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A Chave - Capítulo II – Chegada a Nerja

Já passava das dez da noite quando cheguei a uma pequena vila. Havia luzes ténues que emergiam das casinhas pequenas e brancas. Por trás delas via os reflexos dourados do sol a delinear as montanhas e que servia de horizonte do lado oposto à costa. Segui um pouco mais lentamente pelas ruas estreitas, tentando descortinar um albergue. Iria passar ali a noite – amanhã, veria o que o lugar me oferecia... Depois de me acomodar, ainda sem desfazer as bagagens, decidi sair um pouco e andar a pé. Talvez até à praia... bem, até onde o caminho me levasse. Não podia perder-me aquela hora da noite, pois não encontrava viva-alma na rua a quem me dirigir para pedir informações.
As casas perfiladas, mesmo à face da rua eram quase iguais, mas cada uma tinha algo que a tornava singular em relação às outras. Ao fundo da rua, encontrei uma praça com um gradeamento de varanda lá ao fundo. Do lado esquerdo, uma edificação de arcos decorada por pequenos vasos com plantas. A meio da praça havia um canteiro alto, redondo, com uma palmeira no meio. Para além disso, só se conseguia ver o mar. Dirigi-me até lá. Visões inesquecíveis que ficaram para sempre na minha memória. A sua beleza era indescritível. Uma varanda virada para o imenso oceano. Ouvia o som de minúsculas ondas a bater nas rochas, lá em baixo. Ouvia o ritmo do meu coração, de tão forte que batia, parecia o ribombar de um tambor. E continuava a ouvir aquela música... olhei em volta para tentar descobrir de onde vinha. Vagueei um pouco para tentar ouvir de que lado o som vinha mais forte. Mas de todas as maneiras, a música tinha sempre a mesma intensidade e... parecia vir de dentro de mim. Sim, aquela música estava na minha mente e três sentidos se uniram – visão, audição e cheiro – para me trazerem uma paz de espírito, uma leveza de alma que não me recordava de sentir nos meus últimos 20 anos.
As montanhas já não tinham o reflexo dourado do sol a delinear o seu perfil, mas conseguiam-se distinguir em contraste com um céu claro, estrelado e com lua cheia. Seguindo o azul do céu para o lado oposto, podia encontrar este a tocar o mar, tendo uma linha prateada a indicar-nos o ponto de encontro entre os dois. Segui até à praia e sentei-me, descalça na areia. Respirei fundo e fechei os olhos. A música era cada vez mais nítida e dei comigo a nasalá-la. Quando abri os olhos, duas lágrimas correram-me pela face, mas eram lágrimas de alegria, as que me molhavam a pele. Levantei-me e caminhei até à areia molhada, onde as ondas morriam, também felizes. Quando me apercebi, estava a dançar... não sei há quanto tempo tinha começado, mas quando parei, ouvi alguém bater palmas. Olhei para trás e vim um vulto encostado a um dos guarda-sóis feitos de cana que se encontravam afilados ao correr da praia. Pela estatura, parecia um homem, apesar de estar longe demais para descortinar as suas feições. Tinha um chapéu de abas esfarrapadas, pelo que dava para descortinar pela sombra lunar que fazia no chão. Sem recear nada – o que havia de recear? – aproximei-me até ficar a escassos passos dele. Sim, era um homem... e sorria perante a minha descontracção.
- Noite esplêndida, perfeita para a aparição de musas, não é verdade? – ele foi o primeiro a falar.
- Musas? Como assim? – de repente, apercebi-me de uma particularidade – ei... português?!
- Eu sou português, de gema! Musas a dançar na areia para inspirar os poetas. Podemo-nos tratar por tu, já que somos compatriotas? Acenei o meu consentimento ainda muda pela surpresa – Vem até aqui, mais perto da luz para que te possa ver melhor.
- Interessam-te as características físicas?
- Para já ainda não, somente gosto de falar com os olhos e se não vejo os teus, como podem eles falar? Tens medo?
- Medo?! Não, até que, nesse aspecto concordo plenamente contigo. Conversa não pode ser mais franca do que a que se fala com os olhos.
Aproximámo-nos de um dos candeeiros de petróleo que iluminavam as mesas de uma esplanada.
- Como vieste aqui parar? Férias? – perguntei.
- Férias prolongadas indefinidamente, enquanto me sentir bem aqui. Trabalho aqui, mas o meu trabalho dá-me tanto prazer que nunca me sinto cansado. Aqui as coisas fazem-se calmamente, e os visitantes gostam assim, vêm aqui para relaxar. Por isso, os antigos vem cá sempre e trazem sempre novos. E tu, o que te trouxe ao paraíso? Férias ou fuga?
- Ambas: férias permanentes e fuga à loucura das máquinas sociais. Achas que este é o lugar que eu procuro?
