Olhos apagados
Olho para este mundo
E o sinto cada vez mais distante.
Olho para o meu eu interior
E percebo que lá no fundo
Há uma luta – Leviatã versus Condor.
Porque este meu eu interior presente
Afasta minha carne de todo pensamento fecundo.
Estou partido vivo
Caminhando ausente.
Minhas mãos sobre o papel
Perdem-se quando são levadas
Pela força da caneta adentrando no túnel
Das letras infiéis e malvadas.
Estou oculto para gerar minha outra imagem.
Quero perder-me e achar-me.
Diria que meu sonho é vertigem
E que estou aqui, mas também estou lá.
Se me olham percebo que sou o mesmo,
Se me odeiam percebo que não sou mais eu.
Minha voz estúpida se perde no ermo.
Sou o ar e me perco nos céus.
Caí e estou caído
Sem uma mão para me levantar.
Com o peito moído
Quando pétalas roubadas começaram a me olhar.
O feixe de luz sobre minhas costas
Duplicou meu ser com faces opostas.
Olho para mim e vejo o meu fantasma
Que me assombra e rouba sem lástima
Minha única centelha, deixando uma ferida
Distanciando o elo desta corrente da vida.
Sinto e senti
A noite passar a mão na minha cabeça
Para me deixar assim,
Sem visão e sem esperança.
Minha alma não é sentinela
Estou só
Num nó
Entre a janela do olhar
Entre o abrigo do sol.
Distante de tão perto
Perto de tão distante.
As nuvens fecharam meus olhos
E estou perdido neste labirinto.
O Minotauro de meus pesadelos
Não me deixa encontrar meu extinto.
Não me encontro me escondendo,
Não me escondo me encontrando,
Neste ensinamento não aprendi a chorar,
Nem sofro por amar.
Meus olhos não vertem lágrimas
E converto sentimentos no fogo que se apaga
E nunca mais volta.
Só tenho medo da lembrança que se afaga
Nesta onda leve e solta
Levando-me para outras margens.
Estou esquecido e apagado.
Não existo, não existo.
Por isso falo e sou mudo.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 936 reads
Add comment
other contents of Alcantra
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Amor | Soma de poemas | 5 | 2.819 | 02/27/2018 - 12:09 | Portuguese | |
Poesia/General | Abismo em seu libré | 0 | 3.190 | 12/04/2012 - 00:35 | Portuguese | |
Poesia/General | Condado vermelho | 0 | 3.695 | 11/30/2012 - 22:57 | Portuguese | |
Poesia/General | Ois nos beijos | 1 | 2.683 | 11/23/2012 - 11:08 | Portuguese | |
Poesia/General | Dores ao relento | 0 | 3.020 | 11/13/2012 - 21:05 | Portuguese | |
Poesia/General | Memórias do norte | 1 | 2.124 | 11/10/2012 - 19:03 | Portuguese | |
Poesia/General | De vez tez cromo que espeta | 0 | 3.272 | 11/05/2012 - 15:01 | Portuguese | |
Poesia/General | Cacos de teus átomos | 0 | 2.568 | 10/29/2012 - 10:47 | Portuguese | |
Poesia/General | Corcovas nas ruas | 0 | 3.054 | 10/22/2012 - 11:58 | Portuguese | |
Poesia/General | Mademouselle | 0 | 2.436 | 10/08/2012 - 15:56 | Portuguese | |
Poesia/General | Semblantes do ontem | 0 | 2.261 | 10/04/2012 - 02:29 | Portuguese | |
Poesia/General | Extravio de si | 0 | 3.055 | 09/25/2012 - 16:10 | Portuguese | |
Poesia/General | Soprosos Mitos | 0 | 3.579 | 09/17/2012 - 22:54 | Portuguese | |
Poesia/General | La boheme | 0 | 3.309 | 09/10/2012 - 15:51 | Portuguese | |
Poesia/General | Mar da virgindade | 2 | 2.392 | 08/27/2012 - 16:26 | Portuguese | |
Poesia/General | Gatos-de-algália | 0 | 3.407 | 07/30/2012 - 16:16 | Portuguese | |
Poesia/General | Vidas de vidro num sutil beijo sem lábios | 2 | 2.544 | 07/23/2012 - 01:48 | Portuguese | |
Poesia/General | Vales do céu | 0 | 2.432 | 07/10/2012 - 11:48 | Portuguese | |
Poesia/General | Ana acorda | 1 | 2.853 | 06/28/2012 - 17:05 | Portuguese | |
Poesia/General | Prato das tardes de Bordô | 0 | 2.696 | 06/19/2012 - 17:00 | Portuguese | |
Poesia/General | Um sonho que se despe pela noite | 0 | 3.007 | 06/11/2012 - 14:11 | Portuguese | |
Poesia/General | Ave César! | 0 | 3.165 | 05/29/2012 - 18:54 | Portuguese | |
Poesia/General | Rodapés de Basiléia | 1 | 2.695 | 05/24/2012 - 03:29 | Portuguese | |
Poesia/General | As luzes falsas da noite | 0 | 3.048 | 05/14/2012 - 02:08 | Portuguese | |
Poesia/General | Noites com Caína | 0 | 2.536 | 04/24/2012 - 16:19 | Portuguese |
Comentarios
Re: Olhos apagados
Se os olhos se apagam e eu me escondo atrás da sombra e do sonho, onde fica o caminho onde estou esperando por mim? Abro-os e luto para lá chegar...
Mto bom
Abraço
Re: Olhos apagados
PENSO QUE O PERSONAGEM DO POEMA, ESTAR EM DÚVIDAS QUANTO A SUA EXISTÊNCIA; O MELHOR DE TUDO PARA ISSO, É ENCONTRAR RESPOSTAS, JUNTO AO SEU EU INTERIOR, MEDITANDO, FAZENDO REFLEXÕES; TENHO CERTEZA, ENCONTRARÁS RESPOSTA JUNTO A ESTE TEU MELHOR AMIGO, QUE É O SEU EU INTERIOR!
UM BELO POEMA, MEUS PARABÉNS,
MarneDulinski
Re: Olhos apagados
Fragmentos de outrora, quizás...desfragmentam a razão de viver!
Linda poesia e triste ao mesmo tempo.
Um abraço :-)
Re: Olhos apagados
Alcantra,
É a primeira vez que o leio.
...e gostei imenso quando cheguei ao fim...a sua luta interior é imensa e bem expressa nesta poesia...como eu o entendo, caro poeta...a luta, quase infinita, dos EU's...
1 beijo...vou voltar... ;-)