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Destino Improvável - Capítulo I – A Casa de Férias
Era já final de Setembro, mas ainda se sentia o calor daquela cidade mediterrânica, Málaga. Muitos turistas circulavam pelas ruas, de câmara em punho, fotografando e filmando o que achavam mais interessante. Outros preferiam proteger-se do calor, recolhendo-se, para saírem apenas após a ceia, quando a temperatura já era suportável e, assim, usufruírem da noite Andaluz, tão tipicamente boémia.
A Manuela já tinha o terraço preparado para ali relaxar com a família: marido e enteado. Ela, já nos seus 40 anos, estatura baixa e consistente, bastante morena, era gestora de Recursos Humanos numa multinacional sediada no Grande Porto, Portugal. Como mulher bastante activa que era, dificilmente parava, mesmo durante o período de férias em que se encontrava. Achava que o relaxamento não significava propriamente vegetar em casa e, quando a família demonstrou vontade de ficar a torrar ao sol no terraço durante toda a tarde, ela sentiu ganas de sair sozinha, voltando apenas à hora do jantar. Mas, pensando melhor e, para não criar conflitos, decidiu pôr freios aos seus instintos e fez-lhes companhia no terraço da casa de férias que ocupariam durante a última semana de Setembro e a primeira metade de Outubro.
Tinham comprado esta casa no ano anterior, quando ela teve que se deslocar a esta cidade para assistir a um seminário orientado para a sua carreira.
Conheceu uma Andaluz - a Carmen - que assistia ao mesmo, criou-se uma empatia entre ambas e esta ofereceu-se como anfitriã durante a sua estadia em Málaga.
Na penúltima noite da Manuela em Málaga, depois de falar com o marido e ele concordar, a Carmen convidou-a para ficar a última noite em sua casa. Foi onde ela conheceu os sogros da Carmen, pais do seu marido, Paulo. Assim, soube que eles abandonaram a casa onde viviam para ir morar com o filho e a nora, devido à avançada idade em que se encontravam e decidiram pôr a casa à venda.
A Manuela falou no interesse da sua família em ter uma casa de férias no sul de Espanha e, no dia seguinte, antes da partida de regresso para Portugal, levaram-na a conhecer a casa. Depois de lhe dizerem que ultimamente tinham decidido leiloar a casa, pois esta encontrava-se carenciada de restauração e não conseguiam atribuir-lhe um valor justo, ela quis logo saber a data do leilão. Viria uns dias antes com o marido para que ele visse a casa e, se ele concordasse com ela, iriam assistir ao leilão e lançariam licitações.
Assim foi. O marido, Tony, ficou encantado com a casa, começando imediatamente a projectar alterações, mesmo antes de saber se iria ficar com a última licitação e, assim adquirir a casa.
Conseguiram ficar com a casa, fizeram as alterações anteriormente projectadas e ganharam amigos em Espanha. Este ano, era a primeira vez que saíam de Portugal e foram directamente para Málaga, ocupar a casa que com tanto empenho tinham decorado, a gosto dos três elementos da família.
A Manuela não aguentou muito tempo deitada na espreguiçadeira. Beijou a testa do marido, brincou com o enteado para tentar tirá-lo da abstracção em que se encontrava e foi para a cave, onde se encontrava um pequeno espaço com equipamento de ginástica, mais frequentemente utilizado pelo Alex, seu enteado. Este, apenas com 23 anos, alto, magro e pálido, isolava-se sempre que podia. Sofrera um trauma cinco anos atrás que nenhum psicólogo ou psiquiatra conseguira fazer com que o superasse. Numa aventura de adolescentes, ele e a namorada tiveram que se pôr em fuga da polícia e, numa curva mais apertada da estrada onde seguiam, Alex perdeu o controlo carro, indo embater frontalmente numa árvore. A namorada, a única mulher que ele tinha amado, teve morte imediata e ele apenas sofreu ferimentos ligeiros. O sentimento de culpa nunca mais o abandonou, apesar das tentativas da família e dos médicos.
Mas, naquele momento, apesar do silêncio instaurado entre ele e o pai, preferiu ficar no terraço com ele. Mas, finalmente, decidiu falar.
“Não vais fazer companhia à Manuela?”, perguntou ao pai. “Sabes bem que ela detesta ficar aqui parada...”
“Não, ela, se saiu daqui, foi porque quis ficar sozinha!”, respondeu Tony. “Ela deve ter ido preparar as coisas para o jantar. Não te esqueças que hoje temos visitas! Não faças planos para sair à noite e tenta ser afável...”