- Procuravas, não procuras mais porque já encontraste. Agora falta o lugar encontrar-te a ti. Amanhã vais ver se não me dás razão.
- Desafio lançado – sorri, de mãos nos bolsos, descontraidamente – então vemo-nos amanhã, é?
- Vais ver-me sempre que quiseres. O meu bar está aberto todos os dias da semana e, quando não estou no bar, estou em casa que é no andar de cima. É só tocar... está a vontade! E...
- Diz...
- Sabias que tens mesmo o sorriso de uma musa?
Sorri outra vez – Porque dizes isso, já viste alguma?
- Porque o teu sorriso inspira-me. Boa noite, descansa bem e sonhos musicais para que tu possas dançar neles – agora foi a vez dele sorrir.
- Pensas que só tu és o poeta? Esse teu sorriso também me pode inspirar – olhei-o misteriosamente, brincando – dorme bem e sonhos inspiradores para que neles possas sorrir. Até amanhã!
Voltei ao “hostal” onde tinha deixado as minhas coisas e dirigi-me ao meu quarto após ter, alegremente, desejado boa-noite ao senhor que se encontrava na recepção. Tomei o meu duche e deitei-me, mas não conseguia dormir. Não, aquela pequena conversa tinha-me apurado a curiosidade... seria realmente este o lugar que eu procurava? E aquele conjunto de três sentidos voltou a trabalhar. Aquele cheiro a terra molhada que me deliciava as narinas e fazia o meu coração bater mais forte; a música que sempre o acompanhava e vinha de dentro de mim; fechei os olhos e todas as imagens retidas na minha memória, desde a hora em que cheguei aquele lugar passavam a minha frente como se fosse um filme... daqueles filmes em que eu sinto prazer de os ver agora, mais tarde e mais uma vez ainda, eternamente, sem nunca me cansar. Dormi um pouco.

Domingo, 3 de Setembro de 2000
Contrariamente ao que era usual, acordei bem disposta e, mais uma vez, a nasalar a música que ouvia dentro de mim. Prometi a mim mesma tentar passá-la para o papel... mais tarde: não havia pressa. Abri a janela do quarto e olhei lá para fora. Pensei que ia ouvir burburinho de uma multidão, motores de automóveis... mas não, as únicas vozes que ouvia eram vindas mesmo debaixo da minha janela – duas crianças a brincar na rua. Quando se aperceberam da minha presença, acenaram-me ao que eu respondi da mesma forma, sorrindo com ternura. Desci para um encontro com o pequeno-almoço e, depois de satisfeito o meu apetite, sai para a rua, equipada para ir até à praia. As crianças continuavam a brincar, mas não deixaram de me dirigir a palavra:
- Holla, que tal?
- Holla, bien e vosotros? – à minha resposta, eles deram uma risada. Talvez pela minha tentativa de falar espanhol, com o meu sotaque “arranhado”.
Pensei que nesta altura do ano ia encontrar a praia apinhada de gente, mas enganei-me – não a esta hora. Para além de uns grupos familiares aqui e acolá, só avistei mais dois casais. Mais para não incomodar do que para não ser incomodada, instalei-me um pouco afastada de todos, tentando manter a distância que eles tinham já entre si, mas os dois casais acenaram-me para que eu me aproximasse. Eram estrangeiros; no entanto, tentaram falar espanhol comigo, pensando que eu era uma nativa. Depois de me ter apercebido a sua nacionalidade, expliquei-lhes que não era dali.
No entanto, vou tentar traduzir o diálogo que se desenvolveu entre nós.
- Que fazes aqui? Férias?
- Não propriamente. Ando à procura de um lugar para me instalar para sempre. Acho que já encontrei: este parece o ideal. – Porque seria esta pergunta tão frequente? Depois do dono do “hostal”, foi o homem do bar e, agora, os turistas... – E vocês?
- Nós estamos aqui de férias. Fomos os primeiros a vir aqui, no ano passado. Este ano, trouxemos estes nossos amigos e eles estão encantados. Já estão a planear ficar mais tempo do que o previsto... não sei, talvez uns meses... – disse uma das raparigas sorrindo, com um ar matreiro, mas feliz – disseram-nos que existe aqui perto um lugar onde aceitam estacionamento de carrinhas de habitação. Não é um parque de campismo, entendes? É uma espécie de descampado onde os hippies se concentravam há uns anos atrás. Trouxemos uma velha VW e eles pensam ficar por lá durante uns tempos. Nós voltaremos de comboio.
A rapariga falava por todos – estavam felizes por estarem ali, mas só ela conseguia exprimi-lo por palavras.
- E tu, já estás instalada?
- Não, para já estou num “hostal”, mas vou começar a procurar um bungalow e, mais tarde uma ocupação.
