Os contos de fadas não são feitos para acordar no dia seguinte...
Contou os passos q percorrera entre a fonte dos seus sonhos e o muro da sua razão, ainda via as pegadas marcadas na lama...
O percurso durara vinte e dois, míseros mas longos, passos...Pouco mais q quatro mãos cheias de dedos, marcavam a diferença entre o real e um imaginário q acreditara cegamente...
Olhando o decalque dos seus pés, num gesso lamacento e moldável, reflectia, apática... Quase podia jurar q tinha segurado, tocado, abraçado, beijado até, aquela realidade fictícia por diversas vezes... Como era possível q tivesse amado uma miragem, sem toque, sem cheiro, sem gosto? Seria a sua imaginação assim tão pródiga? Tão fértil? Tão cruel?
A pouco e pouco as pegadas começavam a desaparecer, entre memorias q a alma magoada já não conseguia reter mais tempo...
O cansaço impedia-a de exercitar o esforço mental de viver de recordações q nem foram palpáveis sequer...
Já passara a idade de treinar beijos com o espelho, precisava de sentir retorno do outro lado, calor de lábios, urgência de línguas...
Clamou, tanto tempo, pela saciedade e a tranquilidade quase dolorosa de sentir cada pigmento daquela ficção...
Mas a ficção nem se revelou cientifica sequer, talvez empírica, talvez espiritual, talvez insanidade apenas, talvez nem chegara a ser definível...
Não conseguia entender onde está a beleza de contemplar uma fonte e ficar ali a morrer à sede, sem mergulhar de cabeça na frescura plena de a beber sofregamente com uma entrega humilde e apaixonada...
Não, não sabia contemplar ao longe, esse prazer mórbido sabia-lhe a uma estupidez masoquista q não lhe trazia prazer algum...
Quem quer sonhar contos de fadas? Quando se pode viver a realidade tão rente à nossa pele?
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 1032 reads
Add comment
other contents of Librisscriptaest
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Não se morre duas vezes... | 0 | 1.244 | 09/04/2011 - 09:35 | Portuguese | |
Poesia/General | O mel do masoquismo... | 0 | 1.297 | 08/31/2011 - 09:10 | Portuguese | |
Poesia/General | O berço do sonho... | 1 | 959 | 08/26/2011 - 10:19 | Portuguese | |
Prosas/Others | A queda dos anjos... | 0 | 1.531 | 08/02/2011 - 11:48 | Portuguese | |
Prosas/Others | A lenda da espera... | 0 | 1.495 | 07/25/2011 - 10:04 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | A teoria das cordas... | 2 | 1.192 | 07/24/2011 - 19:46 | Portuguese | |
Poesia/General | Vidro moído... | 0 | 1.440 | 07/24/2011 - 10:37 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Heritage... | 2 | 1.120 | 07/14/2011 - 18:59 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | O cronómetro... | 1 | 967 | 07/12/2011 - 16:23 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Se Strauss fosse bucólico... | 0 | 966 | 07/11/2011 - 09:53 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Escombros no luar dos dias... | 1 | 983 | 06/21/2011 - 17:08 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Os ninhos das garças... | 0 | 934 | 05/11/2011 - 23:04 | Portuguese | |
Poesia/Love | O sussurro das colheres... | 1 | 1.177 | 05/05/2011 - 11:17 | Portuguese | |
Prosas/Tristeza | Pobre Manta de Retalhos... | 0 | 1.455 | 05/05/2011 - 11:07 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | A fábula da bela adormecida e da cobra... | 5 | 2.101 | 04/22/2011 - 12:30 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Meus senhores, silêncio, por favor... | 2 | 1.689 | 04/10/2011 - 12:02 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Sede... | 4 | 3.302 | 03/29/2011 - 12:13 | Portuguese | |
Poesia/Love | Circulo Perfeito... | 5 | 1.429 | 03/16/2011 - 16:03 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Hipotermia... | 3 | 1.120 | 03/10/2011 - 20:16 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Genesis... | 1 | 1.007 | 03/07/2011 - 18:31 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | SohnoS... | 1 | 1.097 | 02/28/2011 - 22:33 | Portuguese | |
Poesia/Love | (Des)Encontro... | 4 | 1.631 | 02/24/2011 - 16:46 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | ... | 0 | 1.958 | 02/19/2011 - 14:43 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Acluofobia... | 2 | 1.517 | 02/17/2011 - 16:13 | Portuguese | |
Poesia/General | Glândulas sudorí(feras?)... | 2 | 1.592 | 02/11/2011 - 10:15 | Portuguese |
Comments
Re: Os contos de fadas não são feitos para acordar no dia...
Excelente escrito, onde as fadas rasam pelos rebordos da terra e ocasionalmente embatem num ou outro obstáculo...
Mas o sonho comanda a vida, sempre.
adorei
bjos
Re: Os contos de fadas não são feitos para acordar no dia...
Libri,
Seu texto nos abre a mente para a vida de muitos onde a própria realidade vivida parece escrito por um conto de fadas.
Mas gosto de pensar que podemos viver nos dois.
Adorei esta envolvente e no tamanho certo.
Bjs. :-)
Re: Os contos de fadas não são feitos para acordar no dia...
Inês,
Gostei imenso de ler-te. Tens uma facilidade de narração cativante e envolvente.
Beijos
Re: Os contos de fadas não são feitos para acordar no dia...
Librisscriptaest;
Esta é a minha revolta com esta rubrica " Prosa".
È incrivel a quantidade de bons textos, alguns deles seguros e bem construidos, que mereciam uma maior atenção.
Mas bem...Dou por bem entregue Ler-te.
Especialmente belo e seguro, cativante e idilico.
Ressalvo esse excelente momento:
Não, não sabia contemplar ao longe, esse prazer mórbido sabia-lhe a uma estupidez masoquista q não lhe trazia prazer algum...
São daquelas passagens que permanece em nós após a leitura
Gostei bastante.