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ODES ANACREONTICAS XI
11
Armia
(Pastoril)
Tardi's avvede
D'uo tradimento
Chi mal di fedo
Mancar non sa.
Metast., Clemene. di Tit...
Att. II, Se. I.
Já tinha a noile estendido
O véo de estrellas bordado,
Estava-o campo deserto,
Mudo o vento, o mar calado :
Quando Elmano, o triste Elmano
Para desgraças nascido,
Suspirava, em amorosos
Pensamentos embebido.
A lyra, que n'outro tempo
Sanhudas feras domava,
Rochedos embrandecia,
Turvos áres azulava.
A lyra, que d'antes fôra
Recreio e gloria de Amor,
Já não adoçava as magoas,
Do consternado pastor.
Jaziam pela violencia
Das paixões, e dos destinos
Rotas as cordas brilhantes,
Que espalharam sons divinos.
A descorada Tristeza
Posse do infeliz tomava,
E viçosas esperanças
Em desenganos trocava.
Armia, a formosa Armia,
No coração lh'as plantou ;
Armia, a perfida Armia,
No coração lh'as murchou.
Seu definhado rebanho
Em torno d'elle balava,
Que de si mesmo esquecido,
Só de Armia se lembrava.
Rouca a voz, pallido o rosto,
Junto ao Tejo susurrante
Pranteava solitario
D'est'arte o misero amante:
« Echos, que moraes nas grutas,
Ondas, ventos que dormís,
Ah! Como não vos despertam
Clamores de um infeliz !
«Vós, a quem tenho enviada
Tantas queixas, tantos ais,
Sois surdos, sois insensiveis,
Oh céos, que mo não vingaes !
«Por vós a traidora Armia
Jurou de me ser leal;
Vingae, profanados numes,
Vosso respeito, e meu mal.
«Ah ! Porque não quiz minha alma
Crêr nos presagios, que ouviu,
Quando Armia os falsos votos
N'este logar proferiu ?
« Subito as ondas bramiram,
Todo o ar se ennegreceu,
Seccou-se aquelle ribeiro,
Aquella rocha tremeu.
« Horrendo á parte direita
Funesto corvo grasnou;
Tres vezes a ouvi, tres vezes
Junto de mim revoou.
« Estremeci, mas a ingrata
Que me despreza, e me enjeita,
Não palpitou; já vivia
A taes enganos subjeita.
« Já mil amantes por ella
Haviam sido enganados:
Já mil vezes tinha ouvido
Predizer-lh'o a voz dos fados.
«Eu inda então não sabia
Que o semblante, e o coração
Differem; julguei-lhe a alma
Pela ext'rior perfeição.
«Ditoso de mim se crêra
No que o céo me annunciou !
Mas Armia co'um sorriso
Meus terrores dissipou.
«Em torrentes de delicias
Engolphado o pensamento,
Me esqueci de que não póde
Durar o contentamento.
«Quando os humanos protejes
Oh Fortuna, a condição
Com que outorgas teus favores
E' a curta duração.
«D'esta amargosa verdade
Posso, posso exemplo ser
Eu, que nos olhos de Armia
Bebi celeste prazer.
«Ah! Para que vens pintar-me,
Para que, fatal memoria,
Os luminosos instantes
Da minha perdida gloria ?
«Gados, bosques, fontes, penhas,
Arvoredos, prados, flores,
Vós, vós fostes testemunhas
De meus ditosos amores.
«Quantas vezes no regaço
Do meu bem, da minha amada
Lancei recentes boninas,
Dons da estação namorada !
« Quantas vezes ajudado
Dos Amorinhos, com ellas
Lhe augmentava a formosura
Das longas madeixas bellas !
« Quantas vezes a teu lado,
E á sombra de antigo ulmeiro,
Quando o sol se ia sumindo
Por detraz d'aquelle outeiro:
«Misturei com meus prazeres,
Falsa Armia, os teus louvores,
Adormecendo os Favonios,
Pondo inveja aos mais cantores !
«Ao som da amorosa lyra
Meus brandos versos voavam;
Eram teus olhos piedosos
As Musas, que me inspiravam.
« Fitos, pasmados, absortos
D'alta gloria os meus enchiam:
Mil desejos me pintavam,
Mil segredos me diziam !