- Vais tentar trabalhar aqui?
- Não vou ficar parada. Não é um emprego, entendes? É algo que eu sinta ser produtivo que me incentive para a vida...
- Entendo. Vais investir...
- Sim, é um investimento, mas não de grande significância material. E um investimento de mim própria, da minha personalidade.
Não obtive resposta. Provavelmente, pensaram que eu estava a sonhar alto. Depois de termos combinado encontrarmo-nos no bar do português para jantar, e termos dado uns mergulhos mediterrânicos (eu explico: é daqueles que se tem que andar centenas de metros pelo mar dentro para não se bater com a cabeça na areia), deitámo-nos todos ao sol a secar e a tostar.
De regresso ao hostal, para mudar de roupa antes de me juntar aos outros para jantar, vi as mesmas crianças. Já não estavam a brincar: estavam sentadas em pequenas cadeiras de plástico em frente a uma pequena mesa, também de plástico, a comer um fausto lanche.
- Holla guapos, vuestras tapas llenan bien!...
Mais umas risadas como resposta. Tinha quase a certeza que tinha cometido mais uma “gafe” no meu espanhol. Não era importante e as crianças estavam a divertir-se à custa da minha esforçada tentativa: simpatizavam comigo e eu com elas – óptimo!, mais dois amigos...
Depois do meu duche refrescante, vesti-me para ir jantar. Mais uma brincadeira com os miúdos, mais uma risada de oferta e um “adios”.
Quando cheguei ao bar, eles ainda não tinham chegado. Instalei-me num grupo de três mesas juntas e esperei para ser atendida. Não procurei empregados: apenas me sentei, recostada na cadeira, de pernas estendidas debaixo da mesa a ler o menu. Por fim, ouço uma voz já conhecida, mesmo perto do meu ouvido esquerdo:
- Vejo que já estás a adaptar-te ao ambiente. Estás à espera de alguém?
Olhei para o meu lado esquerdo, mas não vi ninguém tão perto. Olhei para o lado oposto e deparei-me com uma face sorridente, pele bronzeada, dentes brancos em contraste.
- Sim, vim dar-te razão. Este lugar já me cativou. Não te vais ver livre de mim tão facilmente – respondi com um sorriso, também – estou à espera de dois casais que encontrei hoje na praia. São estrangeiros, mas um deles está a pensar seriamente em ficar por cá... Aí estão eles!
- Por acaso, não estás a pensar que eles vão ficar aqui pelas mesmas razões que tu... ou estás? – sussurrou-me esta pergunta num tom desconfiado – se puderes, fica para o fecho do bar. Preciso de falar contigo.
Olhei-o nos olhos intrigada, mas não respondi. Porque quereria ele falar comigo? Entretanto, eles aproximaram-se e houveram as apresentações. Estávamos todos à mesa a ver o menu e foi ideia geral cada um pedir um prato diferente para todos provarem um pouco de tudo. Durante o jantar, a voz da mesma rapariga era predominante, mas já todos falavam. Começaram a contar-me sobre os seus planos para os próximos dias e eu comecei a entender a razão da pergunta do meu amigo, dono do bar (não sei porque, mas considerei-o meu amigo logo após a conversa que tivemos na noite em que cheguei àquele lugar). Eles tinham como objectivo divertir-se o mais possível naquelas semanas que se seguiam e o casal que ia ficar mais tempo era o que reunia mais condições para tal (financeiras e temporais). Era só por isso que eles iam ficar mais tempo – nada mais. Não os menosprezei, muito pelo contrário. há uns anos atrás, nas mesmas condições, eu faria o mesmo. Para além disso, restava-me uma pequena esperança de que eles iriam ver este lugar de um outro prisma, dentro de poucos dias. E foi sentada num banco ao balcão, depois de me despedir deles, que eu comentei este pensamento com o meu amigo. Ele olhou-me longamente, mas não disse nada. Fiquei, mais uma vez intrigada...
O bar fecharia dentro de um quarto de hora e eu acedi esperar por ele. Não estava com sono; nem tão pouco cansada. Por isso, ofereci-me para o ajudar no fecho, ao que ele agradeceu com aquele sorriso que eu já conhecia.
- Ainda vou escrever sobre esse teu sorriso – disse eu brincando. Mas não estava a brincar. Era um sorriso transparente, sem falsidades, sem hipocrisias. Era uma pessoa que nunca sorriria se não tivesse motivo para tal. E isso tranquilizava-me. – Querias falar comigo...
- Queria e ainda quero. Gostava de te conhecer melhor, saber quem tu és e o que pensas. Se quiseres, estás à vontade para quereres o mesmo de mim.
- Queres que abra o meu coração... E estás disposto a abrir o teu também... assim, a uma estranha...
