O drama da morte no suicídio

Viver é para muitos seres

Uma provação tamanha

Que a busca da aventura

no território da morte

 

Conduz muitas almas viventes

A se auto-imporem o sacrifício

da própria existência

no plano terreno, físico.

 

O drama da morte tomada

pelas mãos no desespero

de uma saga suicida

é de há muito conhecida

 

E decerto, pouco compreendida:

Sejam traidores, Judas que se arrependem

Sejam guerreiros que tombam pela honra

Sejam soldados nipônicos que se lançam em combate

Sejam prisioneiros que se enforcam para não pagarem a pena

Sejam fanáticos que se  imolam por uma causa

 

O suicídio pode ter inúmeras razões

E cada ideação tem em seu desfecho trágico a marca

Da insatisfação, do desespero, seja ato pensado ou im-pensado

Que faz da abreviação da vida, uma ponte para algum lugar

 

Ao não suportar a existência,

E enfrentar as vicissitudes da vida,

O indivíduo com pensamento suicida

Vulnerável e frágil criatura, o sopro sublima

 

Mais do que, construir teorias para explicar

o ato derradeiro consumado em meio a dor

Mais do que culpabilizar ao próprio ser

ou a quem supostamente algo deixou de fazer

 

É preciso refletir sobre as nossas vulnerabilidades

Este descortinar de possibilidades e impossibilidades

Nos torna presas fáceis, de inconformismos

E expõe nossas inúmeras fragilidades

 

Assim, não devemos julgar tampouco condenar

Aqueles que tiram a própria vida

Por mais doloroso que seja suportar a perda

Somente aumentará o peso da alma sofrida

 

Se o pouco ou tudo que fizemos

Não foi suficiente para lhes aplacar

A erupção de um coração feito vulcão em chamas

Também não nos culpemos nem busquemos culpados

 

A oração por seu poder de chegar à alma

É o combustível que a pessoa precisa nesta hora trágica

Para iniciar sua nova caminhada, e buscar a cura

E cicatrizar a ferida que se abriu em sua abreviada vida na terra,

 

Ao corpo inanimado nada mais resta a fazer

Apenas o repouso como substância

Ao espírito desorientado muito há por fazer

Para aplacar sua profunda dor, perdoar a pessoa amada

 

Somente o poder do amor pode converter-se

Em bálsamo, conforto e alimento para superar a ambos,

- à pessoa que se imola e a seus entes queridos -

As dúvidas, inquietações, pesares e culpas deste momento.

 

O amor é como um farol em alto mar

Que se transforma em luz para conduzir

O barco da existência, em meio às turbulências

Na penumbra da noite fria, ele abre as cortinas

 

De um novo horizonte, de compreensão e acolhimento

Que a chegada da boa-nova requer esforço e serenidade

Para suportar a dor da precoce partida do ente querido

E para dar-lhe forças para desprender-se e seguir viagem

 

Por mais que a vida nos coloque diante de situações-limite

como este súbito arrebatamento das correntes vitais

Decerto, há um sinalização em cada experiência vivida

A de que precisamos melhorar e muito a nossa condição humana

 

Para que a vida possa sim, ser curtida com intensidade

Mas, cuidando que não seja desperdiçada pelo fatalismo e futilidade

Ou pela sensação de cada dia ser um suplício, uma ansiedade

Ao invés de ser uma oportunidade de construir a felicidade.

 

AjAraújo, o poeta humanista, escrito para reflexão da perda da vida de um jovem vizinho músico ocorrida em 3 de julho de 2011.

Submited by

Monday, July 4, 2011 - 14:56

Poesia :

No votes yet

AjAraujo

AjAraujo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 7 years 13 weeks ago
Joined: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Add comment

Login to post comments

other contents of AjAraujo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Dedicated A charrete-cegonha levava os rebentos para casa 0 3.644 07/08/2012 - 22:46 Portuguese
Poesia/Meditation A dor na cor da vida 0 1.616 07/08/2012 - 22:46 Portuguese
Poesia/Dedicated Os Catadores e o Viajante do Tempo 1 29.771 07/08/2012 - 00:18 Portuguese
Poesia/Joy A busca da beleza d´alma 2 5.470 07/02/2012 - 01:20 Portuguese
Poesia/Dedicated Amigos verdadeiros 2 6.720 07/02/2012 - 01:14 Portuguese
Poesia/Meditation Por que a guerra, se há tanta terra? 5 5.045 07/01/2012 - 17:35 Portuguese
Poesia/Intervention Verbo Vida 3 7.478 07/01/2012 - 14:07 Portuguese
Poesia/Meditation Que venha a esperança 2 9.378 07/01/2012 - 14:04 Portuguese
Poesia/Intervention Neste Mundo..., de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) 0 4.483 07/01/2012 - 13:34 Portuguese
Poesia/Intervention Do Eterno Erro, de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) 0 9.626 07/01/2012 - 13:34 Portuguese
Poesia/Intervention O Segredo da Busca, de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) 0 3.761 07/01/2012 - 13:34 Portuguese
Poesia/Dedicated Canções sem Palavras - III 0 6.333 06/30/2012 - 22:24 Portuguese
Poesia/Intervention Seja Feliz! 0 5.763 06/30/2012 - 22:14 Portuguese
Poesia/Meditation Tempo sem Tempo (Mario Benedetti) 1 4.876 06/25/2012 - 22:04 Portuguese
Poesia/Dedicated Uma Mulher Nua No Escuro 0 6.969 06/25/2012 - 13:19 Portuguese
Poesia/Love Todavia (Mario Benedetti) 0 4.801 06/25/2012 - 13:19 Portuguese
Poesia/Intervention E Você? (Charles Bukowski) 0 5.147 06/24/2012 - 13:40 Portuguese
Poesia/Aphorism Se nega a dizer não (Charles Bukowski) 0 5.956 06/24/2012 - 13:37 Portuguese
Poesia/Aphorism Sua Melhor Arte (Charles Bukowski) 0 3.775 06/24/2012 - 13:33 Portuguese
Poesia/Sadness Não pode ser um sim... 1 5.954 06/22/2012 - 15:16 Portuguese
Poesia/Aphorism Era a Memória Ardente a Inclinar-se (Walter Benjamin) 1 4.551 06/21/2012 - 17:29 Portuguese
Poesia/Friendship A Mão que a Seu Amigo Hesita em Dar-se (Walter Benjamin) 0 5.157 06/21/2012 - 00:45 Portuguese
Poesia/Aphorism Vibra o Passado em Tudo o que Palpita (Walter Benjamin) 0 7.633 06/21/2012 - 00:45 Portuguese
Poesia/Aphorism O Terço 0 3.469 06/20/2012 - 00:26 Portuguese
Poesia/Disillusion De sombras e mentiras 0 0 06/20/2012 - 00:23 Portuguese