COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Os dias,
poços sem fundo,
cores de segredo passeado
em branco cinzeiro enfarinhado.
Amores
deitados ao descanso,
promessas porta a porta
em magnete jaula do íntimo.
Beijos
acordados
em sinónimos oblíquos
a quem como nós deflagra o fogo.
Abraços
de belas e monstros,
géneses de olhares de adeus
perseguem a transpiração do corpo.
Céus
atados ao milagre,
nuvens de escuridão longínqua,
prados verdes de línguas guardanapo.
Ovos
de pesadelos nocturnos,
sementes desenterradas diurno,
lagares de anel imaginário em Saturno.
Vozes
em ventos delirantes,
simpáticos vizinhos errantes,
côdeas de pão cobiçado entre as pernas.
Nas cearas
do tempo arrependido
ondulam conversas de cotovelo,
teores pediátricos de óbitos lentos.
Números,
vidas salvas a dois,
multidões feitas de publicidade,
visões estrábicas sugam mamilos vazios.
Gritar,
curas de incêndio,
idades urinadas em eco adulto,
lampadários de salto alto agonizado.
Zumbidos,
flashs de enxaquecas,
luzes refilam-se fazer ouvir
canecas de sedes abotoadas à goela.
Pensares
de joelhos saloios,
olhos tentacularmente soslaios
numa foice que foi-se em erva-do-amor.
Sorrisos,
cemitérios de pó,
invulneráveis provérbios
das rugas onde se esquinam lágrimas.
Acontecer,
amanhãs eclodem em nós
gémeos do extermínio dos deuses,
caminhantes de arco-íris robotizado.
Ardósias,
pandemia de poesias,
profetas sazonais do medo
como se não houvesse amanhã.
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Comments
Re: COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Inconfundível, numa ânsia de acontecer "Como se não houvesse amanhã"
Fantástico, Henrique
Abraço
COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ p/antonioduarte
Obrigado...
Suas palavras, vindas de alguém de quem aprecio os seus escritos, encheram-me de honra!!!
Abraço amigo!!!
:-)
Re: COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Parabéns. Adorei ler-te.
Como se não houvesse amanhã foi, para mim um choque de tremenda inspiração onde o som de uma lágrima ruge dentro do meu peito, como se, algo, deflagrasse o fogo dos corpos atados no mesmo milagre; que, emanas na perfeição de géneses e olhares de adeus; que perseguem a respiração dos céus, sugados por línguas de guardanapos, com visões estrábicas de mamilos vazios, ou, secos de idades urinadas em eco adulto.
Simplesmente foi o que é: Um espectáculo. Parabéns.
Re: COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
És daqueles poetas que me fazem esquecer o amanhã de facto. Porque só consigo ler o momento do verso a verso até ao fim... e ainda assim tenho de regressar ao inicio por vontade de ter na pele da mente esse eriçar enlevado das imagens que os signos provocam...
Uma admiração de uma alma poetisa por um mago da poesia...um filho pródigo do acto poemático.
Re: COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Grande poeta...
teus poemas são inspiradores
Divinos!!!
Re: COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Mais um belo momento de poesia! Extraordinário!!! Adorei!!! Abraços
Re: COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Do princípo ao fim, Henrique...
A sua escrita é única :-)
Abraço