- Se confiares em mim para o fazeres, não és mais uma estranha. Para além disso, já não és estranha desde o dia em que chegaste aqui e te vi dançar na areia. Podes não acreditar, mas já escrevi sobre ti. Agora gostava de saber se não me enganei naquilo que me pareceu ver em ti. Podemos ir trocando informações reciprocamente, para não te sentires insegura.
- Se assim o quiseres... mas não me sinto insegura. Desde que cheguei aqui, apesar de me sentir nas nuvens, estou com os pés assentes no chão, mais do que nunca – sei o que quero e não tenho medo de me exprimir.
- Bem, olhando-te bem nos olhos, posso ver que, apesar da tua feminilidade, és capaz, és forte de espírito e, acima de tudo, vencedora. Coisa que muitos homens ambicionam ser, mas não conseguem lá chegar. Sei que isto faz parte da tua personalidade, mas houve algo no teu passado que te levou a melhorar ainda mais esta tua faceta... queres contar-me algo?
- O meu passado está arrumado num sótão, devidamente organizado e classificado cronologicamente por erros cometidos ao longo de toda a minha vida. Não me atrevo a tocar-lhes, mas quando uma nova situação se me depara, vou olhá-los para não correr o risco de vê-los repetidos. Também tenho coisas boas, momentos belos, recordações únicas. Esses sim, eu pego neles sempre que me sinto triste e só e, com eles em meu poder, sonho acordada para afastar a tristeza e a solidão. Tenho também os meus medos, mas evito-os para não lhes dar importância. Por vezes, quando me sinto mais forte, até luto contra eles, rio-me perante o perigo – Fiz uma pausa para o ouvir. Ele estava boquiaberto e eu não sabia o que tão extraordinário o tinha posto naquele estado. – Que pasa hombre? Porque me miras asi? – e sorri para aliviar a corrente que parecia prendê-lo.
- Deus meu! Este ideal não me é estranho de todo! Um amigo, muito amigo meu, costuma falar assim, nestes termos, sobre o seu passado...
- Na realidade, este ideal não é de autoria minha. Li sobre isto; algo que um amigo meu me escreveu e nunca mais esqueci... não deve ser a mesma pessoa... abrimos mais um pouco este “livro”?
- Sim, claro! Estou bastante curioso!
- Não te vou dizer quem é, pois não o conheço pessoalmente. Conheci-o num daqueles lugares que nem sempre são bem frequentados e, nem sei se ele usa o seu nome verdadeiro. Começámos a namorar ideias e, mais tarde, a casar linhas de pensamento. Desafiou-me para escrevermos um livro em conjunto...
- Desafio que tu aceitaste sem olhar para trás, como tantos outros anteriores, deduzo eu...
- Sem sombra de dúvidas – respondi eu, bem impressionada pelo seu sentido de observação e captação.
- Isso vê-se nos teus olhos e na tua expressão. Aceitas um desafio, mesmo sabendo os riscos que corres e o futuro abre-se a tua frente, vencido pela tua força de vontade.
- Nem sempre é assim...
- Não?! Dá-me um exemplo do contrário, por favor.
Fiquei calada durante alguns momentos que apareceram uma eternidade, mas nunca – nem por um segundo – desviei o meu olhar.
- Compreendo se não quiseres falar sobre isso. Ainda deve doer um pouco, não?
Acendi um cigarro e ele viu que tinha razão – São dos tais erros do passado que eu recuso a tocar mais uma vez, sequer... entendes?
Acenou em concordância e recostou-se na cadeira. Depois, de repente curvou-se para a frente e, apoiando os cotovelos nos joelhos e a cara entre as mãos. Endireitou-se novamente e disse:
- Então, esse teu amigo tem-te ajudado a encontrar a chave...
- A chave?!
- Sim, a chave do teu coração. Sem ela não o poderás abrir para mais ninguém.
- Sim, vendo as coisas desse prisma...
- Talvez ele queira que o abras só para ele...
- Depende do sentido que deres a expressão...
- Como assim? – perguntou ele, como se não soubesse da existência de outros sentidos.
Sorri serenamente – Sim, por exemplo, o que estou aqui a fazer, a falar contigo. Estou a contar-te coisas do meu passado, estou a abrir o meu coração.
- Não, não estás. Estás apenas a dar-me tópicos para eu adivinhar a tua maneira de ser...
- Não, estou apenas a confirmar que aquilo que pensas sobre mim é verdade. Há outras maneiras de abrir o coração para alguém, para além desta.
- Quais?
- Tu sabes. Basta pensares um pouco. E também sabes que não é só para amarmos esse alguém...
- Mas corres esse risco... sabes disso, não sabes?
- E tu também sabes que há muitas maneiras de amar...
- Não, para mim só há uma, na qual a pessoa se entrega de corpo e alma e morre quando ele acaba.
