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Cinderela estúpida
Meia-noite
Cinderela voltou a perder o sapato
Por quanto tempo andarás descalça de novo
Esfregarás os trapos no borralho
Varrerás o chão?
Por quanto tempo vaguearás a tua pobreza
Na casa usurpada
Feita escrava de servos?
Cheia de graça Cinderela
Não eras tu que bailavas, não eras tu
Cinderela foi o que sonhaste
Bailaste sonâmbula no chão da cozinha
E não era pedra negra o chão
Era mármore fino
Os restos da mesa, lauto banquete
E a vela era lustre
E tão brilhante a lareira apagada
Tu só, eras tudo
O vestido cetim de trapo roto
A tiara de prata no cabelo
As moças e moços volteando
Os lustres, os criados de libré
Os pianos, os oboés, os violinos
Tudo tu
Pequena Cinderela azul
Tu eras a música, o rei e a rainha
Os braços do príncipe com quem dançavas
As nuvens dos teus sonhos que te perdiam
Esquecida de tudo, até do tempo
Eras sempre tu
E eram de oiro os olhos do príncipe
Suaves os seus beijos e quente a voz
Doce e distante a música que te embalou
O sussurro da música
Os outros
Longe, longe
Cinderela azul que o tempo urge
Corre veloz, agarra o sapato
Os sonhos só duram enquanto sonhas
Se deixas o sapato
Vais andar descalça
Mas vai ligeira
A meia noite já bate
Tens na mão a vassoura
Teias de aranha nos cabelos, um trapo no corpo
E estás descalça, gelada
Estás morta, Cinderela azul.
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Ministério da Poesia :
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