdições, destroços!
_ Ó fúlgida visão, linda mentira!
Róseas unhinhas que a maré partira...
Dentinhos que o vaivém desengastara...
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos...

Camilo Pessanha

Submited by

Jueves, Abril 9, 2009 - 23:22

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

CamiloPessanha

Imagen de CamiloPessanha
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 13 años 24 semanas
Integró: 04/09/2009
Posts:
Points: 150

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of CamiloPessanha

Tema Títuloordenar por icono Respuestas Lecturas Último envío Idioma
Poesia Consagrada/General Ao longe os barcos de flores 0 683 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Ao meu coração um peso de ferro 0 723 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Branco e Vermelho 0 292 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Fotos/Perfil Camilo Pessanha 0 931 11/24/2010 - 00:37 Portuguese
Poesia Consagrada/General Caminho 0 768 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Canção da Partida 0 719 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Castelo de Óbidos 0 638 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Chorae arcadas 0 603 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Crepuscular 0 341 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Depois da Luta e Depois da Conquista 0 298 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Depois das Bodas de Oiro 0 322 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Desce em Folhedos Tenros a Colina 0 336 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/Soneto Desce em folhedos tenros a collina 0 641 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General E eis quanto resta do idílio acabado 0 865 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Em um Retrato 0 336 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Estátua 0 513 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Esvelta surge! Vem das aguas, nua 0 859 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Final 0 696 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Floriram por Engano as Rosas Bravas 0 326 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Foi um Dia de Inúteis Agonias 0 298 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Fonógrafo 0 765 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General II A Morte, no Pego-Dragão 0 576 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Imagens que Passais pela Retina 0 367 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Inscrição 0 613 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/General Interrogação 0 633 11/19/2010 - 16:49 Portuguese