Apaguei o cigarro no cinzeiro, com alguma violência. Ele viu que estava a tocar em mais uma ferida mal cicatrizada. Finalmente respondi:
- Desculpa discordar, mas para mim, amor não acaba e alma não morre. Deves estar equivocado quanto ao nome que dás aos sentimentos.
- Queres explicar-me, então? Vejo-me num labirinto...
- O amor é um sentimento que nasce e cresce na alma e é imortal. A paixão é chama acesa no coração e, se não a alimentares, ela apaga-se e o coração pode parar. E a verdadeira amizade é uma semente colocada na nossa alma, cresce e dá frutos; nos seus ramos que nos dá sombra pousam os pássaros que são cúmplices dos nossos pensamentos e os elevam ainda mais alto...
- Mais um ideal do teu amigo, posso adivinhar...
- Não, é de alguém mais acima. O meu amigo só o desenvolveu.
Ficámos ali a conversar, sem dar pelo tempo passar. Falámos de mim e dele, sem entrar em detalhes. Finalmente, havia algo mais que ele queria falar comigo e assim começou:
- O que vais fazer neste lugar por que tu te apaixonaste? Vais divagar no espaço e no tempo, ou tens planos?
- Tenho planos e não são poucos. Não vou ficar parada! Mas vou desenvolver-me de maneira diferente. Aliás, eu já sou diferente. Sinto-me renascer a cada hora que passo aqui... mas a minha prioridade, neste momento, é instalar-me definitivamente. Não vou ficar no “hostal” para sempre! Quero ter o meu espaço.
- Tenho ideia de como te posso ajudar nesse sentido. Queres voltar cá amanhã para jantar? Traz os teus amigos, se quiseres. É um prazer ter-te aqui e, talvez amanhã, tenha uma solução para ti!
- Cá estarei! Tens-me “à perna”!
- Não me importo, pelo contrário... – deu uma gargalhada sonora – até estou a imaginar-me a andar pelo bar, de mesa em mesa, e tu agarrada à minha perna...
Ambos rimos com vontade e prazer. Despedi-me dele com um abraço amigável e um “até amanhã, dorme bem” cantado e regressei ao “hostal”. Já era de madrugada. Assim que me deitei, adormeci logo. Não estava cansada, mas o sono foi bem-vindo, de tão leve que me sentia. Pensei: “Amanhã... ou melhor, logo, vou...”.

Segunda-feira, 4 de Setembro de 2000
Não me lembro de mais nada até ouvir as crianças a brincar no sítio do costume – mesmo por debaixo da minha janela. Olhei o relógio: eram dez e meia. Já tinha passado a hora do pequeno-almoço e decidi sair, com os meus apontamentos do livro no meu saco. Almoçaria na esplanada do bar: as tapas eram deliciosas, os empregados, simpáticos e o dono, um Amigo; mas tinha que me deslocar à cidade para tratar do contrato de instalação de rede no meu portátil. Primeiro, tinha que ter registo nos Impostos e conta bancária; só depois poderia tratar do resto. Quando cheguei aos balcões, eles já tinham o contrato semi-preparado, a aguardar os meus dados. Entreguei-os, eles introduziram-nos no contrato, imprimiram-no e deram-mo para assinar. Já estava! Disseram-me que, no dia seguinte, já teria a minha conta activada. Óptimo! Poderia falar com ele já amanhã! “Vou mandar-lhe uma mensagem com a novidade!”, pensei e se pensei, melhor o fiz, ao que recebi de resposta: “Óptimo!, assim que estiveres on-line, avisa-me. Beijo”.
Tudo estava a correr tão bem! Quando regressei, estacionei o carro no lugar do costume e dirigi-me ao bar, a pé. Os empregados do bar cumprimentaram-me, como se eu fosse já cliente de longa data, ao que eu retribui com um sorriso que demonstrava toda a simpatia que por eles sentia. Era como se já fossemos todos uma família...
Mais tarde, já na praia, sentei-me numa espreguiçadeira a escrever, mas por pouco tempo, pois os dois casais chegaram entretanto e juntaram-se a mim. Não iria conseguir escrever mais, mas não fazia mal: tinha tempo, todo o tempo... estes eram os primeiros dias do resto da minha vida! Para além disso, tinha o pressentimento que algo na vida deles iria mudar também. Não que eu fosse presumida... não muito, mas a atracção que eu sentia por aquele lugar era simplesmente contagiante e eu conseguia-o exprimir.
- Olá, boa tarde! Então, já trataram daquele assunto que me falaram ontem?
Ficaram a olhar para mim. Não sabiam ao que eu me referia.
- A VW, onde vão estacioná-la para ficarem mais tempo?
