Os portais da mudança
Pensativo.
Sentado sobre uma rocha no caminho.
Divisava o vale e as montanhas, ao fundo.
Como havia chegado àquele ponto?
Porque nada fizera para evitar?
Ou se inevitável, pelo menos, atenuar.
Essas e outras divagações,
inquietavam o espírito de Pedro.
O cenário mostrava-se incrivelmente belo,
acolhedor, suave brisa soprava ao sul,
as últimas chuvas tornaram
o vale mais verde.
As águas já repousavam no ventre do lago
límpidas, peixes em profusão,
pássaros migrantes nos arbustos,
e a canção das ondas nas pedras do riacho.
Corredeiras, águas polindo as rochas
seixos de diversos tamanhos,
Pedro na margem espelho observa
seu próprio semblante.
Estar e ficar não são a mesma coisa,
Fisicamente permanecia no lugar
pelas lembranças e antigos apegos
Espiritualmente desejava partir.
Na hora do poente
um raio dourado refletiu no lago
e Pedro mergulhou de súbito
neste encanto e adormeceu.
Ao acordar,
aos primeiros sinais da manhã
enfim percebeu que havia cruzado
mais um portal de sua existência.
E entre surpreso e excitado
tocando-se, beliscando a pele
sentiu uma nova e estranha sensação
a de ser livre de corpo e presente de espírito.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em janeiro de 2008.
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