CASTIDADE DO SOL NO SER
Tento enganar
a inquietude escrevendo.
Pesando e repesando
a castidade do sol no meu ser.
A idade
que me sobra
é um ruído desconfortável,
suscitando confusões de pedra
por entre os cadáveres das árvores
que esmolam a cabeça do meu sono.
Dos pés
grito muralhas gordas
que envelhecem a embriaguez
da minha alma em cânhamo leigo.
Das mãos
sou escravo das crostas do meu rosto,
ladrilhado na torção dos dias que já não conto.
Triunfam cores fétidas
no espelho que me suspende
na sonolência baça desta minha carcaça.
Junto zeros
nas grades sulcadas
em cada gesto de fuga.
Quero desaparecer
no nome de coisa nenhuma.
Existir nas têmporas
imortais dos meus poemas,
sem que se calem as arcadas eternas
de uma alegria que me leve às fontes da vida.
Desato nós paranóicos,
cujo o olho da besta me faz prisioneiro
de um silêncio que caminha nos meus olhos.
Ocupando-me o olhar
em pensamentos de espinhos inextricáveis.
Permanecem agitações
de não ter nada no fervor do meu sangue.
O tempo estorva-se
a ele próprio saqueado
no meu sentir o imaginário
que não se come nem se bebe.
Alimentando
a fome com veneno
que rói e me apalpa o corpo
com remorsos penitentes no vento das noites.
Rejeito a vaidade
que me deixa sem boleia
numa estrada de pernas cortadas,
sem que nada me diga até onde ela me leva.
Não quero
desgastar-me em medos
na multidão que arranha o meu espaço.
Estreito infinito
na razão de ser dos relógios
que já não escuto na boca da luz,
que me engole e mastiga com o tédio
das mesmas esperanças mendigas de sempre.
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Comments
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
Henrique,
O homem feito autenticidade que se desnuda e rejeita a vaidade.
Como sempre, um excelente poema.
Beijo
Nanda
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
quando o desconsolo só amena, contudo não desaparecendo, na génese das letras pela mão do poeta.
mto bom
abraço
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
Fica a beleza das palavras para além da tristeza
Gostei muito, Henrique,
Abrao
Vóny Ferreira
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
Olá Henrique,
Muito bonito este poema! Gostei de ler... o medo e a nostalgia que assombra o poeta.
sublime
abraço
Helena
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
"Ocupando-me o olhar
em pensamentos de espinhos inextricáveis."
Deixas que voem, livres como tu, não presos!
Beijinho
Carla
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
Mas a inquietudo não se inquieta através da escrita, exalta-se... O tempo q nos trata como cão q não conhece o dono e se alimenta da mão q o sustenta roendo-lhe os ossos...
Adorei ler, como sempre...
Beijinho em ti
Inês
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
"Estreito infinito
na razão de ser dos relógios
que já não escuto na boca da luz,
que me engole e mastiga com o tédio
das mesmas esperanças mendigas de sempre."
Bela definição da castidade do sol em nós, Henrique!
Abraços, Robson!
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
LINDO POEMA, GOSTEI MUITO!
EM ENTRELINHAS, PARECE-ME QUE O POETA FALA COM SUA VOZ DO CORAÇÃO...
Meus parabéns,
Marne
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
O "pânico" causado, por a repentina
tomada de consciência, de uma realidade,
que é um presente, a caminho de
um futuro, por cuja qualidade
teme-se, transcrito, num
poema, belíssimo.
:-)
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
Olá Henrique,
"Quero desaparecer
no nome de coisa nenhuma"
A inquietação do poeta quando sente que a vida lhe escorre pelos dedos e se sente maravilhosamente bem numa simples folha de papel:)
Adorei ler-te!
Bjs
I