Olhos apagados
Olho para este mundo
E o sinto cada vez mais distante.
Olho para o meu eu interior
E percebo que lá no fundo
Há uma luta – Leviatã versus Condor.
Porque este meu eu interior presente
Afasta minha carne de todo pensamento fecundo.
Estou partido vivo
Caminhando ausente.
Minhas mãos sobre o papel
Perdem-se quando são levadas
Pela força da caneta adentrando no túnel
Das letras infiéis e malvadas.
Estou oculto para gerar minha outra imagem.
Quero perder-me e achar-me.
Diria que meu sonho é vertigem
E que estou aqui, mas também estou lá.
Se me olham percebo que sou o mesmo,
Se me odeiam percebo que não sou mais eu.
Minha voz estúpida se perde no ermo.
Sou o ar e me perco nos céus.
Caí e estou caído
Sem uma mão para me levantar.
Com o peito moído
Quando pétalas roubadas começaram a me olhar.
O feixe de luz sobre minhas costas
Duplicou meu ser com faces opostas.
Olho para mim e vejo o meu fantasma
Que me assombra e rouba sem lástima
Minha única centelha, deixando uma ferida
Distanciando o elo desta corrente da vida.
Sinto e senti
A noite passar a mão na minha cabeça
Para me deixar assim,
Sem visão e sem esperança.
Minha alma não é sentinela
Estou só
Num nó
Entre a janela do olhar
Entre o abrigo do sol.
Distante de tão perto
Perto de tão distante.
As nuvens fecharam meus olhos
E estou perdido neste labirinto.
O Minotauro de meus pesadelos
Não me deixa encontrar meu extinto.
Não me encontro me escondendo,
Não me escondo me encontrando,
Neste ensinamento não aprendi a chorar,
Nem sofro por amar.
Meus olhos não vertem lágrimas
E converto sentimentos no fogo que se apaga
E nunca mais volta.
Só tenho medo da lembrança que se afaga
Nesta onda leve e solta
Levando-me para outras margens.
Estou esquecido e apagado.
Não existo, não existo.
Por isso falo e sou mudo.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1088 reads
Add comment
other contents of Alcantra
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Impressões | 2 | 1.184 | 03/16/2011 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Num bar | 4 | 1.283 | 03/11/2011 - 22:08 | Portuguese | |
Poesia/General | Rubra Janela da tarde | 4 | 1.152 | 03/03/2011 - 00:19 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Assaz lágrima ao soluço | 1 | 1.167 | 02/22/2011 - 14:57 | Portuguese | |
Poesia/General | Tume(facto) | 1 | 2.390 | 02/11/2011 - 00:49 | Portuguese | |
Poesia/General | O sonho é a visão do cego | 0 | 1.304 | 02/08/2011 - 14:53 | Portuguese | |
|
Fotos/Personal | Livro Histórias de Ninguém | 0 | 2.379 | 02/07/2011 - 17:29 | Portuguese |
Poesia/General | Pelouros pupilais | 0 | 1.255 | 02/04/2011 - 21:27 | Portuguese | |
Poesia/General | Sede dos corpos | 0 | 1.792 | 02/04/2011 - 14:45 | Portuguese | |
Poesia/General | Pés em fuga | 0 | 1.566 | 01/31/2011 - 14:21 | Portuguese | |
Poesia/General | Títulos Quebrados | 0 | 1.514 | 01/27/2011 - 15:52 | Portuguese | |
Poesia/General | As trincas | 0 | 1.687 | 01/20/2011 - 15:18 | Portuguese | |
Poesia/General | Bocas que sangram | 1 | 1.471 | 01/13/2011 - 00:51 | Portuguese | |
Poesia/General | Desnudo | 2 | 1.521 | 01/10/2011 - 23:14 | Portuguese | |
|
Fotos/Personal | Quem acolhe este lugar | 1 | 4.910 | 01/07/2011 - 00:53 | Portuguese |
Poesia/General | Ode ao ego | 2 | 1.535 | 01/05/2011 - 23:39 | Portuguese | |
Poesia/General | Avenidas de mim | 4 | 1.438 | 01/05/2011 - 23:36 | Portuguese | |
Poesia/General | De viés | 1 | 1.233 | 12/28/2010 - 21:30 | Portuguese | |
Poesia/Erotic | Lábios às costas | 0 | 2.448 | 12/23/2010 - 14:29 | Portuguese | |
Poesia/General | Vírgula Et Cetera | 0 | 1.469 | 12/20/2010 - 11:15 | Portuguese | |
Poesia/General | Tacto dulcífico | 1 | 2.053 | 12/16/2010 - 19:33 | Portuguese | |
![]() |
Fotos/Profile | 3173 | 0 | 2.223 | 11/24/2010 - 00:54 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 2417 | 0 | 2.188 | 11/24/2010 - 00:48 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 2419 | 0 | 2.463 | 11/24/2010 - 00:48 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 2420 | 0 | 2.196 | 11/24/2010 - 00:48 | Portuguese |
Comments
Re: Olhos apagados
Se os olhos se apagam e eu me escondo atrás da sombra e do sonho, onde fica o caminho onde estou esperando por mim? Abro-os e luto para lá chegar...
Mto bom
Abraço
Re: Olhos apagados
PENSO QUE O PERSONAGEM DO POEMA, ESTAR EM DÚVIDAS QUANTO A SUA EXISTÊNCIA; O MELHOR DE TUDO PARA ISSO, É ENCONTRAR RESPOSTAS, JUNTO AO SEU EU INTERIOR, MEDITANDO, FAZENDO REFLEXÕES; TENHO CERTEZA, ENCONTRARÁS RESPOSTA JUNTO A ESTE TEU MELHOR AMIGO, QUE É O SEU EU INTERIOR!
UM BELO POEMA, MEUS PARABÉNS,
MarneDulinski
Re: Olhos apagados
Fragmentos de outrora, quizás...desfragmentam a razão de viver!
Linda poesia e triste ao mesmo tempo.
Um abraço :-)
Re: Olhos apagados
Alcantra,
É a primeira vez que o leio.
...e gostei imenso quando cheguei ao fim...a sua luta interior é imensa e bem expressa nesta poesia...como eu o entendo, caro poeta...a luta, quase infinita, dos EU's...
1 beijo...vou voltar... ;-)