«Mas n'elles só não fiada,
Tambem co'a voz maviosa,
Tingindo-te a face em tanto
Lindo pejo côr de rosa.
«N'estas fagueiras palavras,
Cortadas de ternos ais,
N'estas mimosas palavras
Que te não hei de ouvir mais;
« — Quando em Armia (affirmavas)
Feias traições encontrares,
Verás, suspirado amante,
Unidos os céos, e os mares.
« — Só tu, meu bem, me arrebatas
A vontade, o pensamento;
Vivo de vêr-te, e de amar-te,
E detesto o fingimento.
«Teu coração desafoga,
Que entre temores fluctua;
Não desconfies, Elmano,
Não temas, pastor, sou tua.»
Cuidei que a voz da verdade
Soava na voz de Armia...
Deuses! Céos! Que horror! Que assombro!
A deshumana mentia.
Não duraste longamente,
Encantadora illusão !
Desfez amarga exp'riencia
Os phantasmas da paixão.
Dareis credito, mortaes,
Ás perfidias, que lamento?
Oh terra, treme ! Apagae-vos,
Oh luzes do firmamento !
Armia, que ser só minha
Votara ao deus dos Amores,
Recebe, acolhe, premêa
Mil cultos, mil amadores.
Cançada já de fingir
Me aborrece, me desdenha,
E em azedar meus tormentos
Toda a tyrannia empenha.
Aquella, por quem movido
De ufano, accezo transporte,
Ás vezes me presumia
Superior ao Fado, e á Morte;
Meus ledos competidores
Sem pejo. sem custo afaga,
E pelo rasgado peito
Me vae dilatando a chaga.
Ai de mim ! Nem quer ouvir-me
Tristes ais, tristes queixumes;
Manda que soffra calado
Os devorantes ciumes !
Fero Amor, e assim me roubas
O siso, o prazer, e a paz ?
Os fructos, que tens, são estes ?
Estes os premios, que dás ?
Bem como em agra montanha
Descuidado caminhante,
Contemplando a face pura
Do céo risonho, e brilhante:
De repente, quando a planta
Mover distraído vae,
Em precipicio profundo
Faltando-lhe a terra, cáe:
Assim do alteroso cume
Da minha fallaz ventura
Caí no medonho abysmo
Da desgraça, e da amargura.
Ah desleal, que em meus males
Sacias tua fereza,
Que estimas vêr-me penando
Entre as garras da tristeza !
Se ninguem seus fados vence,
Se é meu fado arder por ti,
Suspirar, morrer d'amores,
Ao menos não seja aqui!
Se a vida, que tu condemnas
A tormentos, e anciedades,
Hão de roubar-me desprezos,
Antes m'a roubem saudades.
Não posso (ai de mim !) não posso
Vingar minhas afflicções,
Proferindo em tua affronta
Raivosas imprecações:
Não temas que pelos troncos
Vá teus enganos lavrar;
O terno, infeliz Eimano
Nasceu para te adorar.
E a traição, que em tantas almas
Com raiva, com odio vi,
Doce ingrata, me parece
Menos horrorosa em ti.
Adeus, eu parto a sumir-me
Nas sombras d'erma floresta,
Até perder a cançada
Vida fatal, que me resta.
Ali do mocho agoureiro
Me ha de ser suave o canto;
Ali, sem que te dê gloria,
Livre correrá meu pranto.
Ali não verei ao menos
Desvanecidos rivaes,
A cevar-se em meus martyrios,
A sorrir-se de meus ais.
Mas ah! Se oppostos não fossem
Os sentimentos em nós,
Loucos, Elmano podia
Ser tão feliz como vós.
Vós suspiraes pela posse
Das externas perfeições;
Vós cubiçaes os deleites,
Eu cubico os corações.
Fartae-vos de ouvir mil vezes
Juramentos de paixão,
Que profere a voz de Armia
Sem que o saiba o coração.
E vós, quando o quiz a Sorte,
Meu prazer, cuidados meus,
Cordeirinhos, ovelhinhas,
Amado rebanho, adeus!
Eis para sempre vos deixa
O vosso infeliz pastor;
Vae findar seus turvos dias,
Triste victima de Amor.
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