- Oh sim... mas temos más noticias. Nesta altura do ano, é impossível ter um lugar. Já está tudo cheio e não nos deixam aparcar a velha VW num parque de campismo. É uma pena, mas vamos ter que regressar no mesmo dia que eles – disse a Laure.
- Pena... vocês gostavam mesmo de ficar, não? O que os cativa aqui?
- Estás a perguntar isso, como se, dependendo da nossa resposta, tu nos possas ajudar ou não...
- És uma pessoa inteligente, com um bom poder dedutivo. Por isso deves saber que quero manter este lugar tal como está, tal como eu me apaixonei por ele, para que eu possa sentir sempre o mesmo prazer de aqui viver. Mas não, não posso oferecer-vos ajuda de maneira nenhuma, pois eu ainda estou a precisar de ajuda no mesmo sentido. Jantam comigo hoje, também?
- Porque não? Com todo o prazer, gostamos da tua companhia!
- Mas ainda não me responderam... qual o verdadeiro motivo que os levou a querer ficar mais tempo?
A Laure começou a contar-me tudo, de princípio:
- Nos temos um bar em Copenhaga inaugurado há três anos. Temos empregados mas estamos sempre presentes, durante todo o ano, excepto desta vez. É a primeira vez que nos ausentamos. Nunca tivemos filhos porque não tínhamos disponibilidade para estar com eles, para tratar deles como achamos que deve ser. No ano passado, tivemos um bom lucro e este ano vai pelo mesmo caminho. Temos confiança nos nossos empregados e promovemos a gerente o que achamos ser o mais responsável. Os outros concordaram: gostam dele. Está tudo a correr bem, mas... já tenho trinta anos e queremos ter filhos. Quando viemos para aqui, não foi com o objectivo de ficar; aliás, nem conhecíamos o lugar. A Connie e o Richard é que nos trouxeram. Já cá estiveram ano passado e diziam que tinham encontrado o paraíso. Na altura, ri-me. Pensei que era uma daquelas cidades marítimas em que, porta sim, porta sim, encontras um bar, onde te podes divertir toda a noite e dormir na praia, todo o dia. Mas acedemos a vir. Precisávamos de férias e o Andy concordou. Apaixonámo-nos pelo lugar e, agora, estávamos a pensar seriamente em ficar mais tempo para resolver o nosso futuro aqui. Só voltaríamos à Dinamarca para resolver certos pendentes legais sobre o bar e, depois, regressaríamos de vez. Hoje sabemos que queremos que os nossos filhos nasçam e cresçam aqui... Abri os nossos corações para ti. Que pensas disto tudo?
- Eu sabia que não me iam desapontar! Afinal, eu não estava enganada! Bem-vindos a este lugar maravilhoso que não é meu, mas eu já lhe pertenço! Agora é a vossa vez de conhecerem um pouco de mim; vou ser breve para não me tornar aborrecida...
- Conta lá! Estamos curiosos para saber o que te trouxe aqui!
Contei-lhes um pouco do meu passado, sem entrar em detalhes que, para mim eram privados e, para eles, eram desnecessários.
- Arte e Família aqui, em Nerja! Não há lugar melhor para tal... – exclamou a Laure, quando acabei de falar.
- E que tal, agora, um mergulho, para refrescar? Sinto-me a tostar, pareço um leitão – rimos todos perante esta minha comparação.
O sol já estava a encimar os cumes das montanhas quando decidimos irmo-nos mudar para jantar.
- Encontramo-nos, então, à mesma hora? E no mesmo local, claro! – disse a Connie – já vi que desenvolveste uma simpatia por aquele bar...
Concordei e despedimo-nos com um “até breve” cheio de entusiasmo. “Será que eles iam conseguir resolver o problema deles e ficarem por aqui?” perguntei aos meus botões e sorri. Tinha esperança que sim.
Assim, por volta das nove horas, lá estava eu, no mesmo conjunto de mesas do dia anterior, lendo o menu, mas ansiosa por ouvir a voz do meu amigo, o dono do bar. Será que ele tinha novidades para mim?
- Sinto o aroma de ansiedade, no ar... será que vem daqui desta mesa? – brincou ele.
- Si, porsupuesto que si! Olá, como estão a correr as coisas? Tens uma casa cheia!
- Sim, mas tudo dentro da normalidade. Queres ajudar ou estás à espera dos teus amigos?
- Sim para ambos: sim, estou à espera deles e sim, quero ajudar: ainda é cedo. O que queres que eu faça: limpo as mesas abandonadas, ou atendo os que chegam?
- Podes ir atendendo os que estão aí a chegar... Vê se eles tem o menu na mesa e faz as graças da casa.