“Sempre o mesmo...”, replicou Alex. “Eu vou ver se ela precisa de ajuda. Até já!”, despediu-se, secamente, do pai.
Desceu as escadas que vêm do terraço, passando pelo piso dos quartos. Viu a porta do quarto do casal aberta e deduziu que ela não se encontrava lá. Continuou a descer. Também não estava na cozinha... teria ela saído sem dizer nada? Entretanto ouviu ruídos típicos das suas máquinas de musculação. Lá estava ela... Travou os seus pensamentos e dirigiu-se a ela numa voz meiga, mas triste:
“Já há muito tempo que não vinhas até aqui... Passa-se algo, Manuela?”
“Não, nada de especial, Alex... simplesmente estava farta de estar ali deitada ao sol como um lagarto...”, respondeu ela.
“Como os dois lagartos que estavam contigo, queres tu dizer!”
“Não, nada disso! Cada um faz o que lhe apetece. Eu só não fui sair porque, daqui a pouco, vou preparar o jantar; senão, não estava aqui.”
“Então anda, eu ajudo-te!”, disse o Alex, atirando-lhe a toalha. “Também estou farto de estar lá em cima!”
“Ainda vou tomar um duche...”
“Qualquer dia ficas sem pele.”, respondeu-lhe, mostrando um sorriso encantador, apesar da sua melancolia. “Vou preparando a salada...”
“Obrigada, és um querido!”, agradeceu-lhe e dirigiu-se a ele para lhe beijar a testa, mas ele afastou-se.
“Vai lá tomar o duche que cheiras mal!”, brincou ele, como já há muito tempo que não fazia.
“Sim, meu comandante!”, respondeu Manuela, feliz por o ouvir gracejar.
Ela sabia que um dos grandes motivos que tinham dificultado a recuperação de Alex era o facto de o pai fazer insinuações desagradáveis sobre o incidente, o que o fazia sentir-se mais culpado ainda. Tony fazia-o quando pensava que Manuela não o podia ouvir, mas por vezes, ela assistia a cenários desses, involuntariamente.
Alex precisava de apoio e não de incriminações e ela sentia-se sozinha a remar na direcção certa. Isso revoltava-a, mas... Tony era o pai de Alex e ela não queria interferir. Frequentemente, mordia o lábio inferior para não falar, quando via que o seu marido tinha atitudes pouco correctas para com o filho.
Quando Manuela chegou à cozinha, já Alex se encontrava a preparar os legumes para a salada. Lavava-os cuidadosamente, fazendo notar a falta de experiência à frente das bancas de uma cozinha. Ela sorria enquanto tirava a tábua de cortar os legumes de dentro do armário. Por um lado, estava triste pelo facto de Alex não se sentir bem na companhia do pai, mas por outro lado, ficava contente por ele não ter preferido recolher-se no seu quarto a ouvir música que, muito provavelmente, o fazia regressar ao passado. Ele ali estava a ajudá-la por iniciativa própria e isso era muito bom.
Alex, como se adivinhasse o motivo do seu sorriso – coisa que o encantava, apesar de desconhecer a razão - disse:
“Pelo menos, aqui estou a ser útil... estou cansado de me sentir um parasita entre vós. Tenho que encontrar algo que me ocupe a maior parte do dia!”
“Nunca foste um parasita, Alex! Tens, realmente, de encontrar algo que gostes de fazer, mas será por uma questão de realização pessoal. Não gosto que te isoles no teu quarto, isso faz-te muito mal. No pior dos casos e até lá, tenta aturar-me um pouco, já que não... aturas o teu pai...”, respondeu Manuela, quase suplicando.
“Eu não te aturo, é um prazer estar na tua companhia, só que... por vezes devo tornar-me aborrecido com o meu mau humor... é só por isso que me afasto.”
“Alex, eu gostaria de ser mais que uma madrasta para ti: gostava que me considerasses tua amiga... achas que consegues?”
“Se eu consigo?! É com muita honra que te terei como amiga!”, exclamou Alex, mais uma vez sorrindo.
“Então faz-me um favor: não voltes a afastar-te quando não te sentires bem! Eu quero ajudar-te, mas preciso que me queiras também...”
“Prometo! Olha, eu sei que não tenho dado muitas hipóteses, mas a partir de agora quero que fales comigo sempre que precisares... és capaz?”
“Sim, combinado!”, respondeu Manuela, feliz. “A partir de agora, mais do que parentes por afinidade, verdadeiros amigos!”
