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Chegada a Nerja

Já passava das dez da noite quando cheguei a uma pequena vila. Havia luzes ténues que emergiam das casinhas pequenas e brancas. Por trás delas via os reflexos dourados do sol a delinear as montanhas e que servia de horizonte do lado oposto à costa. Segui um pouco mais lentamente pelas ruas estreitas, tentando descortinar um albergue. Iria passar ali a noite – amanhã, veria o que o lugar me oferecia... Depois de me acomodar, ainda sem desfazer as bagagens, decidi sair um pouco e andar a pé. Talvez até à praia... bem, até onde o caminho me levasse. Não podia perder-me aquela hora da noite, pois não encontrava viva-alma na rua a quem me dirigir para pedir informações.
As casas perfiladas, mesmo à face da rua eram quase iguais, mas cada uma tinha algo que a tornava singular em relação às outras. Ao fundo da rua, encontrei uma praça com um gradeamento de varanda lá ao fundo. Do lado esquerdo, uma edificação de arcos decorada por pequenos vasos com plantas. A meio da praça havia um canteiro alto, redondo, com uma palmeira no meio. Para além disso, só se conseguia ver o mar. Dirigi-me até lá. Visões inesquecíveis que ficaram para sempre na minha memória. A sua beleza era indescritível. Uma varanda virada para o imenso oceano. Ouvia o som de minúsculas ondas a bater nas rochas, lá em baixo. Ouvia o ritmo do meu coração, de tão forte que batia, parecia o ribombar de um tambor. E continuava a ouvir aquela música... olhei em volta para tentar descobrir de onde vinha. Vagueei um pouco para tentar ouvir de que lado o som vinha mais forte. Mas de todas as maneiras, a música tinha sempre a mesma intensidade e... parecia vir de dentro de mim. Sim, aquela música estava na minha mente e três sentidos se uniram – visão, audição e cheiro – para me trazerem uma paz de espírito, uma leveza de alma que não me recordava de sentir nos meus últimos 20 anos.
As montanhas já não tinham o reflexo dourado do sol a delinear o seu perfil, mas conseguiam-se distinguir em contraste com um céu claro, estrelado e com lua cheia. Seguindo o azul do céu para o lado oposto, podia encontrar este a tocar o mar, tendo uma linha prateada a indicar-nos o ponto de encontro entre os dois. Segui até à praia e sentei-me, descalça na areia. Respirei fundo e fechei os olhos. A música era cada vez mais nítida e dei comigo a nasalá-la. Quando abri os olhos, duas lágrimas correram-me pela face, mas eram lágrimas de alegria, as que me molhavam a pele. Levantei-me e caminhei até à areia molhada, onde as ondas morriam, também felizes. Quando me apercebi, estava a dançar... não sei há quanto tempo tinha começado, mas quando parei, ouvi alguém bater palmas. Olhei para trás e vim um vulto encostado a um dos guarda-sóis feitos de cana que se encontravam afilados ao correr da praia. Pela estatura, parecia um homem, apesar de estar longe demais para descortinar as suas feições. Tinha um chapéu de abas esfarrapadas, pelo que dava para descortinar pela sombra lunar que fazia no chão. Sem recear nada – o que havia de recear? – aproximei-me até ficar a escassos passos dele. Sim, era um homem... e sorria perante a minha descontracção.

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sexta-feira, maio 22, 2009 - 21:59

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