Assim foi, ajudei-o a receber três mesas e ainda fui levantar mais duas que já tinham sido libertadas, entretanto. Os empregados sorriam ao passar por mim. Não sei se estava a fazer um bom trabalho, para eles, mas estava a dar o meu melhor. Entretanto, os dois casais chegaram e o Alex deu-me sinal para eu os receber, fazendo-lhes, assim, uma surpresa. E assim foi. Quando me viram de avental preto e de bandeja na mão, ficaram boquiabertos a olhar para mim e depois riram-se a “bandeiras despregadas”. Era bom ver toda a gente genuinamente feliz, principalmente, a minha pessoa. Amanhã, tinha que lhe contar esta minha aventura! Agradava-me o facto de me sentir útil, num lugar que me recebeu tão bem e por que eu me apaixonei à primeira vista. Depois de receber os seus pedidos, juntei o meu e entreguei o “encargo” ao Alex.
- Vou ter que abandonar o meu posto por um par de horas, pode ser?
- Ainda agora começaste e já queres dispensa? Não pode ser assim! – brincou ele – vai lá sentar-te com eles. Daqui a três horas e meia, vou servir-vos – e deu uma gargalhada.
Deliciei-me ao saber que a minha presença fazia outros felizes, também. Passado pouco tempo, tínhamos os nossos pedidos na mesa, variados, como no dia anterior. Enquanto falávamos, o meu olhar cruzou-se com o do Alex e reparei que ele me olhava com ar inquiridor... qual seria a sua dúvida? O que estaria ele a analisar? Bem, não interessa, mais tarde eu viria a saber! À mesma hora do dia anterior, eles despediram-se e foram embora. Mal eles saíram, sorri para ele. Não lhe perguntei o motivo pelo qual me olhava daquela maneira, há uns momentos atrás: preferi que fosse ele a abordar o tema. Até que eu podia estar equivocada...
- Estou de regresso ao trabalho. Que posso eu fazer agora?
- Agora vais sentar-te aqui à minha frente. Vamos falar, ok? – o olhar dele voltou a seriedade, o que me alarmou um pouco.
- Sim – e sentei-me em frente a ele, olhos nos olhos. Fiquei à espera.
- Tu nunca deixas cair o olhar, pois não?
- Sim, por vezes... mas neste momento, não vejo porque o faria.
- Diz-me: estás à espera dele? Achas que ele vem encontrar-se contigo, aqui?
- Não sei. Nem me preocupo com essa questão...
- Não?!
- Não. O nosso encontro já se deu. Não é um encontro físico, o nosso objectivo.
- Disseste-me que estavam a escrever um livro em conjunto... como vão coordenar as coisas, assim, à distância?
- Está em curso; é uma questão de manter uma linha de pensamento única e é nessa base que estamos a trabalhar... Mas porque me perguntas isto, agora?
- Curiosa... – brincou.
- Olha quem fala! – ri e brinquei também – quando quero, sei entrar num jogo... desde que os jogadores se guiem todos pelas mesmas regras.
- Ok, só gostava de saber que tipo de casa procuras.
- E o que isso tem a ver com o facto de ele vir ou não?
- Tens razão, a minha curiosidade falou mais alto. Desculpa a minha intromissão na tua privacidade.
- Ah, ah! – interrompi – tu podes perguntar tudo o que quiseres e eu respondo-te ao que puder. Eu também te posso fazer perguntas e tu só me respondes se puderes e/ou quiseres. Perguntar não ofende!
- Mas pode ferir...
- A sério? Tenho que ter cuidado, então! – brinquei mais uma vez – Agora vou responder-te. Não sei se encontro aqui o que eu quero, mas não há nada como tentar...
- Fala.
- Quero um bloco de 3 casas, entradas independentes.
- Queres alugar 3 casas?!
- Não, quero comprá-las.
- Já podias ter dito! Queres investir?
- Sim, mas não no sentido que tu estás a pensar...
- E qual é o meu sentido? – perguntou rindo.
- Quando alguém fala em investimento, vê-se logo com cifrões nos olhos. O meu investimento é a nível pessoal.
- Não estou a entender...
- Difícil explicar-te por palavras. Com o correr do tempo, irás entender.
- Percebo, não podes falar agora...
- Não, não é segredo. Mas, por muitas palavras que dissesse, não irias entender.
- Queres tentar?
- O meu investimento é na ajuda de pessoas que querem tentar entrar no mesmo mundo que eu. Uma das casas, claro, é para mim, com dois quartos. As outras podem ter um quarto de casal e um pequeno que possa servir de escritório ou de quarto de solteiro, com luz directa. Uma dessas duas casas será para alugar em sistema de leasing à Laure e ao Andy. A outra ficará em reserva; entretanto, vou alugando em períodos de curta duração.
- Outra pergunta: vais dedicar-te à arte?
- Também...
- Também? – perguntou e ficou à espera que eu lhe dissesse mais.