“Gostei de ouvir!”, interrompeu Tony que, entretanto, tinha descido e assistiu à conversa em silêncio. “Alex, tens aqui uma amiga a valer, acredita!”
Manuela e Alex ouviram-no em silêncio: o comentário de Tony era desnecessário, pois eles não precisavam da sua apreciação nem aprovação. Apesar de serem filho e mulher dele, eles eram livres nos seus sentimentos.
Apesar do pacto ter sido de amizade, Manuela sabia que aquele comentário tinha uma carga de ironia e hipocrisia, pois Tony não era assim. Apenas lhe respondeu:
“Vamo-nos preparar para o jantar, eles estarão aí a qualquer momento.”
Tony acompanhou-a para o quarto do casal e Alex seguiu-os mais atrás para se dirigir ao seu.
“Achas mesmo que vais conseguir que ele recupere?”, perguntou Tony à esposa.
“Não sou psicóloga, mas penso que terá consequências mais positivas que as tuas incriminações. Ele já pagou bem caro, com as consequências do acidente”, argumentou calmamente.
“Eu não o incrimino! Apenas acho que ele está a agir como um menino mimado, como aliás, sempre fez. Já no tempo da mãe...”
“Não vou comentar a educação que vocês lhe deram, mas agora ele parece-me tudo menos um menino mimado. Ele procura realizar-se a nível pessoal e eu vou apoiá-lo incondicionalmente!”
“Espero que nunca te arrependas...”
“Só me poderei arrepender do que devia fazer e ainda não fiz! Não posso crer que tenho mais fé no teu filho do que tu que és pai dele! Agora vamos parar com isto, pois não estou disposta a argumentações de parte a parte que não nos levarão senão a uma discussão desnecessária... vou preparar-me, se me dás licença”, rematou Manuela, secamente.
Ficaram em silêncio até à hora do jantar, cruzando-se no quarto, enquanto se preparavam, sem trocar uma única palavra.
A campainha da porta tocou e Alex foi abrir. Recebeu as visitas afavelmente, não por advertência de seu pai, mas sim pela Manuela. Sim, ele não estava a fazer um frete: sentia-se menos infeliz e, estranhamente, mais leve, o que o fazia esboçar um sorriso encantador sem qualquer esforço.
Carmen já conhecia Alex pessoalmente e notou a diferença no seu humor, sabendo de antemão que era obra de Manuela. Ficou feliz por ambos e acomodou-se sem cerimónias, pois tratava-se da casa da sua grande amiga.
Depois de um pequeno aperitivo, sentaram-se à mesa para jantar. Todos falavam de assuntos triviais, mas o olhar de Carmen fixava-se nas expressões de Manuela e de Alex, não só porque nunca ter simpatizado com Tony, mas também para se certificar de algo quase garantido: algo de bom se tinha passado!
Paulo reparou onde se concentrava a atenção da sua esposa e olhou também.
“Alex, “hombre”! “Entonces”, já encontraste algo interessante na tua área?”, de repente, Paulo interrompeu a conversa que vinha a ter com Tony. Este ficou atónito com a mudança de orientação e retomou a conversa, mas Paulo nem sequer o ouvia. Estava interessado no que Alex lhe pudesse dizer. Tony passou de atónito a furioso pela preferência de Paulo, mas com a sua diplomacia que tresandava a hipocrisia, rematou o sucedido, seguindo a nova conversa.
“Paulo, para já o meu filho vai dando algum apoio informático à galeria, pois estamos em fase de actualização do nosso site...”, argumentou Tony.
“Então porque não o admites como teu colaborador a tempo inteiro e lhe dás um salário?”, replicou Paulo.
“Porque eu não quero trabalhar ali, Paulo, por mim falo”, respondeu Alex e, quase ao mesmo tempo, Tony resmungava:
“Dar-lhe um salário? Eu já o sustento aqui em casa...”
“É isso que tu queres, Tony? Alguém permanentemente dependente de ti? Deve ser difícil para ti aceitar a carreira de Manuela...”, acrescentou Carmen, já furiosa com a defesa apresentada por Tony.
Paulo tocou-lhe na mão ao de leve afim de lhe dar sinal para não levantar ânimos. Eles eram visitas e não tinham o direito de julgar as atitudes do anfitrião na sua própria casa. Ela apertou a sua mão em resposta e respirou fundo. Mordeu o lábio, tal como Manuela costumava fazer para não falar algo de que se podia arrepender mais tarde.
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