CASTIDADE DO SOL NO SER
Tento enganar
a inquietude escrevendo.
Pesando e repesando
a castidade do sol no meu ser.
A idade
que me sobra
é um ruído desconfortável,
suscitando confusões de pedra
por entre os cadáveres das árvores
que esmolam a cabeça do meu sono.
Dos pés
grito muralhas gordas
que envelhecem a embriaguez
da minha alma em cânhamo leigo.
Das mãos
sou escravo das crostas do meu rosto,
ladrilhado na torção dos dias que já não conto.
Triunfam cores fétidas
no espelho que me suspende
na sonolência baça desta minha carcaça.
Junto zeros
nas grades sulcadas
em cada gesto de fuga.
Quero desaparecer
no nome de coisa nenhuma.
Existir nas têmporas
imortais dos meus poemas,
sem que se calem as arcadas eternas
de uma alegria que me leve às fontes da vida.
Desato nós paranóicos,
cujo o olho da besta me faz prisioneiro
de um silêncio que caminha nos meus olhos.
Ocupando-me o olhar
em pensamentos de espinhos inextricáveis.
Permanecem agitações
de não ter nada no fervor do meu sangue.
O tempo estorva-se
a ele próprio saqueado
no meu sentir o imaginário
que não se come nem se bebe.
Alimentando
a fome com veneno
que rói e me apalpa o corpo
com remorsos penitentes no vento das noites.
Rejeito a vaidade
que me deixa sem boleia
numa estrada de pernas cortadas,
sem que nada me diga até onde ela me leva.
Não quero
desgastar-me em medos
na multidão que arranha o meu espaço.
Estreito infinito
na razão de ser dos relógios
que já não escuto na boca da luz,
que me engole e mastiga com o tédio
das mesmas esperanças mendigas de sempre.
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Comments
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
Gostei muito de ler, mas chamou-me a atenção em especial:
"Não quero
desgastar-me em medos
na multidão que arranha o meu espaço."
Nesse tempo que vivemos, estamos sendo atormentando por tantos medos que esquecemos de viver, sempre nos preocupando com as pessoas que nem conhecemos e estão querendo se apropriar de algo de nós, inclusive o nosso espaço.
Muito sufocante e inspirador.Bjs
Re: CASTIDADE DO SOL NO SER
Poema nostálgico...é mensagem de poeta!
"Quero desaparecer
no nome de coisa nenhuma."
bjo
:-)