- Estou com ideias de me dedicar à hotelaria. Restauração, mais especificamente.
- Sozinha? Aqui?
- Tenho alternativa? Com quem poderia ser?
- Bem, por acaso, também queria falar contigo sobre isso. Estava a pensar propor-te uma sociedade...
- Estavas? Não estás mais? – brinquei outra vez. Ele simulou um soco no meu antebraço, como se dissesse “sua marota!”.
- Vou dizer-te quais os meus planos... isto se concordares, claro! Mas primeiro quero apresentar-te a um grande amigo meu que da aulas de surf em Tarifa. Pedro!, podes chegar aqui, por favor?
- Boa noite!
- Boa noite, eu sou a Helena, uma compatriota do Alex.
- E minha também! Sou “portuga” como vocês.
- Ora boa, os três “portugas”! Pedro, eu nomeei o Alex como meu amigo. Aqui entre nos, acho que ele aceitou muito bem! – olhei para ele e vi-o a sorrir. Eu também estava muito bem disposta, como, aliás, me vinha a sentir ultimamente: desde o dia em que cheguei aquele lugar. – E amigo do meu amigo, meu amigo é! Aceitas?
- Com todo o prazer! O Alex já me tinha falado de ti: “a miúda que nunca deixa cair o olhar”, foi como ele se referiu a ti.
- Ele exagerou... não é bem assim...
- Bem, até agora, ainda não o deixaste ficar mal. Eu achava que te podia ganhar, até agora, que estou em frente a ti. Mas... ele chamou-me aqui para falarmos de negócios, penso eu...
- Nada disso! – replicou o Alex – para já, nada de negócios. Gostava que a conhecesses um pouco melhor antes de entrarmos nesse campo. Entretanto eu vou fechando o bar.
E assim foi. Falámos durante algum tempo e... Meu Deus!, ele também não deixava cair o olhar. Já havia passado muito tempo desde a última vez que tinha segurado o olhar de uma pessoa que também segurava o meu.
Quando o Alex acabou as tarefas de fecho do bar, veio encontrar-nos a contar anedotas.
- Já te sabia brincalhona, mas ainda não sabia dessa tua faceta: contadora de anedotas! Temos que gravar um cd...
- Hummm, não estou com ideias de fazer carreira à custa das anedotas... – ri-me, olhando para os dois: o Pedro recostado na cadeira da esplanada e o Alex em pé, a seu lado, de braços cruzados acima do peito. Tinha uma figura estatuesca, mas o Pedro não lhe ficava atrás.
Entretanto, o Alex sentou-se também.
- Podemos falar de negócios agora, se não se importam de interromper a vossa senda de anedotas...
- Sim, vamos a isso – respondemos em simultâneo: eu e o Pedro.
- Humm, já sincronizados, muito bem! Ora, quando, vim para aqui e abri o meu bar, não foi com a intenção de ficar rico, mas sim para me manter activo num ramo que eu conhecia muito bem. O Pedro enveredou pelo ensino de surf pelo mesmo motivo, uns meses depois de mim. Agora chegas tu, a artista, que te juntas a nós pela comunhão de objectivos. Que tal dares alma a uma junção de actividades?
- Uau!!!... em que aspecto? Como entro eu nessa parte do negócio?
- Tu já viste o interior do meu bar: é pequeno; o que me dá mais espaço é a esplanada. Mas está tão básico, sem qualquer estilo de decoração... A escola do Pedro, neste momento, é um pequeno bungalow, à entrada da praia de Tarifa. Quem não o conhecer, não faz a mínima ideia do que se encontra ali. O que nós te pedimos é a colaboração de uma artista, como tu, na decoração e na publicidade.
- Humm, isso eu posso fazer, mas estavas a queixar-te de espaço...
- Tens um tempinho livre, amanhã de manhã?
- Tenho todo o tempo do mundo, desde que cheguei aqui, a este lugar maravilhoso, com pessoas espectaculares!
- Pedro, Helena, podemo-nos encontrar aqui, amanhã, às nove horas em ponto?
- Podes contar comigo! – respondi.
- Comigo também. – acrescentou o Pedro
- Agora vamos descansar para acordarmos a horas, amanhã... ou melhor, logo – disse o Alex, olhando para o relógio.
Sem mais palavras, como se já fizesse parte dos nossos hábitos, sobrepusemos as nossas mãos direitas em sinal de pacto e despedimo-nos com um “até logo” cheio de esperança.
Quando cheguei ao meu quarto e me preparei para me deitar, não conseguia dormir. Mas não era uma insónia das habituais de há uma semana atrás: era de entusiasmo, expectativa, alto nível de adrenalina. Mas fechei os olhos para tentar descansar. Finalmente, adormeci.

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domingo, maio 24, 2009 - 01:02

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