DEUS INFELIZ

Infeliz,
revelo-me à deriva
nas conversas com Deus.

Ele para mim é surdo,
um absurdo mouco,
uma paródia muda,
abstracta.

Tem Ele sido um escuro,
uma cegueira intacta,
uma fogueira de perguntas
sem resposta,
uma aposta perdida.

Insólito,
ausente inadaptado,
uma quietude desafiante,
um não constante.

Intelectual,
interpretações não veneradas,
acções envenenadas,
trágica alternância de eternidade.

Neurótico,
artificialmente gótico,
esgotado,
anacrónico rito simbólico.

Crucificado,
também Ele pecado,
titã dos céus misantropos.

Alma física,
corpo sem trajectória,
ociosidade de uma história
em vão,
alçapão sem chave.

Sábio escrito,
paradoxal desentendido,
contenção elaborada medo,
ferramenta sem cabo.

Infeliz.